Rádio Grilo
Na Rádio Grilo, somos todos apaixonados pelo mundo outdoor. Todas as terças-feiras, trazemos histórias autênticas de atletas, viajantes, fotógrafos e filmmakers que compartilham diferentes perspectivas sobre essa paixão. Apresentado por João Agapito.
Rádio Grilo
#01 Jordana Agapito: Escalada, Espiritualidade e Representatividade Feminina
A Jordana Agapito é escaladora profissional e uma das mais importantes da história do Brasil.
Ela fez história ao se tornar a primeira mulher da América Latina a escalar um boulder V12 (Kalunga, 2015). Em 2023, conquistou o prêmio Mosquetão de Ouro com seu segundo V12 (Bonito por Natureza) – que virou filme premiado no Rio Mountain Festival. Em 2024, alcançou mais um marco ao se tornar a primeira brasileira a encadenar uma via 11a (Gigante pela Natureza).
Além de suas conquistas esportivas, ela atua como uma importante voz para a escalada feminina no Brasil, participando de projetos como o @rochasubstantivofeminino.
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João Agapito (00:00)
Fala galera, sejam muito bem vindos a Rádio Grilo. A conversa hoje é com a Jordana Agapito, escaladora profissional e uma das mais importantes da história do Brasil. Ela fez história 2015 ao se tornar a primeira mulher da América Latina a escalar Boulder V12. 2023 ela conquistou o prêmio Mosquetão de Ouro com seu segundo V12, o Bonito por Natureza, que virou até filme premiado. E agora...
2024 ela alcançou mais marco ao se tornar a primeira brasileira a encadenar uma via 11A, a gigante pela natureza. Além de suas conquistas esportivas, ela atua como uma importante voz para a escalada feminina no Brasil e nesse papo a gente vai falar sobre tudo isso e muito mais. Bora lá?
João Agapito (01:16)
Então, começar com o pé direito, mas eu estava com inveja, tá? Vendo as fotos da Patagônia.
Jordana Agapito (01:21)
Surreal, Tem que ir. Tem que ir. Deixa eu te
falar, Patagônia é muito surreal. É uma energia que é difícil explicar, sabe? E é lugar muito... Ai, que respira também a escalada, né? Cultura de montanha. Então, pra mim, é sonho, assim. Patagônia é... Tem que ir, tem que ir, sabe?
João Agapito (01:43)
Nossa, é incrível. E você ficou quanto tempo lá?
Jordana Agapito (01:46)
Agora eu fiquei três semanas.
João Agapito (01:47)
E você ficou na região dos lagos, mais ou imagino. Você chegou aí para Euchatem, ficou ali? Não.
Jordana Agapito (01:53)
Não, dessa vez
não. Eu fiquei só num pico de escalada esportiva que chama Vale Encantado, aquele rio azul maravilhoso que você viu. Fiquei só escalando nesse lugar especificamente, explorei esse lugar, sabe? Então eu fiquei num camping que perto do pico de escalada e ia escalar. E todo dia para escalar tem que atravessar o rio de bote, é toda uma aventura, Bem legal. Só fiquei por ali dessa vez.
João Agapito (02:08)
Entendi.
Nossa!
E deu pra trabalhar nos projetos bacanas lá?
Jordana Agapito (02:21)
Deu, O pico é bem diferente do que eu estou acostumada, assim. Então é estilo de escalada bem diferente, de umas agarras muito de mão aberta, muito pocket, assim, de bideto, trideto, monodeto. Umas vias muito contínuas, assim, é totalmente o meu, fora do meu estilo, fora do que eu estou acostumada, assim. Mas eu falo que a gente vai sempre para Patagônia para engrossar o couro, né?
Então, deu pra trabalhar, mas agora eu quero voltar, agora que eu já entendi o lugar, porque escalado é assim também, né, você demora a entender o lugar. Você chega lá, entende onde estão as linhas, o que você gostaria de escalar, onde está o sol, onde está a sombra, qual que é o estilo, e aí escolhe determinados projetos. Então, pra performar, exige tempo, sabe?
João Agapito (03:06)
Sim, e aí como você falou, são muitos fatores, Você está outro país, pessoas que falam outra língua, outro estilo de rocha, né? Temperatura, comida. Nossa, inclusive, você teve problema com Você estava tomando água da torneira lá? Como é que foi? Não deu nada?
Jordana Agapito (03:22)
Lava.
Não.
João Agapito (03:26)
Nossa,
então, bom, estava lá com esses argentinos e disseram assim, não, aqui o negócio é seguinte, pode tomar água da torneira porque é a água mais pura do mundo que vem lá do pico, das montanhas, não sei o que, eu beleza, tomei essa água da torneira, eu fiquei uma semana, nossa, terrível, só comendo bolacha de aguissau e banana. Mas talvez seja uma coisa pessoal, não sei. Essa resistência com água.
Jordana Agapito (03:45)
passou mal?
É...
João Agapito (03:53)
Nossa, mas passar mal de água é ruim demais, viu? Já passou?
Jordana Agapito (03:53)
É... Eu... É ruim, é ruim. Você acredita que não? E eu viajo pra caramba, assim, eu tomo umas águas aí que não têm muita procedência. E nunca deu nada, assim, mas eu tomo vermice, uma vez por ano, eu faço. Tem que tomar. Porque a gente viaja pra caramba,
João Agapito (04:10)
Entendi.
Sim, é, que bom que você nunca passa quer dizer que sua estômago é mais forte, né?
Jordana Agapito (04:17)
Deixa
João Agapito (04:19)
Bom, conversando com você, tem que falar sobre escalada. Você começou quando? 2012?
Jordana Agapito (04:24)
2012. 2012. Eu já tinha 23 para 24 anos nessa época, ou seja, eu não comecei na escalada jovem. E foi por acaso, assim. Eu estava num momento de busca também, de procurar uma coisa, sei lá, esporte ilegal que me fizesse querer mais, me fizesse movimentar minha energia, assim. E eu vi uma foto de uma mulher escalando na internet. Assim. E aí eu falei, cara...
Eu quero fazer isso. Como é que faz para fazer isso? Imagina, Goiânia, há 13 anos atrás, zero cultura de montanha. A gente nem vê montanha, que aqui é o Planalto Central. Então, eu não sabia, eu não tinha noção do que era escalada. E aí eu fui procurar na internet, Google, eu joguei no Google, a Academia Escalada Goiânia. E aí apareceram duas na época, e eu fui na que era mais próxima da minha casa. Eu liguei, aí o Rogério atendeu, o Rogério que é o dono dessa academia, que, enfim, é meu segundo pai.
Aí ele falou, vem aí fazer uma aula pra você ver como é que é. Aí eu fui. Eu fui e aí eu saí de lá enlouquecida. Eu saí de lá sonhando com as agarras, assim. Só que naquela época, escalar na rocha pra mim era uma coisa que só a profissional podia fazer. Imagina, escalar na rocha. Tipo, é engraçado falar isso hoje, mas era o que que é isso? Era tipo, a pessoa sobe o pão de açúcar, meu Deus. E aí, depois de mês que eu tava escalando no ginásio, mais ou menos, grande amigo meu também, Alexandre,
Ele me viu e falou assim, você precisa ir para Cocalzinho. Aí eu falei, que Cocalzinho? falou, escalar na rocha, Cocalzinho, Boulder. É aqui perto, Pernópolis. Eu falei, tem isso? Tem como? Aí ele me levou pela primeira vez Cocal. É esse pico de escalada que a gente tem aqui. Eu moro Medio Goiânia, que a gente chama de Cocal, mas que é o parque estadual dos Pirineus, que está entre essas duas cidades, que Cocalzinho e Pernópolis. E tem, é o maior pico de Boulder do Brasil, que sai da América Latina, assim.
É pico muito importante, bem desenvolvido já. E aí eu comecei a escalar lá, ele me levou pela primeira vez pra escalar na rocha nesse lugar.
João Agapito (06:27)
Que massa! assim, eu acho que talvez uma boa parte das pessoas que estão nos ouvindo não estejam familiarizadas com termos de escalada. a vai falar aqui sobre Boulder, via esportiva. Você consegue assim, brevemente, só diferenciar, explicar pouco sobre as duas?
Jordana Agapito (06:46)
Sim, são modalidades, São três grandes modalidades, assim. É o boulder, que é uma escalada bem mais esportiva, que a gente escala pedras mais baixas. Não é com corda, então a gente usa como equipamento de proteção os crash pads que a gente coloca no chão. Então são umas pedras de 6 metros, mais pouco, às vezes a gente chama de high ball, que é uma outra coisa, mas a queda é no chão, né? E aí depois a vai para a escalada esportiva, que já é com corda.
Então a gente vai escalar via de 30 metros, mas bem esportivo também, concorda, e depois a gente vai para as paredes, para tradicional, que a vai para o pão de açúcar, vai para uma tradicional tipo xauten, que já é montanha. Porque a escalada veio do alpinismo, veio dos Alpes, ela veio da galera falar, eu quero chegar no cume daquela montanha, então venho daí. E depois veio se transformando de maneira mais esportiva, até chegar no boulder hoje.
João Agapito (07:43)
Sim, é bacana, bom, que você mencionou o Cocal. Assim, Cocal não vai ter montanha, porque como você disse, a gente está no Planado Central, mas termos de diversidade, para quem gosta de boulder, para quem gosta de via esportiva, tem o Morro do Macaco. Então, assim, tem infinitas opções.
Jordana Agapito (08:00)
Exatamente. Acho que uma vida é difícil zerar tudo aqui. Tem bastante coisa.
João Agapito (08:05)
Nossa,
você vem tentando há bastante tempo. Você ainda tem algum, assim, algum projeto grande Cocal?
Jordana Agapito (08:12)
Olha, agora é hora de procurar isso de novo, porque as linhas que eu gostaria muito de fazer na minha vida eu consegui. E aí, claro, tem muita coisa para fazer, mas vai ser o que eu elegei de novo como projeto. Então, eleger projeto eu sempre falo que eu elejo ele com o coração também, ou ele me escolhe também às vezes.
São muitos anos escalando no mesmo lugar, então eu quero explorar outras coisas no Brasil também, mas casa sempre tem alguma coisa. casa sempre abre uma nova porta. E é muito legal isso. nossa, esse bode nunca tinha chamado tanta atenção e aí você volta para aquilo e começa a projetar. Então é grande xadrez, é uma grande brincadeira que as coisas vão aparecendo, vão surgindo. E nos dois últimos anos eu escalei bastante via, eu escalei bastante no Morro do Macaco porque
João Agapito (09:00)
Sim.
Jordana Agapito (09:08)
Meu projeto era projeto de via.
João Agapito (09:10)
Então, falando sobre projetos, você começou na escalada 2012. Já 2015, ou seja, três anos depois, você mandou V12. Quando eu falo assim, mandar, mandar significa você fazer, começar lá... Não começar do começo, mas você sair lá de baixo, de onde é indicado e terminar. Só explicando, só tentando ser pouco mais generalista com os termos.
Jordana Agapito (09:34)
Isso!
A cadena é você sair do chão e virar o boulder sem cair. Isso é a cadena.
João Agapito (09:38)
Mas enfim... É...
cadena boa então
assim três anos você saiu do v0 pro v12 como assim qualquer fórmula como que faz
Jordana Agapito (09:55)
É... Então, é porque bem complexo esse assunto, eu falo bastante disso no filme. Mas o que que rola? O grau, a graduação, ela acaba que é parâmetro, certo? É parâmetro de dificuldade, mas a escalada é extremamente subjetiva. Então, quando a gente vai falar de grau e de estilo de escalada e do que você tem facilidade, é uma infinidade de coisas, tipo...
o tamanho das agarras, o tipo de agarra, o seu tamanho, a distância das agarras do boulder, a inclinação, o tipo de rocha. Então, tem muitos e inúmeros fatores que determinam o grau e determinam o que vai ser fácil para mim ou para você, o que a gente vai fazer facilidade ou dificuldade. Acontece que, enfim, desde o momento que eu comecei a escalar, eu falo assim, eu comi pedra, Eu saía sexta-feira lá do trabalho na BR Malls.
e já escalava sexta-feira de madrugada, sábado, domingo, academia, e fiquei muito fanática. E esse boulder foi boulder que foi presente para mim mesmo. Eu me encaixei muito naquele estilo de escalada. Isso não quer dizer que eu mandava ver 12 com 3 anos de escalada. Não é isso. Você encadenar boulder, uma via daquele grau específico, não quer dizer que você domina aquele grau, entende? Então é bem mais complexo que isso.
João Agapito (11:12)
Totalmente.
Jordana Agapito (11:14)
E essa linha foi uma linha que aconteceu por acaso. Eu estava ali escalando com os amigos e tinha essa linha de cima pouco, que era V7. E aí eu estava lá com amigo meu que estava tentando de baixo e aí eu fiz muito rápido de cima. Aí ele olhou para mim falou assim, ué, por que você não tenta de baixo? Aí eu falei, por que V12? E não vai dar? Aí ele falou, vai que você se encaixa. E eu não entendi muito bem isso na escalada. E aí eu comecei a malhar o boulder.
E aí, belo dia, rolou. Então era boulder super encaixado pra mim, com agarras pequenas. Foi bem meu estilo na época. E rolou, aconteceu. Eu não estava esperando aquilo. A gente não estava esperando a repercussão que ia ser o primeiro V12 feminino no Brasil. E aí rolou toda essa coisa, sabe? Foi momento muito difícil pra mim na escalada, porque eu não entendia muito bem nada disso, o ego.
como que as pessoas lidavam com grau. E aí depois eu tive as minhas lições de humildade, Que eu tive que realmente aprender a escalar para poder fazer a minha base. E aí sim, seis anos depois, eu mandei outro V12.
João Agapito (12:25)
É isso, até mesmo no seu filme, que você comenta quando você tava nos Estados Unidos e depois de ter mandado o primeiro V12 nessa euforia e e aí chegou lá e você não conseguia fazer bolo de graduação, ver sei lá, dois, três, Então deve ter sido choque, né?
Jordana Agapito (12:41)
num pico totalmente
diferente que eu o CMT, que não tem a garra, que é uma escalada de aresta, estava quente, era verão. Eu não tinha aquele repertório, entende? A escalada é muito sobre repertório, é muito diferente de você escalar aqui no quartesito, eu que só sabia escalar aqui, e você escalar no granito, numa rocha completamente diferente. Então é muito multidisciplinar. E aí ao longo desse tempo todo eu fui construindo, porque eu viajei bastante, então...
A escalada pra mim sempre foi isso, sempre foi sobre aprender. Então, existe ainda hoje, 13 anos depois, eu saí de uma session e senti assim, não aprendi nada. Eu sempre aprendo alguma coisa. Isso é muito louco. Então isso foi o que me manteve e é o que mantem minha chama viva na escalada até hoje, sem dúvida.
João Agapito (13:26)
Que massa, é mindset muito de vencedor, de vencedora. Tanto é que você é uma. Então, a gente está falando aqui de graduação e talvez para deixar isso pouco mais apalpável. Vamos supor, uma pessoa, cara faz academia, cinco anos, toma whey protein e E aí, ele não, vou escalar. Nunca escalou na vida. Se ele for para cocaozinho hoje, você acha que esse cara faz bolder assim? Qual graduação?
Jordana Agapito (13:54)
V zero.
João Agapito (13:56)
Ahahahahahh
Jordana Agapito (13:57)
vai conseguir escalar alguma coisa ou outra, assim, é muito específico, Porque exige movimentação, exige muito movimentação de pés, exige pouco de... pouco não, bastante força nas mãos, é uma conexão do corpo todo, então a pessoa vai ser forte, mas ela não vai saber se movimentar na rocha. Então, movimentação na rocha é uma coisa assim, bem diferente do que só ser forte, sabe? Então, fala que a escalada não é só força, é técnica e tá muito aqui também.
João Agapito (14:27)
Não, e assim, eu acho escalado o esporte dos que eu conheço e que tem algum contato, é esporte mais técnico. É esporte tão... Porque ele existe, como você disse, movimentação de consciência corporal, força nos braços, tem mental bizarro, também jogo de perna. É tanta coisa envolvida ali, espaço de dois minutos, a gente está falando de boulder, por exemplo. Eu acho fascinante, eu acho incrível ver pessoas...
consegue atingir o alto nível no esporte. De verdade.
Jordana Agapito (15:01)
É muita dedicação, tem que gostar muito. A gente vai falar sobre cada movimento específico, você vai girar pouco seu quadril para dentro, naquele move, e aí você vai conseguir fazer. E aí a gente vai estudar o boulder inteiro, ou estudar a via toda, quando gente está falando de performance, para conseguir encadenar. É xadrez maravilhoso, eu amo.
João Agapito (15:20)
Sim.
é justamente. Eu acho esporte muito inteligente. Entra também essa parte da leitura. Você tem que fazer essa leitura prévia, você disse, estudável. Porque se você está ali fazendo boulder que exige muita força, muita concentração, você não pode despender seu tempo pensando no que você vai fazer naquele momento. Você tem que pensar antes. Tem que fazer toda a coordenação, o xadrez mental antes.
Jordana Agapito (15:25)
Sim.
Sim.
parte da visualização. E também quando você está escalando eu falo que é uma meditação ativa, muito meditativa, porque no momento que você pensa outra coisa, foi. Se a sua cabeça te desviar daquilo, já era. Então são breves momentos que você está ali muito concentrado só no próximo movimento, onde meu pé vai, onde minha mão vai, meu corpo e não dá pra pensar outra coisa. É a cabeça muito limpa, sabe?
João Agapito (16:15)
Sim. E bom, aí a gente está falando aqui que você começou na escala e ficou aficionada, queria só comer pedra, como você mesmo disse. E aí chegou o momento que você falou assim, bom, você tinha o seu trabalho, que inclusive a gente trabalhava na mesma empresa, você tinha uma posição muito boa, era uma empresa muito grande, então assim, bastante responsabilidade. E, imagino que, por consequência, também muito estressante, né?
E aí você decidiu falar, quer saber bicho, vou tirar ano sabático aqui e tal, Como é que foi isso?
Jordana Agapito (16:47)
É que olhando assim, a gente resume muito, mas nossa, foi processo duro, foi processo duro decidir pedir essa demissão, foi processo duro aceitar que talvez aquilo lá não era para mim, que eu tinha estudado tanto tempo, que eu tinha me dedicado, que eu estava numa empresa massa com salário legal, que muita gente queria estar ocupando aquele posto e aquilo ali não era para mim. Então eu demorei a digerir isso, mas eu queria muito viver a escalada.
viver a escalada, era isso que eu falava assim na época. O que você quer fazer? Sei lá, eu quero viver a escalada, eu quero escalar qualquer coisa. Todos os tipos de rochas, eu posso ir para a Serra do Cipó ou para o Canadá, entende? E aí eu juntei uma grana, porque aí é isso, né? Eu quis fazer ali ter a minha segurança para eu conseguir ir pedir demissão, e aí na minha cabeça eu falei, tá, eu vou tirar o famoso ano sabático. É ano só, eu vou ter grana, posso fazer o que eu quiser, tá. E aí eu fui lá e pedi demissão.
que acontece? Depois de ano, aí que eu comecei a viver.
João Agapito (17:48)
E assim, você estava morando numa van, né, nos Estados Unidos.
Jordana Agapito (17:51)
E eu ainda nem tinha chegado aí nesse patamar. Porque o meu ano na van foi no terceiro ano que eu estava fora do mercado. Então no primeiro ano eu pedi demissão sem saber o que eu ia fazer. E aí é muito louco, eu falava muito com a vida, muito com o universo, muito com Deus, para me trazer as oportunidades que eu precisava e que eu queria naquele momento. Então eu não sabia nem o que eu fazia com o meu tempo, porque era tanto tempo que eu tinha disponível.
E aí eu fui reaprender a viver. São muitas camadas quando a gente fala, saí do emprego e fui viver o meu ano sabático, sabe? E aí eu tava na academia de escalada aqui Goiânia e amigo meu me chega e fala assim, então, eu tenho convite pra te fazer, eu acho que você não vai aceitar, mas vou fazer mesmo assim. É o seguinte, a gente tá indo pra Patagônia, com tudo pago, é grupo de nove homens, a gente vai filmar documentário de Highline escalada e aí...
tem uma vaga e a gente precisava de alguém que escala. Aí eu resolvi se chamar você. Mas assim, é difícil, né? Eu sei que você não vai aceitar, são nove homens. Eu falei, deixa eu te falar, eu acabei de pedir demissão. Essa vaga é minha. Aí ele falou, não, você de sacanagem. Aí eu falei, sim, foi. E aí essa foi a primeira trip que eu fiz. Quando eu, início ali do meu ano sabático. Aí eu fui pra Patagonia passar três meses com essa galera, eram dez pessoas.
João Agapito (18:58)
Que isso, o alinhamento dos astros.
Jordana Agapito (19:12)
escalando e os meninos andando de highline e abrindo highline na época. E a partir daí meu mundo abriu, né? Aí eu fui para a Rocklands, fui escalar na África do Sul, pico de boulder super famoso, escalei no Brasil bastante assim, até escalei muito antes de ir para a Patagônia, porque eu tinha experiência zero com vias esportivas de procedimento e tal. Chamei uma grande amiga minha para me ajudar, que é a Gláucia Braim. Aí a gente foi para o Rio de Janeiro, fizemos algumas montanhas, enfim.
e aí surgiu a oportunidade de ir para os Estados Unidos. Aí sim, no terceiro ano que eu já estava fora do mercado, que eu já estava trampando fazendo bico, fazendo várias coisas diferentes, e eu não queria voltar de jeito nenhum. E aí eu fui na época com patrocinador que tinha uma...
João Agapito (19:44)
e
Jordana Agapito (19:58)
produtora de vídeo, ele deu uma grande inicial ali que deu pra comprar passagem, avan, e aí eu produzia uns conteúdos de internet e tudo, e aí sim, aí rolou.
João Agapito (20:09)
Nossa, então eu perdi, porque eu pensei que bom, eu sabia das trips que você tinha feito aí, essa expedição para Patagônia, para a África do Sul, mas eu pensei que os sabáticos, os três anos tinham sido só nos Estados Unidos. Entendi.
Jordana Agapito (20:23)
Não. Eu fiquei ano nos Estados Unidos, na verdade.
João Agapito (20:28)
Mas nesses três anos, como você disse, o propósito era sair do ambiente corporativo para viver a escalada. Você viveu de fato a escalada nesses três anos.
Jordana Agapito (20:38)
Eu vivi de fato.
Eu vivi de fato. todos os lugares que eu fui, com a pouca experiência que eu tinha, porque é isso, escalada demora você construir uma experiência assim, esporte complexo. Eu vivi. Vivi muito.
João Agapito (20:52)
E assim, eu acho que... Acho não, né? dos pontos que mais me fascina sobre a escalada, assim, é que é esporte que te proporciona conhecer lugares incríveis, né? Enfim, todas as que a gente mencionou aqui, tirar o fôlego. Mas teve algum, assim, especial que te marcou?
Jordana Agapito (21:12)
Olha, tem alguns, Porque isso também é uma coisa que me prendeu na escalada, porque eu digo que os lugares que a gente acessa escalando são como portais para mim, Falando de espiritualidade pouco, estar naquele lugar ali, para mim, não é só sobre estar ali escalando, É sobre estar recebendo todas as energias, sobre a permissão de estar ali, sabe? E cada lugar é muito diferente do outro.
Mas tem alguns lugares, deles é o Iocente, de fato. Eu digo que todo escalador, toda escaladora merece ir no Iocente, aquele lugar respira escalada, dá pra entender porque as pessoas largam tudo e ficam ali só escalando. Então é energia muito, muito... É a Meca, É lugar muito, muito, muito diferente. Então o Iocente...
João Agapito (21:57)
É a meca da escalada,
Jordana Agapito (22:05)
Patagônia, não tem como não falar da Patagônia. O meu próprio lugar de escalada aqui que é Cocalzinho, que eu tenho uma conexão muito profunda com esse lugar. Então, alguns lugares que eu já visitei, e... Porra, o Brasil também, Bahia ali, Tatinha, aquela cadeia de montanhas, muitos, muitos lugares, é difícil falar.
João Agapito (22:28)
Nossa,
isso aí é objetivo de vida, viu? Perguntar assim o lugar que te marcou. Puta, todos, não sei. Todos são incríveis.
Jordana Agapito (22:35)
Cada
traz uma coisa diferente, traz o que a gente está precisando ali naquele momento também, o que a gente está precisando aprender.
João Agapito (22:39)
Sim.
Sim. E bom, você falou do ponto da espiritualidade, eu acho que é muito bacana. Principalmente, assim, falando sobre o filme, Antes de mais nada, meus parabéns pra você, pra quem produziu, porque, tipo, assim, não sou crítico de vídeo, de filme, mas eu assisto bons vídeos de escalada, tipo, pessoal da Mellow, da Wed Climbing, então, assim, eu acho que eu tenho parâmetro ok, e eu achei aquele vídeo...
ser eu simplesmente incrível assim patamar desses gringos então parabéns e aí é assim eu achei massa que vocês contam a história por trás do de sempre do do do boulder né assim da escalada a ela mesma no sentido de que se você for parar para pensar é no meio que tipo parece negócio que não é tão grande
sei lá, vou escalar uma pedra aqui, fazer dez movimentos, saio de baixo e termino lá cima. Mas aí você traz toda essa história. Porque a primeira vez que você tinha entrado naquele boulder tinha sido seis anos antes de quando você de fato fez. E eu acho que isso... Isso demonstra a forma como a escalada é esporte muito...
espiritual mesmo, porque 95 % do tempo você está errando. Você está tentando, rasgando sua mão, trabalhando com frustração e aí, no seu caso, depois de seis anos você conseguiu mandar. Então, é mais sobre o processo.
Jordana Agapito (24:01)
Sim.
Sim, sem dúvida. Obrigada aí pelo filme, pelas palavras. A gente está muito feliz com o resultado. O Alan Chivas, é o diretor desse filme, é escalador também. E ele me convidou para fazer o filme para a na verdade, documentar o bonito por natureza. Que foi esse V12 que eu encadenei e eu acabei ganhando prêmio, foi o Mosquetão de Ouro. E ele falou, Jordan, a gente precisa documentar isso de uma maneira mais profissional. E aí eu até falei isso para ele na época. Eu falei, Alan, eu não quero.
Não quero mais falar desse bodo, já estou outro momento, já estou malhando a via. Ele deu uma insistida, falou muito sobre como também os brasileiros, nós, maltrata as nossas memórias e aqui fazendo dele, as palavras dele, as minhas. Então, muitas vezes a gente vê muita coisa gringa e tal, mas e nós, né? E nós aqui. Então, ele com olhar muito sensível, a gente conversou muito. E aí, acabou sendo filme que não é sobre a cadena, é sobre o processo inteiro.
Entende? Que é o que você falou. Porque assim, eu vejo a escalada com muita profundidade. Quando eu vou falar de escalada, eu não falo só de encadenar uma linha, eu não falo só de performance, apesar de eu ser uma pessoa que sempre buscou a performance. Eu sempre busquei evoluir e a performance é uma consequência. Então é todo processo por trás disso, entende? É toda uma construção. É como a gente busca, é como a gente lida com esse esporte. E eu acho que é muito mais profundo que só falar, mandei V12, sabe?
João Agapito (25:39)
Eu também acho, e assim, de novo, vocês conseguiram trazer essa profundidade para o documentário, eu achei incrível. Porque você, é assim, eu não tenho a pachorra de me chamar de escalador, mas eu sou entusiasta, eu gosto, então eu entendo a profundidade que tem. Mas para uma pessoa que não sabe o é escalador, assiste aquele documentário, ela consegue ter uma noção do que aquilo representa.
Jordana Agapito (25:45)
Que legal, fico muito feliz.
que legal.
Sim, sim, é legal porque é difícil a gente transmitir isso, Quando eu falo, a escalada é profunda, a escalada é isso, é aquilo, é difícil a gente transmitir isso só com palavras, porque é muito sentimento envolvido, sabe? É muita coisa, muito detalhe, enfim. A vivência da escalada mesmo, sabe? Se entregar para essa experiência, assim, é muito poderoso.
João Agapito (26:30)
E tipo assim, ainda nesse tópico, mas a gente está falando aqui que é processo, Então você vai ali durante meses, às vezes anos, fazendo exatamente a mesma coisa, Exatamente os mesmos movimentos e se frustrando na imensa maioria deles. assim, como é que faz para se manter focado no processo?
Jordana Agapito (26:43)
Sim.
Nossa,
não é simples, processo de muita resiliência. E é o que você falou. Meses, às vezes ano, e no fim das contas você nunca sabe se vai acabar, Então, dependendo ali do que você está projetando, tem filme muito famoso que é o filme da Melissa Lenev na Action Direct. E aí ela demora seis anos para encadenar a via. Seis anos.
tipo malhando, né? E aí eu acabei de passar por processo no Movi que eu demorei, sei lá, duas temporadas, foram quase dois anos e eu já tava enlouquecida, assim. É enlouquecedor você trabalhar os mesmos movimentos. Onde a sua cabeça te leva? hoje eu tô bem, hoje eu tô mal, hoje eu fiz esse movimento, peguei pouquinho mais pra cá, hum, hoje a pele tá ruim, hoje o clima não tá tão bom, não tá ventando tanto, como é que eu tô me sentindo? É uma gama de fatores ali.
E você vai aprendendo muito ao longo desse processo, aprendendo a ser resiliente. A escalada é esporte que te deixa contato com seus sentimentos mais cruz, eu diria. Então é frustração, é raiva, muita felicidade. Então eu sempre falo, quando você faz uma tripe de escalada com uma pessoa, você sabe exatamente quem ela é. Quando ela está frustrada, ela está com raiva, quando ela está feliz, como ela lida com aquilo.
Então a gente vai aprendendo muito a escalar dessa ferramenta de lidar com as emoções, sabe? Então... Eu me considero uma escaladora resiliente, quando eu encaro projeto, normalmente eu vou até o final. A que preço, às vezes, é difícil dizer. Pode rolar até burnout, sabe? Eu tenho falado disso com alguns escaladores. Imagina, você só faz aqueles movimentos...
João Agapito (28:22)
Sim.
Jordana Agapito (28:45)
por anos, por meses, quando você está malhando boulder, muitas vezes você mal tira a bunda do chão e cai. Você falou, 95 % das vezes? Não. Eu estou caindo 99 % das vezes. As pessoas perguntam assim, e na escalada? Se cair, o que acontece? Eu falei, mas gente, eu só caio na escalada. É sobre cair, Então é sobre você comemorar as pequenas vitórias também, sei lá, de fazer movimento e falar, entendi.
João Agapito (29:04)
e aí
Jordana Agapito (29:14)
Entendia isso, E depois fazer esse grande link, que aí vai depender de muitos fatores. Tem o dia especial, sabe? Quando você está projetando uma grande coisa. Tem aquele dia que tudo se encaixa e você entra na linha do flow. E a gente sempre fala, abriu a porteira, amigo? Aproveita. Aproveita, entra lá e faz o que tem que ser feito. É executar o que você treinou durante tanto tempo, sabe? É mágico. Quando rola, é mágico.
João Agapito (29:42)
Sim.
Jordana Agapito (29:43)
Eu acho que a gente escala tanto
para atingir esse momento,
João Agapito (29:48)
Bom, como você disse, 99 % do tempo você está caindo, você não está alcançando o seu objetivo. Então, se você for feliz só naquele 1%, quando efetivamente tudo encaixa e você consegue encadenar, sua vida vai ser muito frustrante. Então, é trabalho muito mental, ao longo de todo o processo você continuar se automotivar.
Jordana Agapito (30:06)
Sim.
Sim, essa motivação, Você fala que motivação cai no seu colo? Não, ela não cai, a gente busca ela. então estou me sentindo desmotivada, estou me sentindo mal. Para mim é tipo, tá, eu vou entrar contato então com a essência da parada para mim. O que é? vou fazer uma sessão com meus amigos, vou viajar para outro lugar, eu vou desligar pouco desse projeto agora e escalar outras coisas, sabe? A gente vai encontrando maneiras de conseguir se manter motivado, sem dúvida, sabe?
João Agapito (30:39)
E falando sobre os projetos, qual foi para você o processo mais duro?
Jordana Agapito (30:47)
o Davi agora, gigante pela natureza. Foi o processo mais duro que eu já se encarei na vida, sem dúvida. Porque também foi uma escolha muito consciente, Eu já sou agora uma escaladora pouco mais madura, então eu sabia que ia ser difícil. Eu mudei de disciplina, imagine, eu escalei, sei lá, 10, 12 anos da minha vida praticamente só boulder, apesar de ter provado outras coisas, de ter escalado esportivo, de ter ido para montanha. Eu sou uma escaladora...
escaladora ainda hoje, especialista boulder. Eu falei, cara, não, eu vou tentar uma via. Vou tentar desenvolver o potencial nas vias, vamos ver o que acontece. E aí a gigante não era o meu projeto, nem de longe, porque é grau que é isso, é 11A, nenhuma mulher tinha feito no Brasil, é grau elite no Brasil ainda, sabe? E aí eu fui para o Morro do Macaco, na verdade, focado uma outra via, que é a Dread Bull.
que está graduada entre 10B e 10C, aí. Era essa via que eu ia tentar. E aí eu fui para lá e a temporada ainda não tinha chegado, as agarras ainda estavam pouco úmidas, assim. E eu me encheu saco e falei, vou tentar outra coisa. E aí quando eu olhei para a gigante, eu não olhei com olhos de, é possível, vou tentar, via. Eu olhei com olhos, tipo assim, meu Deus, será que eu entro nessa via?
Tinha na época três ou quatro ascensões e vi uma duríssima, só que ela estava equipada e estava seca. eu falei, vou entrar para conhecer. E aí acabou, minha vida acabou ali. Eu desci arrepiada, a via é muito bonita, é uma king line que a gente fala, é uma linha muito perfeita. E aí, você ter uma ideia, eu demorei dois meses só para isolar os movimentos da via.
dois meses para ir isolar. Então eu sabia que ia ser muito difícil, que ia ser processo duro.
João Agapito (32:39)
Quando você fala isolar, caso, é fazer os movimentos de forma separada.
Jordana Agapito (32:44)
Exatamente, fazer os movimentos de forma separada. Então não entrei e consegui fazer tudo? Não, não é. Então a via complexa é sétimo grau, fácil, meio que de montanha. Você senta no platô, sem as mãos, e aí você acessa uma placa negativa de 40 graus e faz dois boulders na sequência. É uma via explosiva, de power endurance. Mas era uma via que não era muito esticada para o meu estilo, porque pega muito isso, eu sou baixinha.
E eu vi a possibilidade, E eu falei, meu Deus, será que é isso? Então, aquele projeto me escolheu ali naquele momento. E eu sabia que ia ser duro e eu não... Quando eu comecei a malhar, eu não pensava que eu ia conseguir encadenar. Eu fui vislumbrando essa possibilidade ao longo dos meses que eu estava ali trabalhando, né? E aí, enfim, fui trabalhando. Já tinha conseguido linkar a vida depois de alguns meses, fazer com uma queda, que a gente fala, e aí tive uma lesão de ombro no meio desse processo.
João Agapito (33:37)
Nossa!
Jordana Agapito (33:38)
Foi bem dura, nossa, foi bem dura, assim, eu machuquei o ombro. Aí, reabilitei rápido. Rafael Gomes, obrigado aí, que é meu físio, treinador, amigo, psicólogo, vezes. Enfim, escaladora há mais de 20 anos aí, depois que eu reabilitei, que eu voltei pra via, o processo passou a ser muito mais mental. Era isso. Porque eu fazia todos os moves, eu caía...
João Agapito (33:51)
e
Jordana Agapito (34:02)
e entrava na sequência e conseguia até o final. E eu simplesmente não conseguia passar. Não conseguia passar e não estava entendendo aquilo. Eu tinha desistido da viajar. Tinha desistido nessa temporada, a última que eu mandei, porque já ia começar a muito quente e ficou mesmo. Eu mandei a viajar setembro, já estava quente. Falei, quer saber? Vou fazer outra coisa. E aí meu coração doendo, assim, não é possível que eu vou desistir desse projeto. E foram, não, muito choro, muita... Nossa senhora, muita coisa eu passei, assim, processo.
Daí eu fui fazer uma coisa totalmente nova na minha vida. Eu fui fazer meu primeiro big walk, fui escalar uma pedra riscada, uma via de 900 metros, uma coisa que eu nunca tinha feito. Dormi na parede, no porta-led, duas noites. Enfim, fui com uma galera muito massa, de gente muito experiente. Daí quando eu voltei, eu voltei diferente. Voltei com o coração aberto, voltei com a cabeça mais limpa. Essa é a verdade. E aí eu fiz uma...
João Agapito (34:38)
E é
Jordana Agapito (34:56)
uma empreitada de uma semaninha na via para poder voltar para ela, voltar para o fitness e falei assim, cara, eu tenho último pega antes de esquentar, tenho último pega que vai ser no ápice do meu ciclo menstrual, que também tem isso, Que eu estava me sentindo mais forte, que a mulher tem isso, tem tudo isso. Vou estar me sentindo bem e vai ser esse dia. E aí nesse dia específico eu nem tinha segue.
João Agapito (35:11)
Nossa... Não, ainda tem isso pra... Nossa, você é braba demais, VJortana, que isso?
Jordana Agapito (35:24)
Você tem uma noção, as coisas se encaixaram muito, aí o Rafa me ligou. Falou assim, eu tô saindo de Goiânia, já era 10 horas da noite, no dia anterior. Aí eu falei, tá, então eu tô indo pra casa agora, que eu já tava perinópolis na rua, tô mandando uma cerveja. Então eu tava muito... Sei lá, eu tava muito tranquila, entende? Que o processo já era muito mental. E aí eu cheguei lá numa boa, e aí o Rafa falou, dá pega. Eu falei, tá, vou dar pega. Aí na sequência...
Ele falou, você já quer dar outro pé? Porque vai esquentar, E aí tem outra pessoa para escalar. Eu falei, não, tô de boa, deitei na rede. E aí, quando eu fui entrar na via, eu tava assim, muito desapegada. E eu fui subindo e eu tava assim num dia que eu tava muito agradecida de estar ali, sabe? Quando eu sentei naquele platô, eu agradeci, falei, Deus, obrigado, assim, porque essa via me colocou outro patamar da minha escalada, eu mandando ou não mandando. Eu sempre falei isso, sabe?
Se eu não encadenar, eu já sou outra escaladora. E aí eu entrei e fluiu. Foi mágico, assim. Foi o momento mais mágico que eu tive na escalada, sem dúvida. É dozo, assim. E apesar de ter essa construção toda, que foi super difícil, O senso de realização que eu tive quando eu encadenei essa via, assim, nada explica. Eu não senti isso nenhum momento da minha vida. Nem quando eu me formei, nem quando eu fui promovida num trabalho.
João Agapito (36:30)
Não, que massa!
Jordana Agapito (36:45)
Nada, nada me trouxe mais realização pessoal, porque eu fiz essa escolha e sabia que ia ser dura. E aí eu consegui, assim, magicamente.
João Agapito (36:54)
Escutar o seu testemunho sobre todo o processo, o quão difícil foi, o quanto significou para você, é muito bacana. De verdade, obrigado por dividir. De forma tão honesta, que massa. Falando pouco aqui sobre representatividade feminina.
Você é engajada com alguns projetos, inclusive o Rocha Substantivo Feminino, que acabou de lançar documentário. Já está disponível para o público?
Jordana Agapito (37:29)
Sim!
Ainda não. Do mesma forma como filme, gente vai correr os festivais de cinema, gente fez pré-lançamento agora. Então, o ano que vem vai ser o ano da gente correr com esse documentário no Brasil todo. aí falando pouquinho do Rocha, o Rocha é coletivo de mulheres, na verdade. A gente queria fazer alguma coisa pela escalada feminina. É isso, surgiu desse momento e a gente foi engajando mulheres, são mulheres incríveis.
João Agapito (37:41)
Sim.
E...
Jordana Agapito (37:56)
que estão aí com a gente ao longo desse processo. Eu faço parte da gestão executiva desse projeto junto com a Ludmila, que é minha amiga de anos escaladora e com a Ana Clara, também a minha. Só que o projeto não é sobre a gente, o projeto é sobre a escalada feminina, sabe? E aí a gente conta pouco da história da escalada Cocalzinho de Goiás sobre a nossa ótica.
João Agapito (38:15)
Não, que massa. A gente está conversando aqui sobre todas as adversidades, né? Sobre a escalada, tipo, você depende do tempo, você depende da rocha, enfim, é uma série de circunstâncias. quando você fala... Você mencionou, do tipo, para mulher ainda tem a questão dos ciclos, né? Então, assim, para você, para mulheres ainda tem esse A+. Então, assim, quando eu vejo...
mulheres escalando e principalmente você conseguindo escalar graus muito difícil, eu acho que é é uma realização ainda maior do tipo vale
Jordana Agapito (38:54)
É, eu falo assim, são tantos fatores, Enfim, quando a gente fala de esporte no Brasil, a sabe que esporte é uma coisa da elite brasileira ainda, infelizmente. Quando a gente fala de escalada, a gente sabe que é isso também. Quando a gente fala de mulher no mundo outdoor, imagina, a gente não foi criada para se divertir. Essa é a grande verdade. Enquanto, esse eu me lembro de quando eu era criança, estava lá no Araguaio, no Rio Araguaio, que eu sempre passava as férias.
João Agapito (39:01)
e
Jordana Agapito (39:18)
E eu olhava para os homens, estavam lá tocando violão e tomando cerveja, as mulheres estavam cozinhando. E eu olhava aqui e falava, eu quero ficar junto com os caras. Porra, eu não quero viver o que as mulheres estão vivendo. Estão sempre estressadas, estão sempre ali cozinhando, cuidando de crianças. Então sabe, a nossa construção não foi feita para a gente se divertir. Muito menos a gente estar sozinha na montanha. No mundo outdoors.
São muitos fatores. E quando a gente fala de diversidade, gente fala de... Sabe? São muitos pontos delicados. E quando com o Rocha a gente começou a discutir isso, a gente começou lá atrás pensando, vamos fazer um filme sobre escalada feminina, cara. Aí vieram todas as camadas. As camadas raciais, as camadas de gênero. Todas elas. As camadas, enfim, de patamares de grana, Mas aí falando sobre...
Mulher na Escalada, que é o lugar de fala que eu tenho, eu sempre, sempre, sempre estive engajada coisas que fizessem sentido para que mais mulheres pudessem se inspirar e pudessem, sei lá, ter a coragem de fazer qualquer coisa, não só escalar, fazer qualquer coisa que elas quisessem, sabe? E quando eu comecei lá atrás, eram pouquíssimas mulheres escalando. Então, as referências que eu tinha, eu me agarrei nelas, tanto do Brasil quanto de fora.
Porque é isso, quando você não vê corpo parecido com o uma pessoa parecida com você fazendo coisas, você muitas vezes acha que você não pode chegar ali. Entende? Você não tem referência. Então a gente dentro da escalada é como se fosse uma referência ali para as outras pessoas que estão chegando e tudo. Então eu me agarrei nessas referências. Eu e a Lúdia a gente escala juntas desde que a gente começou. Então a gente cansou de fazer eventos para mulheres. TPM, treino para mulheres na escalada.
Aí traz, aí leva, aí faz bonde feminino. A gente começou a esses bondes femininos. Vamos escalar só a gente, então? E quanto tempo com calcinhas, exatamente, que é o grande evento agora feminino da escalada que aconteceu lá atrás. E aí hoje o evento cresceu, está sendo organizada por outras mulheres, mas que assim, abarca tudo isso.
João Agapito (41:12)
Cococinhas!
Jordana Agapito (41:26)
Então a gente fala sobre referência, gente fala sobre representatividade, gente fala sobre ter coragem. Então quanto tempo eu demorei pra estar tranquila com uma amiga minha só na rocha? Eu achava lá atrás que eu ia conseguir nem achar a trilha, que eu não era capaz, sabe? Então é importante dizer isso aqui. Eu demorei anos pra falar, olhar pra mim e falar assim, eu sou escaladora, ponto independente do que for, Então hoje eu olho...
assim, com outros olhos mesmo, sabe? Então é muito sobre a escalada ter saído de mim, do meu individual, a minha cadena, o meu eu, e ter saído de mim pra poder, sabe, tentar deixar esse ambiente mais seguro, mais diverso, mais respeitoso, e a gente respeitar todas as pessoas que querem, o tipo de relação que elas querem ter com esse esporte. E ponto final, sabe?
João Agapito (42:18)
ponto que eu achei interessante no seu filme, você dizendo que o seu primeiro contato com a escalada, chegou lá na academia, e aí era monte de homem musculoso, sem camisa, e assim, o quão intimidador isso é. Então, quantas mulheres deixaram de experimentar a escalada porque se sentiram...
Intimidados. sabe negócio curioso? Aqui Berlim, a escalada é muito mais popular. É esporte bem popular. Então, tem várias academias de escalada. E uma regra que tem comum entre todas essas academias é que não pode escalar sem camisa. E aí eu lembro que, por exemplo, verão aqui é calor danado. E aí, nossa...
doido para tirar a camiseta, porque lá Goiânia tirava camiseta e tal. Não que eu vá intimidar alguém sem camisa, na verdade, pelo contrário, sem camisa pessoal dá risada, mas depois, assistindo o seu documentário, eu fui meio que ligar as peças e entender, eu fui realmente, não tem porquê do tipo, pô, fica com a sua camisa aí, de fato é intimidador.
Jordana Agapito (43:16)
Sim, sim, sim.
Você imagina? Quantas mulheres chegaram ali e elas não adentraram aquele espaço. É muito isso. Mas eu sempre estive também ambientes muito masculinos, corporativamente falando, desde quando eu era criança com o meu pai e com os amigos dele. Então eu tive a capacidade de entrar ali, mas muitas não tiveram. E aí posso dizer que eu fui bem acolhida, sim.
Obrigada a todos os meus amigos, sem vocês eu não seria escaladora que eu sou hoje. Mas a gente vai encontrando nossos espaços de deixar esse lugar mais feminino também. E também não é só sobre a escalada si, Eu falo que como a escalada tem muitas camadas para as mulheres, tipo a mulher dentro da escalada ela ser quem ela quiser, ela pode ser o hutsetter, que é trabalho que ainda é muito masculino.
Ela pode querer abrir via, pode querer ser atleta, ela pode querer ser uma treinadora. Entende que todos esses espaços ainda são ocupados, mais que caramente, por homens e não só a escalada si, sabe? Não só está pendurada numa rocha. Então é disso que a gente está falando.
João Agapito (44:37)
e tchau
Total. E você falando aí da sua trajetória permeando esses espaços que são majoritariamente masculinos, eu acho que para além das suas conquistas na escalada, é muito vencedor, sua história é muito inspiradora de verdade. E por falar sobre isso, bom... A mulher inspiradora que você é...
Jordana Agapito (44:57)
Obrigada, obrigado.
João Agapito (45:07)
Qual é a mulher que mais te inspira?
Jordana Agapito (45:11)
Nossa, também é igual falar dos lugares, Nem tem é que mais me inspira. Mas hoje, assim, as pessoas que mais me inspiram são as mulheres que estão ao meu redor. Porque eu tô rodeada de mulher foda e, assim, a gente tem se unido pra fazer as coisas, sabe? Então eu tenho as minhas amigas pessoais, eu tenho a Lud, que é uma mulher que sempre me inspirou, eu tenho a Gláucia, que é uma mulher negra carioca, que veio de lugar...
difícil do Rio de Janeiro, E representa hoje a escalada feminina. Sei lá, tem muitas mulheres ao meu redor que me inspiram. E a gente consegue fazer coisas juntas. Estive escalando agora com a Bianca Castro lá no Rio de Janeiro, que é da Seleção Brasileira. A gente trocar isso, sabe? Essa mesma escalada junto pra mim, isso me empodera de uma maneira que eu não consigo explicar. E aí eu tenho, sei lá, Azazá, que é uma mulher que começou... Que tem café lá Pirinópolis, uma mulher foda também, que começou a escalar depois dos 40 anos.
Ela pega os equipos dela sozinha, filho, acorda dela, faz a trilha do macaco e vai escalar. Ela tem três filhos, entende? Tipo, então essas mulheres que estão ao meu redor, que eu posso compartilhar com elas, pra mim é muito rico, assim. E aí lá atrás, quando a gente fala de referência, Pô, eu tinha, lá, no Brasil a Mara Embeloni, que é uma mulher que nos anos 90 tava escalando só com homem, abrindo, se desgavando aqui Cocalzinho. Tem a Francine.
João Agapito (46:15)
Que foda, que isso!
Jordana Agapito (46:35)
Tem, enfim, muitas mulheres, Quando a gente olha pra fora, ai, sei lá, tem a Lynn Hill, pô, como é que a gente não fala da Lynn Hill, né? Ela foi lá e livrou a via e falou, hein, goes boys, né? Tipo, tava lá no meio. Tem a Lisa Rands, que é uma mulher também que escalou, escala ainda, né? Mas escalou muito boulder, abriu muito boulder, escalou os primeiros high balls que as mulheres escalaram lá Bishop. Pô, tem muitas referências assim, muitas referências.
João Agapito (46:43)
Falling here you...
É o que massa. E só de escutar, você falando assim, dá pra ver o quão você de fato admira elas, né? E é muito bacana que você trouxe pessoas também no seu dia dia. Geralmente quando a pergunta sobre, sei lá, pessoas que inspiram, tipo, ver uma celebridade, mas você conseguiu trazer pessoas que... Mulheres que fazem parte do seu dia a dia, né? E isso deve ser muito... Nutrir muito a...
Jordana Agapito (47:27)
Exatamente.
João Agapito (47:28)
a
alma e o espírito, você poder compartilhar sua vida com pessoas que te inspiram dessa maneira.
Jordana Agapito (47:33)
E isso pra mim tem sido algo novo. E uma coisa que me empoderou muito disso foram os projetos que a gente está tocando, que é o FEME, que é o Rocha, que é estar com essas mulheres de verdade. Porque sabe, eu vim de ambiente tão masculino também, de toda essa minha trajetória, que às vezes a gente tem que ocupar lugares e se portar de certas formas que a gente nem quer, que a gente nem é. Porque ali no corporativo eu precisava ser dura.
Eu precisava ser, às vezes, uma pessoa que eu nem gostaria de ser. E aí, junto com essas mulheres, agora, de uma maneira muito mais profunda, e trocando mesmo, eu atingi outro patamar, sem dúvida, dessa admiração, dessa construção juntas, de entender o tamanho dessa potência, transmitir isso até fora da escalada. Então, nesse último meu trabalho que eu estava agora, minha equipe era...
assim, 100 % feminina. Aliás, vou falar 99,9%, porque tinha homem só. E assim, eram pessoas que eu estava falando ali para elas, gente, vamos sonhar. Vocês querem ficar aqui o resto da vida de vocês? E que eu falava para as minhas analistas ali, falava para elas, se vocês não souberem conversar com os caras, se vocês não souberem falar de número, não souberem falar, entender o negócio como todo, vocês vão ser sempre a menina do marketing. Entende? Assim que eles vão te olhar.
E aí eu consegui transbordar isso para outro lugar na minha vida. E eu acho que é isso. É isso, missão. Isso que eu acho que o mais importante. E aí eu vou me nutrindo com as pessoas que eu admiro. Elas vão me ensinando, eu vou ensinando as próximas. E aí a gente vai.
João Agapito (49:01)
Sim.
É o que mais, eu tenho certeza absoluta que você já teve impacto positivo e direto na vida de muitas mulheres, né?
Jordana Agapito (49:21)
Amém! Se eu fiz
isso, minha missão está cumprida.
João Agapito (49:25)
direta
e indiretamente e aí assim é falando pouco sobre projetos futuros bom você já atingiu vou dizer o ápice sim porque né se eu dizer o ápice já tô te limitando mas enfim já fez marcas históricas né sendo a primeira mulher a mandar o primeiro v12 no brasil e aí depois a primeira mandar uma via 11a também então assim dá pra dizer você às vezes pensa pro futuro
expandir para escalada de montanha? O que você pensa como projetos futuros?
Jordana Agapito (50:03)
Olha, com certeza. Eu amo escalar de tudo. Então, ano passado, esse ano ainda, eu fiz meu primeiro big walk, eu te falei, na Pedra Riscada. Essa é uma coisa que eu quero explorar. Então, eu fui lá para ver se realmente eu ia querer aquilo ou se não. Eu ia querer sair correndo e nunca mais voltar, porque é muito sofrido, é processo super diferente. Mas eu quero muito explorar algumas montanhas.
E o que eu vou focar agora como projeto é escalar a maior quantidade de vias esportivas e de fazer minha base nas vias esportivas que eu consegui. Então eu quero muito escalar no Cipó, eu quero muito escalar Piraí do Sul, que é pico incrível lá no Paraná, tem mais 600 vias. Acabei de voltar de lá com grande amigo meu, quero escalar no Rio de Janeiro. Então eu quero expandir essa escalada de vias, sabe? Muito antes de pensar grau, por enquanto.
Porque confesso que eu quebrar o meu próprio grau vai ser bem difícil. Mas sempre existe a possibilidade.
João Agapito (50:56)
Hehehehe...
Não, até porque assim, quando a gente fala de grau, diferença de V1 para V2 é uma diferença pouco linear, mas quando você vai de V11 para V12, é negócio exponencial, Tipo, é muito difícil. Então assim, você fazer V12 é muito, eu imagino, que seja tipo, extremamente difícil, mas você tipo, conseguir fazer outro, ou então tipo, conseguir...
levantar o nível, né? Fazer V13 é do tipo muito além, né?
Jordana Agapito (51:28)
É
que é muito específico, Quanto mais difícil vai ficando e os anos vão passando também, aumenta a especificidade. Então você fica muito tempo naquele mesmo platô, né? Pro iniciante, você vai galgando uns lugares mais rápidos, assim, né? E aí quando você está escalando há muito tempo e chega certo nível, aí fica mais difícil. Tem que ir apertando tecnicamente, forças específicas e também você treinar direcionado para o que você quer.
Tem isso também. Então, o que eu tô buscando agora é expandir a minha escalada de via esportiva, que eu quero muito. Eu acho que eu cresci muito como escaladora escalando esportiva, assim. E aí, vamos ver, testar projeto ou outro. Eu quero sim. Eu sempre tenho curiosidade de testar coisas diferentes, coisas difíceis. Enfim, é isso. É mundo.
João Agapito (51:56)
Sim.
Escalada é né? Tem infinitas
possibilidades. E
assim, tem alguma mensagem final que você você gostaria de deixar?
Jordana Agapito (52:24)
Nossa, difícil, né? Mesa de final. Eu queria deixar uma mensagem sobre a acreditar mesmo nas coisas que gente quer fazer, a ter a coragem de viver a vida que a gente quer. Eu tenho refletido muito sobre essa frase, eu acabei de voltar da Patagônia, três semanas intensas de muita vida e pouca mídia. Eu falo com os meus amigos, pouca mídia, cara. A gente vive muito.
João Agapito (52:26)
Fizene!
Jordana Agapito (52:53)
E eu pensei muito sobre isso, sim. Apesar de estar ali sofrendo, passando frio, num lugar selvagem, eu estava muito grata, e estou, de ter tido a coragem de viver a vida que eu quero, assim, e dar esse passo consistente a cada dia que passa. Então, acreditar na gente, acreditar no que a gente quer fazer, acho que é isso.
João Agapito (53:15)
Pô, que isso, que palavras maravilhosas. Muito obrigado.
Jordana Agapito (53:19)
Eu fico feliz,
João Agapito (53:20)
E se você curtiu esse episódio, não se esqueça de deixar sua avaliação, se inscrever e compartilhar com quem você gosta. ajudar diretamente o meu trabalho, eu vou deixar link aqui na descrição. E é isso. Muito obrigado e até semana que vem.