Rádio Grilo

03. LP Silva: Tocha Olímpica, Vila de Igatu, Escalada e o Garimpo

João Agapito Episode 3

O LP é morador de uma vila de menos de 500 habitantes no interior da Bahia, e seu trabalho com a escalada o levou a carregar a tocha olímpica em 2016.

Estamos falando da vila de Igatu, na Chapada Diamantina, conhecida como a “Machu Picchu brasileira” por suas construções de pedra e misticismo. Após o declínio da era da mineração de diamantes, o trabalho do LP tem sido fundamental para reerguer a comunidade, especialmente através do igatuboulder2025 — festival de escalada que vem transformando a vila ao longo de suas 12 edições.

Além de tudo isso, ele é atleta de mountain bike, guia de turismo e faz manejo com pedra bruta. 

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João Agapito (00:00)
Fala galera, sejam muito bem vindos a Raid o Grilo, o seu podcast do mundo outdoor e no baixo-papo de hoje a gente vai falar com o LP Silva, ele que é morador de uma vila com menos de 500 habitantes no interior da Bahia

e chegou a ser condutor da tocha olímpica 2016 função do trabalho

que ele vem desenvolvendo com a escalada na comunidade. Então a gente está falando

de Gatú, essa vila pitoresca localizada na Chapada Diamantina, que é também conhecida como Amatiu Pítio Brasileira, por conta do seu misticismo e das construções pedras. Então nesse bate-papo a gente vai entender pouco mais sobre as origens da vila de Gatú, lá desde o Garimpo, a história do LP...

E também como esse convite para carregar a tocha olímpica aconteceu. Bora lá?

João Agapito (01:20)
Fala, grande LP! Como é que você tá, meu cara? Tudo bem?

Lp Silva (01:25)
Tudo paz e você, que vai?

João Agapito (01:26)
Nossa, é bom demais!

O LP, começar nosso bate-papo aqui, acho que assim, a maioria das pessoas provavelmente já conhece, pelo menos já escutou falar da Chapada Diamantina, mas talvez não conheça Ygatu. pra quem nunca foi Ygatu,

Como é você descreveria a vila?

Lp Silva (01:49)
Então Igatu uma cidade remanescente do garimpo da mineração de diamante que ela teve apogeu diamantifro ali nos meados dos anos entre 1830, 40 até 1930 que foi mais 100 anos de exploração onde Igatu chegou a morar mais de 9 mil habitantes. hoje

e Gatú tem menos de 500 habitantes morando aqui. Naquela época todo esse povo veio busca de sobrevivência, porque aqui Nigatu foi considerada a capital diamantífera da Chapada Diamantina, contra a quantidade de diamantes que dava aqui naquela época nas lavras diamantinas aqui torno da vila. E com isso atraiu grandes lojales de pessoas do mundo inteiro, que não era só gente

do Brasil mas também pessoas de outros países mesmo que o carbonato produzido aqui na época ele foi viabilizado grande parte dele para a abertura do canal de Panamá que era o diamante negro carbonato que ele era muito usado naquela ferramenta para quebrar pedra.

com a criação do diamante sintético. Esse nosso diamante carbonato preto foi desvalorizado. Ali depois de mais de 100 anos de exploração a gente teve a decadência total onde Gatú de 9 mil habitantes passou a ficar com menos pouco menos de 200 habitantes só ficou aqui a resistência. Hoje Gatú é uma cidade vilarejo distrito de Andaraí encravada no meio do parque da Chapada de Argentina

Ela é uma cidadezinha diferente, todos que vêm aqui falam isso com a gente, que é lugar que ainda tem aquela coisa bucólica, vulgarinco, uma cidade que parou no tempo, porque a gente hoje é tombada, é patrimônio histórico aqui do Brasil, pelo Ifam, pelo Ipaque, a gente tem uns tombamentos que, digamos, que ingessou, gatou, com o que fez com que ela parasse no tempo, para que não sofresse esse boom.

que está sofrendo na cidade dos interiores da Chapadé Amandina principalmente que é onde é que eu moro que é o exo do Urbano é o povo da cidade grande que estava voltando novamente para os interiores e por Igatoto ser uma cidade que tem alguns parâmetros o acesso de Igatoto não é fácil a gente não tem nenhuma linha de ônibus que passa aqui então gente meio que ficou parado pense bem onde é que está o auge a decadência onde estamos hoje a gente não conseguiu chegar a 500 habitantes depois de longo período

Então a cidadezinha que ela parece estar no tempo, tanto é que é uma cidade que foi apelidada, não é termo que gente fala de match pitch brasileiro, não tem nada a ver, cada com sua história. Mas Zigatu é isso, quem chega aqui se apaixona porque você ainda consegue sentir assim o que foi aquele boom que teve aqui, sabe?

João Agapito (04:36)
E

Lp Silva (04:45)
caminhando pelas reias históricas, vai ver nas tocas garimpeiras que são rastros de onde até a população daquela época chegou. Os caminhos, meu Deus, os caminhos são as coisas mais impressionantes que gente consegue ver aqui. gente tem trilha de 13 quilômetros de calçamento que cruza uma serra inteira que liga cidade a outra. Isso é coisa espetacular, sabe?

João Agapito (05:07)
É, não, loucura. Cara, eu acho Gatú uma cidade muito única, Uma cidade construída sob pedras. E como você mesmo falou, é acesso muito difícil, porque, bom, quando você sai da rodovia principal para ir para a Vila de Gatú, você passa por essa estradazinha bem estreita, né, de pedras também, você diz que nem... Tem nem linha de ônibus. Então, é negócio...

Lp Silva (05:28)
A gente fala

que aquela estrada nossa, meu amigo, gente chama ela que é o filtro. Quem passa por ali vai dar valor porque não é fácil não. A gente até brinca, olha ali, passada ali pra cá, o cara tá vindo já sabendo que gatu é lugar diferenciado. Então, o foi o garimpo naquela época? Todo mundo, geralmente, quando fala do garimpo, só fala da devastação.

da área que ele sucateou, do lugar que ele estragou. várias vezes eu me pego pensando, você até falou com meus amigos, já pensou. Se não fosse o garimpo, qual a história ele tinha de contar? E gato não existia. Então o garimpo tem a sua parte trágica, mas gente tem que ver que tem o seu lado histórico, o seu legado.

João Agapito (06:08)
Sim.

João Agapito (06:14)
Pois é, e aí sobre esse lado trágico do garimpo,

João Agapito (06:19)
a maioria dos garimpeiros tiveram vidas muito miseráveis. Comiam muito mal, tinham problema com doença.

Lp Silva (06:26)
muito mal.

João Agapito (06:28)
E também tinha a questão do trabalho meio que escravo, Porque tinham os coronéis que meio que comandavam ali. E aí tinham muitos garimpeiros trabalhando para esses coronéis, né? Condições muito ruins e, comida, como eu disse, saúde, alojamento. Então, assim, deve ter sido bem...

Lp Silva (06:34)
Exatamente!

João Agapito (06:49)
bem puxado, imagina assim, uma história realmente de muita luta, muito suor.

Lp Silva (06:54)
muito suor. Você vê construções aqui do garimpo daquela época sem ajuda nenhuma da tecnologia. É normal a gente encontrar algumas obras com blocos de dois mil quilos a cinco, seis metros. Você fala, meu Deus, como é que aquilo chegou ali? Aí você vê, o coronel, o chicote, a porrada, o boto ou morre. Então foi esse sistema, o sistema escravo também que houve aqui no garimpo. A gente conversa com os mais antigos daquela época, eles falam para você, não.

O Igatu hoje todo mundo é rico, moço, você tá doido. Daquela época lá, aquela sofrimento, a Vimar

Garimpeiro com a enxadinha, a lavanca e vai tombando pedra tinham que arrumar essas pedras

de uma forma muito organizada para que o ambiente ficasse seguro. Com isso, mano, olha que doideira como é é as coisas. Aí começou-se lá no garimpo o manejo da pedra. Hoje os garimpeiros de gatu, a maioria, quase todos viraram pedreiros. E com isso, a arte da construção civil com pedra que se instalou aqui pela Chapada Diamantina.

João Agapito (08:01)
Sim.

Lp Silva (08:20)
Fez os pedeiros de gatus ser os caras mais requisitados a construir as casas de pedra aqui na nossa região.

João Agapito (08:27)
Irado. eu acho massa que você trouxe também essa questão da comparação de Igatu sendo amatupite brasileiro. Como você disse, acho que, Assim, ok, tem alguma relação, mas eu acho que não vale essa comparação até porque você diminui Igatu.

Lp Silva (08:42)
Não vale.

João Agapito (08:44)
Mas uma coisa, eu tive oportunidade de para Machu Picchu, uma coisa que me chamou muito a atenção é que as construções lá também são feitas pedras e não tem nenhuma argamassa. São as pedras lapidadas que os caras empilham assim, não empilham, mas enfim, constroem com essas pedras sem argamassa e estão lá resistindo há milênios. Então, na mesma forma, e Gatu,

as construções, são tipo pedras e não tem nada ali que realmente... Cara, é trabalho assim, muito bizarro, né? Você pensar porque é justamente trabalho como se fosse aquele joguinho do Tetris, você lapidar as pedras para ser o tamanho certinho, encaixar e aquilo resistir há anos, né? É bizarro, cara.

Lp Silva (09:17)
Beeeeh

anos,

é bizarro, é uma arte, trabalhar com o pé é uma arte, fala pra todo mundo.

João Agapito (09:35)
LP, voltando pouco aqui para as origens, conta para a pouco mais como foi crescer Gatur.

Lp Silva (09:48)
Rapaz, vou te falar, Lá na infância, muito tempo atrás, todo mundo tem aquele sonho, né? Você é jovem, você é criança, sempre sonha querer sair, querer crescer, querer viajar, estudar. E todo jovem aqui, acho que ligatou quase todos. Inclusive, eu tinha essa vontade de terminar o ensino médio ali e procurar trampo fora daqui de ligatou, até para poder ajudar a família, porque eu sou o filho mais velho.

A gente é uma família de nove irmãos, uma família grande, então tive que sentar a ripa muito cedo para ajudar o coroa. Logo muito cedo na minha infância, eu fui para o garimpo com meu pai, inclusive. tive, porra, naquela época, meu amigo, eu me deparava assim pensando, eu falei, poxa, será possível? É para eu estar vendo desenho, uma hora dessa, lá na rua bagunçando, mas com 11 anos eu estava no garimpo. Naquela época eu reclamei. Tá caramba.

não vou mentir não, falei não quero estar aqui não velho quero estar na rua com meus amigos brincando curtindo só que daí o tempo passou sabe lá nessa época do garimpo inicialmente é sofrimento que é trabalho braçal muito caraca o negócio é surreal

Só que ao mesmo tempo era legal, porque eu era uma criança naquela época, eu e meu primo, muitos pequenos, e minha tia, o primeiro garimpo a trabalhar foi com minha tia. Foi legal. E com isso gente morava numa toca. Eu terminava o ensino médio, acabava minha escola, eu ficava no garimpo três meses, no meu garimpinho com minha tia pegando diamante, aí voltava para a escola, estudava todo final de ano, eu saía de novo, ficava essa transição, sabe? Na rua e cidade, saía daqui segunda-feira e numa toca gigante.

Quando a gente morava nesse garimpo, era muito legal, que era tipo três gerações. Era meu avô, caraca, meu avô, o pai de minha mãe. Aí tinha meu pai e tinha a gente. ficava naquela, foi caramba, velho. Aí foi tocando a vida, foi seguindo. Hoje com 36 anos, depois de mais ou menos pouco mais de 20 anos atrás.

E eu olho assim e falo...

Hoje eu sei andar no mato, sabe me virar assim e muita coisa que eu aprendi graças aos ensinamentos do lado do Garim porque era aprender a me virar com sei lá com 12 anos já tava na beira de poço pescando com meu pai, loucura naquela época pra mim mas hoje eu falo poxa aquilo me fez até mais esperto né hoje me vira no mato qualquer buraco,

João Agapito (12:23)
É tipo de ensinamento que você não aprende escola nenhuma, né, L.P.? Você conseguir entrar numa mata que é selvagem mesmo, você conseguir se virar, você entender da fauna, entender da flora, entender do tempo.

É negócio muito rico e negócio muito valioso,

Lp Silva (12:46)
não se aprende, vei? E às vezes você só dá valor depois, né, com tempo, você começa a pensar, né? E hoje sou grato, e hoje com 36 anos eu me vejo assim, poxa, vivi aquela época, peguei o finalzinho, o finalzinho do garimpo assim, do sofrimento. E foi uma época dura também, não vou falar que foi fácil, porque não foi fácil. Tipo assim, gente não tinha condições de comprar o rango. Naquela época, acho que já eram seis irmãos. Já era uma família grande.

O que a gente fazia? Eu e meu pai pegávamos o fornecimento, que meia praça. Depois você pesquisa, porque é essa forma de trabalhar meia praça do garimpo. Por é essa meia praça? Você vai com cara que tem a grana e tem a comida. Naquela época eu lembro disso. Eu ganhava 40 reais por semana, eu e meu pai. 80 reais os dois. A dividia a despesa e deixava caso e levava o resto pro garimpo. Para nós dois. Lá a juntava com os outros garimpeiros, que era meu avô, mais tio e tia que vinha. A fazia a ferona da toca.

Cara, o meia praça quando você pega o diamante, você tem que ir lá mostrar o diamante pro cara e ele geralmente na maioria das vezes o cara comprava o diamante, aí você dividia, né, meio a meio. Tinha que ter acordo de confiança entre o galimpeiro e o cara que tava te dando a condição de você ter a comida no garimpo. E foi uma época difícil, mas que conseguimos superar, Ficamos aqui conseguindo construir. Não precisei ir embora,

João Agapito (13:58)
Certe.

Lp Silva (14:07)
hoje sou escalador graças a esse mar de pedra que gente tem aqui Níguatu

João Agapito (14:13)
Acho que é interessante que você já trouxe o ponto da escalada. Você acabou de contar sobre o seu contexto, infância dura, com 11 anos de idade, e eu estava trabalhando no garimpa. trabalho que não é só trabalho, é trabalho duríssimo.

Qual foi a sua primeira interação com a escalada? Esportes?

Lp Silva (14:34)
Eu comecei a escalar 2009. Foi uma escolinha de escalada de montaísmo que foi criada aqui Niga Tu por uma ONG. E gente teve auxílio por ano e meio de instrutor, que esse instrutor é até meu amigo, mora aqui Niga Tu, Rafael de Credo. Não se você conheceu ele. Hoje estamos trabalhando junto no Mountain Bike aqui para tentar desenvolver. A gente teve ele como instrutor.

João Agapito (14:50)
Não, não conheci.

Lp Silva (14:55)
E eu fiz parte dessa escolinha, só que antes de 2009 já tinha escaladores vindo de Níguatu. E meu irmão, o Pablinho, que era o caçulha, tinha tido contato com alguns escaladores, já estava fazendo algumas peripécias. E lá nessa época, com a criação dessa escolinha, eu tive o prazer de conhecer esse esporte.

E é isso.

João Agapito (15:15)
A escalada não é esporte tão simples de você iniciar. Não é tipo o futebol. Futebol você arruma uma bola e você joga qualquer esquina. Agora, escalada, precisa de uma sapatilha, teoricamente. Precisa de uma sapatilha, precisa de uns crash pads, são aqueles colchões que colocam ali embaixo para fazer bordo. como é que foi essa questão de equipamentos, pelo menos no começo?

Lp Silva (15:28)
Eeeeh

Pois é, isso aí é assunto também muito interessante que às vezes eu vejo algumas críticas. Esporte elitizado é esporte elitizado, isso eu sei. É esporte que os equipamentos são muito caros, isso eu sei. Começar na escalada não foi fácil? Também não foi, né? Que esporte que exige muita dor no início. Não esporte que você vai chegar ali. só curtir não vai, tem que ter dedicação. Você vai pegar na rocha e ela vai te machucar. Você vai cair de mau jeito, vai dar uma arranhadinha.

Mas isso é o de menos. É o de menos para nós. A parte de equipamento era a parte complicada, mas a instituição naquela época cedeu para a os equipamentos. Quando acabou a escolinha, logicamente, a gente não teve mais acesso aos equipamentos, daí a gente começou a comprar uns crash pads e começamos a escalar. A gente começou basicamente na escala desportiva, essa escolinha. Depois, com o paramento, a migrou para o bordo e começou a desenvolver o pico, fui ali recebendo algumas visitas.

com mais frequência e Niggatu sabe, fomos interagindo, aquela troca de experiência e vai e vem, você tem que estar sempre aliciante, aprender até pra gente conseguir a gente mesmo tocar o barco, né? O barco da escalada Niggatu, a teve que aprender muito com galera de fora que tava vindo e com isso nos lapidar pra fazer que a escalada cresça de uma forma legal, né?

voltando para a parte que a escalada é o esporte ele quiser meu amigo eu vejo muitos depoimentos da galera modo geral falando isso eu olho o outro lado da moeda

Eu não falo que eu sou cara que fala assim, tô lá me quebrando junto com meus amigos e tal. Eu falo não, velho. Nós somos vencedores, nós somos negros, somos de família humilde, trabalhador, que conseguimos alcançar esporte que pra galera é impossível chegar pra galera de classe média, pra galera de classe pop, sabe? De baixa renda. Eu não vejo assim, nossa conquista por esse lado. Esporte difícil não é, velho. Somos vitoriosos, estamos lá escalando.

subindo bô, descalando qualquer lugar do Brasil, a vai muito pra Coca, a gente teve o privilégio de conhecer Mídio Verde, que é lugar que a queria muito conhecer, já esteve lá Sabará, então querendo ou não, é só ter raça, dedicação e correr atrás que as coisas acontecem, não dá pra ficar naquela mesmice de sempre, eu vejo por esse lado.

João Agapito (17:58)
Sim.

Cara, e eu concordo totalmente com você. Você pode ter certeza que se vocês não fossem vencedores na vida, nem estaria tendo esse papo aqui. Eu queria trazer a sua história para o Brasil, para o mundo todo escutar. Mas aí, voltando você começou na escalada...

E a ideia do IGATU Boulder, que é festival de boulder. Conta mais pra gente aí como é que começou isso.

Lp Silva (18:25)
Rapaz, é muito engraçado essa história. Isso, foi lá São Paulo. acho que o Festival... Igato Boulder nasceu São Paulo, uma conversa com amigo meu, quando eu fiz... Acho que foi isso mesmo. Quando eu fiz uma viagem para o Sumba Boulder, evento que teve lá São Bento do Sapo, cai 2011. Não vou me lembrar, mas foi aí nesses meados.

E eu conversando com amigo meu, o Fabio falou, cara, você tem que fazer evento lá no Igará Tutu Escalada, que lá tem muita pedra, já tem algumas vias lá, acho que cabe evento. Aí eu falei, moço, não tem como, como é que vou fazer negócio desse sozinho, conheço pouca gente. Rapaz, e não é que o negócio veio minha cabeça, lá, fazer. Conversei com alguns amigos,

Daí uma amiga de longa data, a alda nascimento, a dona da empresa KM10, é a nossa madrinha do Higato Bodo desde aquela época, da primeira edição 2013, que ela está com a gente desde essa época. E era a parte que mais me preocupava fazer evento, porque perto a gente tinha o contato com a prefeitura, iria rolar, sabe? Porque a gente já estava ali fazendo algumas outras atividades.

parcerias, então eu sei, esse aporte que me preocupava era umas coisas do tipo conseguir camisa pra evento, lá, trazer o povo, porque você criar evento preparar toda a área e não vir ninguém também, ia ser uma parada meio broxante, né? Então gente tinha todo esse medo. Mas a gente fez a primeira edição do Engato Bode lá 2013, eu ainda lembro, gente teve assim, sei lá, que 35 inscritos. Meu Deus do céu, como é que paga as contas? Aí vai, o segundo ano foi crescendo, aí foi de...

João Agapito (19:46)
e

e aí

Lp Silva (20:01)
E hoje a gente tem aí festival que tá indo agora pra 2025 entre os dias 10 a 12 de janeiro pra sua 12ª edição sabe? E é interessante a gente olhar assim pra trás porque hoje a gente caminhando na comunidade é muito engraçado se passar assim a galera do comércio local fala e aí esse ano vai ter gato bordo? Eu falei vai se prepare não deixa faltar pizza aí não meu amigo. Aí já passei no cara da quitanda da fruta e legume eu falei irmão

Vai vir gente, ano tá vindo muita gente, vai ser igual ao que eu falei vai ser melhor. Esse é o melhor evento de gato pra mim, não é aquela coisa do BOM, aquela massa que chega. É público que vem trazer as pessoas que ficam durante 10 a 15 dias consumindo na cidade de uma forma mais agradável e mais sustentável sem muito tumulto. Então, receber esse feedback da comunidade especial pra nós, que o que mais nos interessa, sabe que tem visito

tem todo mundo, mas a comunidade si, ela que tem que se dizer se está confortável ou não. Se o evento está legal para a cidade, gente vai manter e receber esse feedback que a galera já preocupada se organizando para receber o IGATO BODA, é bacana.

João Agapito (21:12)
tanto você como seus amigos que apoiaram no começo, vocês tiveram uma extraordinária, incrível.

E a forma como o festival evoluiu, você falou que na primeira edição foram 30 pessoas, hoje pelo jeito já estão indo mais de 300. E esse episódio vai por o ar, eu acho que já depois da 12ª edição. Mas eu queria que você comentasse pouco sobre...

a forma como o festival Igatu Boulder transformou, de fato, a vila. Como você disse, Igatu teve o período da mineração e chegou a ter 9 mil habitantes. De repente, acabou, foi para 400. E hoje dia, vocês têm papel essencial no sentido de reconstrução da cidade.

Vocês estão mudando o foco da economia da cidade, já mudaram da mineração para o ecoturismo. Então, comentem mais pouco sobre essa transição.

Lp Silva (22:16)
Eu vou te falar essa transição de zufruido que é Igatu. O que é Igatu? É uma cidade hoje com menos quilos de habitantes. A gente sabe que Igatu não tem empresário grande, não tem nenhuma fábrica que nunca vai ter. Tomara que não tenha mesmo empreendimento grande para empregasse geral. O nosso potencial é ecoturismo, sabe? Querendo ou não, é ecoturismo.

Hoje a gente está dando pontapé muito grande, que é no mountain bike, as descidas de montanha, quem está acompanhando o nosso trabalho está vendo que a gente está fazendo uma coisa que não é só o andar de bike. A gente está fazendo resgate histórico.

limpar nas trias históricas que é o legado da Limpeira que deixou pra gente, pra que as pessoas da vila tenham acesso a esse legado, porque ter esse acesso? Eu se diz, eu fui limpar aqui aqueduto, mais os meus amigos, Minha companheira, Rafael, Thainá e Diomolo. Tipo assim, tinha 35 anos que estava tomado pela vegetação. É aqueduto gigantesco de aproximadamente 7 km de distância, todo feito de pedra seca, eu sei, nenhum...

João Agapito (23:22)
Que isso, vai!

Lp Silva (23:22)
vestígio de

cimento, o que isso é coeduto? É uma mega mangueira gigante feita ao tempo pelo homem para pegar, captar água de uma região para trabalhar garimpe uma outra área, uma construção assim cara, você não consegue entender. E a gente tem feito isso e é muito engraçado, depois de começar a divulgar algumas imagens, fazendo esse resgate histórico, cara, começou a chegar gente da vila que mora aqui há mais de 40 anos que não conhecia aquilo.

E daí voltando para a parte de subsistência dele, como sobreviver aqui Nigatú, A gente começa a trabalhar com isso, é escalada, hoje o mountain bike também já é esporte aqui evidência, Nigatú, mas a escalada si é o que mais está ascensão assim.

Porque já existe, a gente já tem esse evento hoje como o evento que a galera já espera ele anualmente. o IGATU Bode tá tão, evento tão enraizado já que gente começou há dois anos atrás também para a terceira edição, que é justamente essa camisa que eu estou vestindo aqui agora, que o IGATU Bode Social, que é uma, poxa, é a parte que surgiu também no trabalho meu, conversando com alguns clientes.

João Agapito (24:26)
Bonito, hein?

Lp Silva (24:34)
Por saber do evento Igatobodo e toda a movimentação que acontece na cidade, sou, puxa, LP, a gente pode juntar uns amigos meus e começar a fazer o Igatobodo, uma parte social, que é juntar uns dentistas, uns médicos lá, fazer recrutamento de médicos, a gente fazer uma troca, a gente vai para o evento de vocês, gente faz o atendimento lá. Cara, foi a parada mais legal que eu fiz nos últimos dois anos, porque a gente faz uma troca, hospedagem, alimentação, e eles

vão tocando esse projeto paralelo que é trabalho de dentista com as crianças, né? Que gente sabe que é

grande problema que a gente tem hoje instalado no Brasil inteiro que é a parte de educação bucal, E a gente consegue também trazer, gente teve uma vez aqui alguns outros médicos neuro, gente tem osteopata que faz trabalho, meu Deus, ela tem trabalho aqui, meu amigo, de reabilitação nos idosos da comunidade que tipo, mãos de fada, ela sai lá de Brasília, vem pra Igato, fica aqui, tem mais ou menos mais de dez pessoas por dia.

reabilitando essas pessoas. Então você começa a enxergar assim que a escalada hoje ela é algo na comunidade que já faz parte do convívio das pessoas sabe.

João Agapito (25:47)
Não, assim, LP, é muito bonito você compartilhar isso, Quantas pessoas no Brasil e no mundo conhecem Gatô função da escalada, E aí também trazendo esse trabalho social de médico, de dentista.

Cara, isso é fantástico, de verdade. Parabéns para você e para todas as pessoas que estão engajadas nesse projeto.

Lp Silva (26:12)
É isso mesmo, equipe é grande, A galera rala pra caramba. É o esporte assim, que tipo assim, tá acompanhando a gente assim, a gente tem muito respeito por ele, porque ele mudou as nossas vidas. Você vai, tipo assim, conhecer LP de 2009, quando eu comecei a escalar, e LP hoje. Não tem comparação, sacou? Eu tenho outro irmão que é exemplo, meu irmão é até mais ainda, o Vinícius.

o rastro que você conheceu. O cara começou a escalar, irmão, hoje ele não bebe. O cara nunca fumou, O cara virou atleta, ele não janta mais para manter ele bem fisicamente, para escalar bem. Então você vê o esporte chegar assim e você vê que ela consegue educar as pessoas, transformar, sabe? E a escalada na ligatura fez muito isso com a gente, principalmente com o ciclo nosso de amigo que começou a escalar.

João Agapito (26:38)
Conhece?

Lp Silva (27:01)
A gente os empreendimentos outras coisas que ninguém tinha a visão de empreender alguma coisa isso já surgiu porque começou a chegar muita gente falou poxa por que não a gente recebe essa galera já que gente está aqui ralando para manter abrir boa detrida aberta tudo arrumadinho vamos pensar ter lugarzinho para receber aí foi onde é que surgiu o rosto e gato lá atrás e hoje onde é que gente está aqui hoje buscando finalizar uma obra com para atender melhor essa demanda que está crescendo aqui ligado.

João Agapito (27:01)
Cara isso é muito irado. É...

Lp Silva (27:31)
Então a gente vê com a evolução, a escalada ela está ali também dando a sua força financeira de forma efetiva na comunidade.

João Agapito (27:32)
Irado. E aí...

Sim, você comentou dos seus irmãos, se eu me lembro bem, bom, aí tem o Rasta que é escalador, brabíssimo, tem o Pablinho que é corredor de montanha também, maluco. Pô, o mais fraco da sua família aí corre uma maratona no domingo de manhã, né?

Lp Silva (27:51)
É, Pablinho? Maluco, que é monstro.

Sou eu.

O mais fraco sou eu.

João Agapito (28:02)
Que isso, velho. Vocês são bravos. Ô, LP, mas Conta pra gente pouco mais sobre como que aconteceu o convite pra você carregar a tocha olímpica. Como que você saiu aí de uma vila de 500 habitantes...

que é de difícil acesso no interior da Bahia para carregar a tocha olímpica. Conta pra gente.

Lp Silva (28:23)
E

Rapaz, esse negócio da Tocha Olímpica aí foi uma resenha, meu amigo. Vou te falar, viu? Quando eu abri o meu e-mail, eu não acreditei, não. Eu lá, comitê olímpico, que conversar com você. Que parada de comitê olímpico, porque você quer conversar comigo? Isso aqui deve ser alguém... É vírus. Já puf, lixeira.

passe tempo chega outro e meio eu beleza aí me chega outro e meio tipo assim não vou que ele tá pra ver o que isso tomara que não seja nada de vírus

João Agapito (28:55)
Não, então assim,

queriam muito que você carregasse a tocha ali, porque não foi email, foram alguns, né?

Lp Silva (29:00)
Foi... Não, eu... cheguei até a pedir socorro, Negavá, né? Negahonad aí, todo mundo conhece, de Goiás. Eu falei, Negavá, eu tô com problema aqui, moço. Tô com negócio aqui do comitê Olímpico, é... Rapaz, 16 páginas, amigão. Lei isso tudo, depois imprimi... Não, não vou dar conta, não. Ele falou, LP é o quê? Eu vou te ajudar. Tipo assim, eu tentei até desistir, velho. Porque era muito informaça. Eu não tava acreditando naquilo, sabe? Que eu ia ser condutor Olímpico, que eu ia ser...

que eu ia pegar na tocha Olímpica, eu como é que vocês me acharam? Aí uma hora qualquer eu vou responder e-mail dele, cheguei e respondi para os caras, eu que que está acontecendo, eu sou aqui de gatú, é verdade isso mesmo, eu lembro muito, tem o nome do cara que eu não esqueço, Bruno Mato, esse cara falou, dá seu Zap para a fazer contato direto, porque está chegando cima, a quer que você seja condutor da tocha Olímpica, porque a gente teve boas indicações de você.

E a escalada no ano que vem, na próxima Olimpíada, vai ser esporte olímpico. E a gente ficou sabendo do seu trabalho como escalador. falei, poxa, é verdade, então vamos lá. E aí começou aquela ultramaratona, amigão. Os caras mandam documentos, chega aquilo. Meu Deus do céu, vou desistir, isso não vai dar certo. Aí os caras, vai, tenta. Até chegar o dia que eu recebi, assim, de fato. Você vai ser condutor olímpico no lugar tal, do dia tal e tal tal.

Nossa, é verdade, vai acontecer. Eu fui, tive que ir lá para lugar aqui próximo de Lençóis chamado Rio Mucugezinho, Poço do Diabo. eles não vieram para Igatu por conta de... Aquela coisa, não é isolado, nem onde os aqui entrem. Os caras têm uma estrutura muito grande. não estava fácil assim a comunicação. Eu falei, velho, vem para Igatu, eu moro aqui, não tem o que lá, pé de escalada, onde tudo acontece, onde a minha vida está enraizada.

João Agapito (30:29)
Onde? Onde foi?

Lp Silva (30:54)
Falei, então eu aqui no mapa não tem como, e gato a não consegue chegar. Falei, beleza, onde é que é? Aí me mandaram ir lá para Mucugezinho. A gente foi para lá e foi muito engraçado que na hora assim, não sei o que lá, chega gringo para mim assim e fala, não sei o que, Climber, meu irmão. O cara está me xingando, mas o Climber eu conheço. Eu falei, yes, yes. Aí os caras, pensei, acabou de falar que você vai escalar. Eu falei, cadê a galera para ajudar? E foi muito engraçado, velho. Chega lá, os caras tinham highball gigante.

João Agapito (31:10)
e

Lp Silva (31:21)
falou LP que é para você escalar, eu falei rapaz aí ligão não, não é negócio mais seguro porque escalar não pode ter erro primeira coisa que é fazer a brincadeira e ficar vivo e daí a fez boldezinho legal assim foi muito legal todo enredo porque aconteceu né de fato

João Agapito (31:36)
Sim.

Cara, o LP,

isso é tão foda. É simplesmente muito foda você fazer trabalho que chega... trabalho que chegou para o Comitê Olímpico. Você já parou para imaginar quantas pessoas no mundo todo... Sei lá, pessoas que nasceram cidades grandes da Europa, Estados Unidos, atletas, com toda a infraestrutura, com todo o suporte, com tudo.

que são do esporte, que sonharam, que sonham dia poder ter uma oportunidade, que é carregar uma tocha olímpica. E você, dado todo o contexto, com o seu trabalho, conseguiu fazer... Eu acho que o negócio é fantástico. Mas o que você acha que isso representa, no final das contas, para o IGATU, para o movimento da escalada, para você?

Lp Silva (32:36)
Ô meu amigo, te falar que demorou pra cair a ficha, viu? Não encava na minha cabeça porque eu tô sendo condutor, sabe? Aí com passar dos anos, rapaz, vou te falar que isso talvez não foi 2016. Cara, uns dois anos depois que veio cair a ficha de fato. Tipo assim... Véi, como é que essa galera me achou? Que doidera é essa, velho?

E voltando assim, teve uma parte muito chata que quando eu queria construir aqui o abrigo que estamos finalizando...

A grana sempre está no dinheiro, uma coisa que está sempre correndo atrás dele. E eu cheguei a pensar vender a tocha olímpica, você acredita?

João Agapito (33:18)
não, então você ficou com a tocha olímpica?

Lp Silva (33:20)
Fiquei porque fui procurado por dos patrocinadores, inclusive. O comitê fez contato, aí patrocinador, era a Nissan, apadrinhou. Só que a gente não recebia dinheiro, não recebia nada financeiramente. A gente ganhava troca, era com o patrocinador nosso, dava a tocha e tinha uma réplica original da tocha ao dentro de casa. E com isso, eu tenho... Eu tenho ela guardada casa. Bonitona, e ela está arranhada, irmão. Porque na hora que eu fui escalar...

João Agapito (33:40)
Você ainda tem... Você ainda tem essa...

Lp Silva (33:48)
Os caras fizeram esquema lá, que eu já virei o bode num bote, catei a parada, ela pegou assim, bateu na pedra, ela arranhou a minha marcada. Ela tem uma marcada... É, se não tiver arranhão de pedra não vale, E com isso, cara, quando eu... Tem uma época assim que eu me apertei pouquinho, eu pensei vender essa parada, pra fazer dano, pra terminar as coisas, Mas ao mesmo tempo, minha mulher chegou assim, puxou a minha orelha assim na hora, falou, pá, pára aí...

João Agapito (33:56)
Uá, mas é a tocha do escalador, Pô, tem que ter uma marca, vai.

Lp Silva (34:17)
não vai ser fácil e

João Agapito (34:23)
O LP, que bom que você não vendeu essa tocha, sabe por quê? Porque isso aí cara, não tem valor, isso aí é como se fosse uma medalha olímpica, entendeu? Isso aí, LP, daqui 200 anos vai estar lá no museu de Gatuh, entendeu? Cara, é negócio, marca, é uma história assim...

Lp Silva (34:29)
Exatamente, irmão. Foi isso que pesou.

E foi justamente isso, começou tudo virar as costas, falou, velho, quando é que vai ter os olimpíadas de novo? Aqui no Brasil. Quando é que vai ter outro filho de garimpeiro que vai ser condutor olímpico? Que diga, rapaz, aí começou virar as e não. Acabou. Se a Tócho vai ficar quieto o resto da vida dela.

João Agapito (35:05)
Que decisão sábia viu? Dá os parabéns aí pra Diomola por favor tá? Ô LP, aí bom, falando pouco mais sobre as suas experiências aí como o guia de turismo na Chapada Diamantina, você já deve ter vivido bocado né?

Lp Silva (35:10)
Ela me arrochou, irmão.

Eita, Lerele, seguir na Chapada Diamantina é legal, você vive muita coisa, vê muitas histórias. Uma troca de experiência intensa, Pense uma das... Isso que é uma das funções mais... É levar o cara num destino, pegar ele no Iigatu, soltar ele na rampa do Caim, ver o quente do Rio Paraguassu, ver o Vale do Pati, isso é o de menos, Lidar com as pessoas, naquela troca de experiência, que é uma coisa que você tem que saber lidar muito, porque são pessoas...

João Agapito (35:31)
E assim...

Lp Silva (35:53)
que estão vindo de outras realidades, outros convívio, vida está passando por momentos difíceis.

Mas o que mais me chama a atenção é que a galera que chega aqui para a guiar, elas até que tentam, sabe, fazer aquela conexão com a natureza, né, desmincular pouquinho desse meio dos centros urbanos. Mas não é fácil, né, amigão, porque tudo é muito...

Muito complicado hoje. A vida não está fácil, não é fácil você sobreviver uma cidade grande. E também a forma do tempo. E quando o Neguinho chega aqui, você vê está todo mundo naquela correria, De querer ter ali três dias, amigão. Três dias para você ficar contato com a natureza. Aí eu falo, caramba, Como é que pode? estou aqui dentro desse trem o tempo todo. E eu vejo a galera se matando, velho. Trabalhando o ano todo para ter três dias de rolê.

Mas tá tudo cabeça pro ar mesmo.

João Agapito (36:51)
Quem tá certo, OLP, quem tá certo é você, tá?

Lp Silva (36:52)
Que doideira é essa?

João Agapito (36:56)
Ou LP, mas aí,

contando

também a questão de sempre estar lidando com diferentes tipos de pessoas, turistas de diferentes lugares,

João Agapito (37:07)
teve alguma situação,

você percebeu

como diferente as realidades são dessas pessoas e a realidade sua, por exemplo.

Lp Silva (37:17)
eu tenho uma história, essa aqui eu vou contar e ela vai ouvir esse podcast, depois ela vai querer me... não vai me resenhar. Eu tô aqui no Igatu, inclusive fui lá no Paraguasul e uma amiga... hoje ela virou minha amiga, né? Ela me escreve.

querendo fazer uma trilha assim, fazer o primeiro contato nosso. Aí eu dei as opções, rolezinho mais curto, rolezinho mais longo e eu rolei com pernoite. Ela me escolheu o rolei com pernoite, falei caramba, vamos lá, Aí fui lá na pousada conhecer a cliente, cheguei lá e falei, endanado. Eu sozinho, como que vamos? Começamos o roleio, véi. O trek, três dias de trek. Quando chega na água escura, sol danado.

Eu já joguei a mochila e pulei pra tomar banho, né? Cara, a mulher não entrou. Ela falou, como é você entrou nessa água LP? oxe, isso aqui é coisa mais segura que vir. Ela não tinha coragem de entrar na água. Ela chegou e falou, amigão, dessa vez o desafio maior é dormir fora de casa na barraca. Eu falei, cara, como assim, meu amigo? Dormi na barraca.

João Agapito (38:18)
O Nog

E bom,

som parênteses, acho que pra quem tá escutando a gente e não conhece a chapada de amantina, a água escura que você tá falando é cor de Coca-Cola, né? Então assim, é negócio que é zero convidativo, é zero tipo, aí, vejo, quero dar tibum. Muito pelo contrário, ela até assusta, né?

Lp Silva (38:35)
Exatamente.

Ela se assustou porque é uma água muito escura, você não enxerga nada. Só que para nós aqui, já foi chegando pulando de cabeça, mergulho, tomando banho. Cara, hora que ela me falou isso, sol que estava de uns 30 e poucos graus, 33 graus, não acreditei. Eu falei, Jesus, que mundo que essa galera vive que tem medo de pular numa poça da com Jesus. Aí eu falei, rapaz, começou aí, é onde começa a cair a ficha, Você fala, cara...

Eu não tenho coragem de andar numa rua de uma cidade grande. Aqui a minha tem medo de pular na água. Bora. O banho da noite foi o mais engraçado. Eu eu vou tomar banho, minha amiga. Bora lá tentar tomar esse banho e vamos embora. Eu entrei na água com facão, amigão. Fala, não tem bicho aqui não, pode vir. Rapaz, ela não entrou. Ela tomou banho de cuia num rio que é justamente o Parágua Sul, é considerada a Caixa de Água da Bahia, piscina gigante.

de

João Agapito (39:41)
Que bizarro, né?

Hum.

Sim, falando desse turismo de aventura, tem nem como comparar, Viver pouquíssimas aventuras se comparado a você, eu acho que... Acho não, a maior aventura da minha vida foi aquele rolê que a gente fez no Vale do Paraguá Sul. Cara, aquilo foi muito louco. Se eu me lembro bem, isso foi há uns três, quatro anos, eu imagino.

Lp Silva (40:17)
Nãããã

João Agapito (40:25)
Mas eu lembro que antes de mais nada, estava levando a gente lá como guia, mas você não estava trabalhando, era grupo de amigos. Então, eu lembro de você falar que eu, turista, nem levo aqui. Chega cara que eu não conheço, me paga X reais, eu nem levo porque isso aqui não é para todo mundo.

Lp Silva (40:33)
Foi.

Exatamente, O track do aquele que a gente fez naquela época é pra poucos, não é todo mundo que gente leva ali, porque a sabe das condições de risco, de acidente, é lugar ainda pouco explorado, Então não dá pra brincar, na natureza não se brinca. Vacilou, ela te

João Agapito (41:07)
eu lembro quando a gente chegou, que foi essa trilha, nossa, duríssima e tal, e aí quando gente chegou no local onde a gente ia acampar, que era ali de frente pro Rio Paraguá Sul, gente ficou ali uns dias,

e depois a gente fez aquela trilha que a gente foi para uma cachoeira que a gente entrou nos canyons. Para ser muito sincero, eu me senti no Jurassic Park. Cara, foi uma sensação muito incrível. Uma cachoeira gigantesca no meio de uns canyons, a gente andando cima das pedras, essa água escura que você não vê o fundo. Eu já imaginando ali, nossa, cara, esse aqui é o ninho da Nakonda, aquele negócio. E aí eu lembro quando chegou lá...

Lp Silva (41:27)
Sim.

João Agapito (41:48)
Você falou assim, galera, eu tenho certeza que Menos de dez seres humanos viram essa cachoeira que vocês estão vendo agora. Isso para mim... Sim, só de eu contar isso, eu juro para você, cara, eu me arrepio, porque é negócio muito intocado, é muito louco.

Lp Silva (41:57)
É.

muito

tocado a gente visitou uma área que é inóspita, o trem lá é bruto mas é lindo né aquilo né o preço que se paga né

João Agapito (42:15)
é o preço que se paga.

a aventura não terminou, ela só começou. eu estava ali na minha barraca dia, saindo... Não sei se você vai lembrar disso, porque para você não deve ter sido tão marcante quanto foi para mim. Mas saindo da barraca ali, já estava de noite, esqueci minha headlamp, voltei para a barraca, peguei a headlamp, quando eu piso, ligo a headlamp, caramba!

Lp Silva (42:23)
Eu vou lembrar.

João Agapito (42:38)
20, 30 centímetros de mim, uma jararaca preta que, sei lá, segunda mais venenosa da América Latina a 20 centímetros do meu pé, cara. Foi o... Que isso, velho? Foi o Foi o mais perto que eu já passei de morrer da minha vida, assim. Nossa, tomara que minha mãe não esteja escutando esse podcast, viu?

Lp Silva (42:50)
Exatamente. Ali vou te falar.

Não, meu amigo, aquele dia ali não era o que me gritaram cobra não sei o que que falaram assim a acófora de Jesus é uma jarará que ela é muito agressiva. Ali pode dizer viu ela falou assim não vou deixar esse menino voltar inteiro porque mano ela não vacila a jarará como você chegou no raio de alcance dela se ela tiver ali de bobeirinha acordadinha ela vai te dar uma picada

E era uma bem grande, ela era de 1,5 uma patrona como gente chama.

João Agapito (43:29)
Não, e eu tô contando isso agora dando risada, mas na época eu fiquei bem reflexivo, assim... Cara, eu passei literalmente 20 centímetros de

e assim ia ser uma morte dolorosa ser uma morte terrível e e assim e gato não ia ter soro antiofítico né teria que às vezes pra andar aí então assim até eu chegar a sair da trilha vocês me carregando eu chegar andar aí cara já tinha morrido e teria morrido passando muita dor então assim nossa senhora loucura

Lp Silva (43:41)
Hehe

Não tem.

A Bem Maria, mas deu tudo certo, né?

foi bacana, foi uma

João Agapito (44:05)
foi rolê assim,

muito único e me marcou demais, de verdade,

Lp Silva (44:10)
faremos outros melhorios.

João Agapito (44:13)
A Jill Mola fazendo feijoada pra gente lá de frente ao Rio.

Lp Silva (44:18)
Duas feijoada, feijoada normal e feijoada vegetariana. Rapaz, aquilo ali foi único. Você acredita? Aquele movimento que a gente fez ali embaixo, pra gente ir pra lá curtir o rolê, pra descansar pouco assim, o climb, descansar os dedos, como a gente fala, foi épico.

João Agapito (44:25)
Loco! Muito... Não, muito massa!

Essa é palavra, épico. e aí, LP,

você também é mestre construção com pedra bruta,

Lp Silva (44:45)
Pois é, amigo, olha que doideira, né? Esses dias rolou encontro bem bacana, assim, eu com amigo assim, das antigas, sabe?

Nada mais, nada menos do que o Antônio Caçapa, velho! O maior e mais talentoso cortador de pedra que eu já vi passar aqui na região da Chapada de Amantina. E eu tive meu primeiro contato com pedra com esse cara, há muitos anos atrás. Só que depois eu parei, não quis seguir na vida porque é trabalho muito brutal, né? Com os passados anos, né?

Veio que a necessidade de construir... Eu queria ter o sonho de ter pelo menos uma casinha com a fachada de pedra.

Aí quando eu comecei a cortar assim no primeiro dia aquela coisa eu falei, poxa será que é isso mesmo? Passou-se mês, eu tava começando a cortar pedra assim perfeitamente, eu puta que pariu, Jesus amado. Tá aí, velho, eu sei cortar pedra, eu sei fazer isso. Tipo assim, não vou te dizer...

que eu vou seguir essa profissão de corta de pedra, mas é uma coisa que

Tem também toda a parte do resgate histórico, que isso é feito que querendo ou não cortar pedra, meu amigo, ele começou lá no garimpo também. Porque o garimpo é trabalhado de uma forma de rebaixo. O cara vai abrindo aqui a frente de serviço e ele tem que estar com a área que está sendo trabalhada na parte alta e todo esse material tem que descer por gravidade para a parte baixa, onde é que vai estar a finalização do garimpo. Só que com isso, às vezes, nesse decorrer desse caminho...

tem algumas pedras e não são pedras que os garimpeiros conseguiam contornar elas tinham que ser feitas a remoção dessa pedra então lá também o corte de pedra já era aplicado lá no garimpo assim como também a forma de arrumar as pedrinhas que a construção civil que é os pedreiros

João Agapito (46:34)
é uma engenharia bizarra, assim, você pensar que os garimpeiros naquela época com recursos limitadíssimos já estavam fazendo isso, Coisa que muita gente hoje, 2024, estudou a vida toda, fez curso, sei o quê, não consegue fazer. Então, assim, OLP, na moral, você é muito foda, Porra, você é escalador, carregou a tocha olímpica, atleta de mountain bike...

tomara que o Rodrigo Wilbert não esteja escutando esse podcast, senão ele vai ficar com inveja de você, Você é bravo demais, velho. O LP, A gente tá caminhando pro final da nossa conversa aqui, mas... Dá pra ver nos seus olhos que você ama e gatou, né? Diz pra gente,

Lp Silva (47:04)
É, pode saber quem é esse doido aí.

João Agapito (47:25)
de 0 a 10. Qual é a chance de você dia se mudar de gato?

Lp Silva (47:31)
Isso!

João Agapito (47:33)
É zero, né?

Lp Silva (47:33)
Tem como não.

Até... pô, não tem chance nenhuma assim, velho. Você viaja, você conhece lugares legais, lugares bonitos, mas não dá,

João Agapito (47:46)
Como a própria Dilmola, sua companheira, sabiamente colocou, eu vivo onde vocês tiram férias. Então, você já mora no lugar onde a galera vai para tirar férias. O que você vai sair daí?

Lp Silva (47:52)
Vixe!

Verdade, meu irmão, não me vejo saindo daqui não. De fato, não me vejo mesmo.

João Agapito (48:02)
Irad. Irad.

E assim, qual que é o seu sonho para o futuro da Vila de Gato? Vamos dizer assim, lá, daqui a 5, 10, 20 anos.

Lp Silva (48:16)
Elele, rapaz, é... Vamos lá, essa é uma pergunta que eu sempre me pego, vou fazendo assim, pensando que vai ser de gatul daqui 10, 15 anos, eu acho que nem tanto, mais daqui 50 anos, sabe? Eu acho que é isso. Tentar trazer o máximo de informação, pelo menos eu, né, velho? O que eu tô vendo agora no passar dos tempos? Tem muita coisa se perdendo, meu amigo. Muita informação bacana.

principalmente do que é, do que se trata da nossa comunidade. São coisas que estão aqui no nosso meio, que pessoas às vezes não têm conhecimento. A gente está... tem visto muito isso, com a informação, a tecnologia, a internet, principalmente. Ela tem papel bacana na vida da gente, tem, que é isso aqui, é a troca. Eu te vejo do outro lado do mundo, na Alemanha, eu aqui de gatoto, eu te vendo, estou conversando ao vivo com você.

Mas também tem o lado da moeda que a internet hoje está deixando esses jovens muito presos ao celular. E você vê, cara, a minha infância, irmão, foi no meio do mato, ou trabalhando para a sobrevivência, ou com meus amigos curtindo, acampando, fazendo bivac, mas estava sempre no meio do mato.

Hoje eu vou ver que às vezes tem criança aqui, criança não, pessoas de 20 anos que nunca fez uma tria, nunca dormiu no mato. Não estou falando do cara da cidade grande não, esse cara ele está no direito dele não ter que dormir no mato, não é a realidade dele. Eu estou falando de amigos meus aqui de gatu, sabe? Então você vê que muita coisa, manifestação cultural, se a gente não tomar cuidado, se a gente não bater o pé agora e falar assim, não, tem que pegar essa molecada, tem que mostrar pra ele que gatu não é só o selo.

só ficar na internet e tem muita coisa que volta e dá para ser explorado que é o que vai manter esse legado do que é isso hoje que a gente tá falando daqui a 50 100 anos se tudo isso que foi vivido no IGATU não ser repassado de uma forma bem coerente para que a galera pegue esse filme da coisa e tome gosto do que é IGATU e passa a cuidar de IGATU, mano daqui 50 anos ninguém vai ouvir falar

Então, minha missão hoje, eu meus amigos, as minhas gerações que a fala, é tentar trazer...

principalmente a comunidade local, mais para perto do que é de fato o lugar que eles viram Sacuvela, para que tenha mais consciência e que passe até mais preservação e que essa coisa se mantenha para gerações futuras, porque a gente vê que a demanda, a especulação mobiliária tem chegado muito grande e se não for freado de forma bem corrente vai passar por cima.

João Agapito (51:00)
sim.

LP, palavras bonitas, de profunda sabedoria, você pode ter certeza que o trabalho que vocês vêm fazendo com o IGATU Boulder, exemplo, vocês estão aplicando,

as crianças na escalada, vocês estão fazendo esse trabalho de perpetuação do legado de Gatú. E olhando para o médio e longo prazo, eu sou muito otimista no sentido de Gatú continuar com as suas raízes, a história, os costumes, a cultura, se perpetuar. E isso é muito bonito, isso é muito inspirador e dos principais motivos pelos quais...

Eu comecei esse podcast foi justamente trazer conversas com pessoas como você, entendeu? Que inspiram, que transformam e assim, muito obrigado, cara, de verdade. Esse bate-papo foi simplesmente incrível, velho.

Lp Silva (51:58)
Valeu meu amigo, que isso, eu que agradeço o convite de coração mesmo, Muito obrigado,

João Agapito (52:03)
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