Rádio Grilo

04. Amauri Coutinho: Trabalho dos Sonhos com a Latitude 51, Alta Montanha e os Desafios da Altitude

João Agapito Episode 4

O Amauri é montanhista e dono da @latitude.51, empresa que promove o turismo de aventura em lugares épicos pelo mundo.

Apaixonado por montanhas desde pequeno e com passagem pelo Exército Brasileiro, ele já guiou expedições em diversos destinos como Patagônia, Pirineus, Alpes, Nova Zelândia, Canadá, Escócia, Dolomitas, Eslovênia e muitos outros.

Seu currículo de montanha inclui também ascensões ao Aconcágua na Argentina, Monte Elbrus na Rússia e Mont Blanc na França.

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João Agapito (00:00)
Fala galera, sejam muito bem vindos a Rádio Grilo, o seu podcast do Mundo Outdoor. E no bate-papo de hoje, a vai falar com o Amaury Coutinho, que montanhista e dono da Latitude 51, uma empresa que promove o turismo de aventura nos lugares mais bonitos do mundo.

Apaixonado por montanhas desde pequeno e com passagem pelo Exército Brasileiro, ele já guiou expedições lugares incríveis como Patagônia, Pirineus, Alpes, Nova Zelândia, Canadá, Escócia, Dolomitas e por aí vai. Além disso, seu currículo de montanha inclui também ascensões ao Aconcagua, na Argentina, ao Monte Elbrus, na Rússia e ao Montblanc, na França.

Nesse bate-papo a gente vai falar sobre tudo isso e também sobre como é ter o emprego dos sonhos levando pessoas para conhecer todos esses lugares sensacionais pelo mundo. Bora lá?

João Agapito (01:20)
sábado de manhã, antes de encontrar São Paulo, imagino que a probabilidade deva ser muito baixa, né?

Amauri (01:24)
muito baixa porque

na verdade final de semana eu não tenho dia nem segunda nem sábado pra mim é tudo igual mas é que normalmente eu viajo mesmo o final do ano para as expedições que começam agora né, hemisfério sul aí eu fico, vou embora mas esse ano aqui eu resolvi passar o natal São Paulo e só embarcar depois porque dia 26 eu tô indo né

João Agapito (01:40)
Sim.

falando sobre... Bom, Como é que eu descobri sobre o seu trabalho? A gente estava... Verão Berlim, alto astral aqui, a gente estava num lago, e aí estava o Fernando, estava a Marina Sonora e tal. E aí ele estava comentando justamente... A gente estava conversando sobre viagens, e aí ele falou que pai trabalhava com viagem e tal, e ele começou a contar o que você ia fazer.

Amauri (02:11)
e

João Agapito (02:12)
Como assim? é possível. Ele falou sobre a latitude 51, que vocês levam pessoas para os lugares mais incríveis do mundo e literalmente do mundo, Europa, América do Sul, Oceania. Eu falei, meu Deus, isso é simplesmente o trabalho dos sonhos. Aí, por cima, ele ainda falou assim, você sabe o que é o melhor? Meu pai, a empresa está expandindo, então ele está meio que sobrecarregado.

Amauri (02:21)
Sim, sim.

É.

João Agapito (02:36)
Estava até contratando uma pessoa e eu falei, meu Deus, não falo duas vezes, não, porque senão vou largar meu trabalho aqui na Alemanha e vou acabar me candidatando para esse trabalho.

Amauri (02:39)
E

A

porta está aberta, a gente vai conversar o você quiser. minha ideia é crescer mesmo, Preciso expandir. Não tem como. Eu tive uma época que quando eu comecei com a latitude, eu eu vou ficar num padrão de trabalho legal, bacana, vou trabalhar bastante, mas eu não quero crescer muito. Mas isso não existe. Se você ficar num...

num patamar único, você acaba morrendo, E todos os clientes já fizeram a viagem, você tem que ter viagem nova, os clientes acabam acostumando com você e querem, pô, o que que tem esse ano de novidade? Então não dá. E aí você começa a abrir muito à frente, como eu guio todas, né? Agora eu tô mudando isso. Esse ano já tem uma garotada guiando pra mim aí nos Alpes aí, E também contratei uma guia suíça. Então a coisa começa a dar uma, sabe, uma calmada pra mim, porque eu preciso abrir

João Agapito (03:16)
Sim.

Amauri (03:36)
as frentes. Está tendo uma tendência de mercado também,

João Agapito (03:39)
DANGER

Amauri (03:41)
está parecendo muito cliente, que quer uma coisa pouco mais confortável, sem abandonar a natureza. Mas uma coisa não tão rádio como eu fazia, porque eu parti com uma linha pouco pesada. Trequens muito duros, escaladas, travessias, muito complexas. E isso é nicho, ainda mais para brasileiro, é diferente do europeu. O europeu está acostumado com isso, está na cultura europeia fazer essas coisas, mas aqui no brasileiro não.

Então eu estou começando a uma modificada nisso, continuar com os trackings pesados, duros, mas também ter uma divisão da empresa de tracks mais... Tem aquela turma que não quer ralar tanto,

ter pouco mais de conforto sem

João Agapito (04:22)
sim.

Amauri (04:24)
deixar a natureza. Mas atividades diárias onde ele possa retornar com local, hotel ou refúgio, ou algum local bacana onde ele pode tomar seu banho, dormir bem, descansar bem, dormir numa cama legal, tomar seu vinho. No outro dia...

João Agapito (04:27)
Sim.

Amauri (04:39)
de novo vão pegar, mas ele precisa desse conforto. é uma coisa que eu estou modificando e é tendência. Estou estudando muito sobre isso e não tenho que fazer. Eu acho que a grande fatia do mercado está aí, não é no aventureiro puro,

João Agapito (04:52)
É.

E aproveitando que você já entrou nesse ponto de como você começou a latitude 51, então cumprindo treco pouco mais raiz, vamos dizer, só voltando pouco mais para as origens. Seu começo no montanhismo foi quando você era cadete lá na Amã e...

Amauri (05:02)
Sim.

Cara, é... É, o que

aconteceu foi o seguinte, na verdade, o dia diante. Meu pai sempre gostou muito de natureza. Então a gente, desde moleque, ele me levava pra pescar, acampar, isso, cara. Eu ser garotão, acho que não lembro como o Brasil era nisso, nem sabia como é que era, Que nos anos 60 e 70, cara...

era seguro. Na página Fusquinha, jogava a barraca no porta-malas, que era na frente, né, a porta-malas do Fusca, saía pra acampar na beira do rio, no meio do estado de São Paulo aqui, acampava e passava a sexta, ao domingo, acampado, uma aquelas barraca de lono de escoteiro, pescando e cozinhando peixe. Então, pô, me amarrava nesse negócio. Quando todo mundo falava eu lembro dos ricos, eu queria ir pra Disney. E a molecada já falando shopping, que os shops começaram São Paulo,

166, que era o joguinho ali, pulando a faria limba, eu que queria saber nada disso, queria ir pro mato, E aí, depois eu passei no concurso da Escola Preparatória de Carmes Pesados Campinas, aí o contato com a natureza direto, né, só era uma coisa diferente.

Manombra, militar, mas mesmo assim eu gostava da bagunça. Fui pra mão na academia militar, fiquei 4 anos como cadê, tinha 82, cara. A gente tinha exercício lá que era 7 dias no Parque Nacional de Tatiaia.

E era uma sessão especial da academia militar, chamava CESP, era sessão de instrução especial, a ia aprender a escalar, só que escalar da militar. Mas todas as técnicas de escalar eram ensinadas pra gente, cara, ali eu falei, porra, gostei do babado.

E todo mundo odiou, que negócio foi uma ralação, quase mataram a gente lá, dormia. frio de cacete, isso 1982, o clima mudou muito, 1982, O inverno era inverno aqui no Brasil. Porra, temperatura bate zero direto lá na

João Agapito (07:02)
E você tá falando do pico das agulhas negras?

Amauri (07:02)
É, porque nas aguias negras, ali na

João Agapito (07:05)
E você tá falando do pico das agulhas negras?

Amauri (07:05)
É, porque nas aguias negras, ali na região

do Parque Alto, na parte alta do Parque Nacional de Tatiaia, né? Então, cara, a escalou prateleiras, o agulhas, escalamos o côto, escalamos o diabo a quatro na mesma semana. Foi pega pra capar. Muita gente nunca mais quis dizer montanha na frente, né? E eu, ao contrário, comigo, porra, acendeu o neve. Nossa, isso aqui é muito bom. Aí, cara, meus finais de semana como cadete, era no Parque Nacional de Tatiaia, escalamos. E por coincidência...

como eu era atleta na época, eu era da seleção brasileira,

cem, inclusive meu recorde

João Agapito (07:38)
campeão de atletismo inclusive, né, militar?

Amauri (07:40)
cem, inclusive meu recorde

João Agapito (07:40)
campeão de atletismo inclusive, né, militar?

Amauri (07:43)
da mão é meu até hoje, que eu bati 82, nunca mais bateram, todo ano eu ligo, eu sei que o Olimpíada lá março, abril eu ligo pra lá, olha...

João Agapito (07:46)
Ô louco!

Amauri (07:53)
aqui, jornalista tal, queria saber se o recorde dos 200 metros foi batido. Não, não, é de tal de Cadete Amauriou, muito obrigado, pá, eu amo a cerveja, Então, foi 82...

João Agapito (08:05)
que é isso cara, é muito bravo porque,

bom, se você olha no atletismo as olimpíadas, basicamente quase toda olimpíada estão quebrando recorde, o seu tá lá desde 82

Amauri (08:12)
Tá lá, já tem 40

anos, 42 anos com a Euclid e meu lá.

Mas voltando, aí eu descobri a escalada, a produção é muito legal, então eu comecei a me dedicar desde 82 a escalar.

e com isso os trackings, as travessias. Aí eu descobri que a senhora da mantequeira aqui São Paulo, Rio, Minas, tem mundo de opções. Então eu conheci esse troço de AZ e quando eu consegui pouquinho mais de grana, 83, 84, fui participar do campeonato sul-americano de atletismo no Chile, cara, aí eu torpei com a cordilheira dos antes.

Aí eu vi, porra, isso que é montanha, né? Eu tava acostumado com a mantequeira aqui, porra, foi 300 km de montanha, vai 200, vai, desde o começo dela ali Campos de Jordão até a Vinganeira. E a curdileira, cara.

João Agapito (09:08)
E a cordilheira já é impactante assim, quando você está chegando de avião, você já vê, né? Aquela imensidão de montanha, é baita impacto.

Amauri (09:11)
Cara, quando você está pousando Santiago,

você já virou com carga do teu lado direito, São 7 mil metros de altitude. Eu fiquei louco, né? Porque eu fui aviãozinho na época, a gente foi num Avro, era avião dos Correios, teco-teco, na verdade. E a gente passou bem tirando tinta da cordilheira. Eu olhei aqui e não, eu tenho que vir aqui.

Eu acho que não tinha grana na época, porque isso custa, cara? Essas expedições custam caro. Aí eu comecei a me dedicar a isso, escalado aí, eu fiquei... não fiquei muito tempo no exército, eu como capitão pedi demissão logo no primeiro ano, porque aconteceu uma coisa engraçada comigo, porque enquanto eu tava operação...

fui cadete, atleta, depois comandei pelo ator de operação especial. Estava sempre atividade no campo, eu fui pra... infelizmente, eu felizmente fui pra uma vida capitão. Aí me jogaram numa sala, onde eu tinha que ficar carimbando papel e assinando documento, Aí eu olhei na sala, senti vários capitães antigos, né, que a chama.

Já estavam ali vários anos. Eu quantos anos de capitão? São sete anos. Cara, não é pra mim. E a molecada tava muito pequena. O Fernandes era recém-nascido, o Fê que você conhece, ele é meu. Eu moro, tinha dois anos e meio, e eu tava sendo transferido cada hora pra lugar. Então a molecada não conseguia ter vínculo, de amizade, a família é uma bagunça.

Só mais eu, eu não vou ficar preso nesse negócio pra de após a lutadoria no futuro.

trabalhar numa empresa familiar, que foi bom, foi legal, mas também

João Agapito (10:48)
cara então

você saiu do mundo militar eu pensei que você tinha aposentado pela...

Amauri (10:52)
Sim? Não, não, pedi demissão mesmo.

João Agapito (10:55)
tinha aposentado

Amauri (10:55)
pedi demissão mesmo.

eu tenho uma alta confiança do cacete. Fala, quer saber? Foda-se, eu não vou ficar nessa merda. Por causa de uma aposentadoria quando for velho, né? Cara, eu vou ficar preso a isso e não vou viver? E fazer uma coisa que eu não gosto, cara, eu particularmente não gosto de fazer coisas que eu não gosto.

João Agapito (11:03)
Que isso?

E tanto é que hoje você tem o trabalho sonhos, né?

Amauri (11:13)
Sim, sim,

até brinco com pessoal, porque eu não me sinto trabalhando. Agora, antes de começar o papo contigo, uma empresa que vende equipamentos de trekking.

Me ligou agora, pô, uma hora antes. Cara, a gente tá querendo dar de prêmio para os dois gerentes que bateram as metas aqui, uma viagem para o Chile. Quando é que você tá indo? Cara, eu já desenvolvei uma viagem para o Chile, vamos fazer trekking na região da carretera austral março.

então, cara, eu adoro abrir mapa, seja segunda, seja domingo, você traçar uma rota, escalar uma montanha, fazer trek, saber que você vai dormir na beira do rio, milenar, de formato com glaciar. Então, cara, eu não me sinto trabalhando. Eu tô me divertindo, vivendo. E outra, dá uma grana, me mantém.

Então, assim, o convívio que eu tenho com as pessoas da montanha, os clientes, assim, o cliente que vem pra esse tipo de viagem, normalmente a cabeça do cara é legal. É difícil vir mala sem alça. Normalmente o cara curte isso, então é viagem super divertida, porque além da gente ter uma experiência bacana no local diferenciado, o convívio si, na verdade os clientes acabam virando amigos, virou uma família, né?

João Agapito (12:12)
Que massa!

Amauri (12:31)
Aí eles conhecem outras pessoas também que têm a mesma... pensam do mesmo jeito, aí viram a família. É muito legal.

João Agapito (12:40)
Sim.

Bom, aí então você viu lá que o Exército não era para você, você enfim, largou de mão, deixou a aposentadoria para trás, peitou o mercado privado e que momento que a Latitude 51 aconteceu para você? Como aconteceu?

Amauri (12:44)
Até mais!

Sim. Olha, o que aconteceu,

Eu fui para uma empresa familiar, foi muito legal, gente trabalhava na... Eu também, uma coisa que eu gosto, tá? A parte do agro, não animais, eu gosto muito de plantas. Então, irmão que é agrônomo, meu pai, a gente criou o Viveiro de Mudas, que a gente produzia muda pra cacete, né? E Jigo Assunto, no São Paulo. E foram 8 anos maravilhosos, cara.

Eu, particularmente, acho que eu plantei sozinho mais de milhão de árvores na região. Além da gente fazer isso, eu gostava de reflorestar. A gente tinha oito alqueires lá de terra, eu vivia plantando árvores, cara.

Então eu tenho a satisfação de saber que eu mantive umas três nascentes na região lá, eu, meu pai e meu irmão. Bom, aí passaram-se oito anos, foi complicado, entrou uma concorrência muito pesada, empresas grandes começaram a concorrer com a gente, e isso aqui não vai dar certo. E eu migrei para o mercado de importação exportada, nada a ver,

Mas tem uma coisa muito legal, apesar de ser trabalho corporativo, dizer assim, eu ganhava relativamente bem e viajava muito. Isso me propiciava a uma coisa muito boa, conhecer muitos lugares do mundo e eu aproveitava trek escalada.

João Agapito (14:04)
E esse a gente está falando de Keanu Mori.

Amauri (14:05)
Eu

João Agapito (14:07)
E esse a gente está falando de Keanu Mori.

Amauri (14:07)
Eu entrei

lá 2001, quando teve o atentado lá e fiquei até 2013.

E, cara, como tudo tem tempo de validade, Chegou uma hora, não deu mais certo, eu saí e resolvi tirar tempinho 2013. Eu falei, cara, vou dar tempo porque eu não quero voltar para esse mundo corporativo. E aí, assim, era bacana lá, fiz muita amizade, mas o trabalho corporativo é assim, aquilo meta, dinheiro, faturamento, né?

Equipe A, Equipe C, tem que falar como sei quem, sei... Relatório do inferno. E eu tinha uma equipe de 80 vendedores, cara. E tinha troço na época que se chamava Nextel, acho que você não pegou isso, era radinho, telefone. E aquilo apitava, clic, clic, quando te chamava, né? Imagina 80 vendedores

João Agapito (14:40)
Alô!

Sim, lembro.

Você deve ter pesadelo cumprido até hoje, né?

Amauri (14:53)
Ninguém

te liga pra passar coisa boa, né? Era só abacaxi. Então aquilo, porra, eu tenho trauma quando escuto aquele pipi daqui, né? Aí, o que aconteceu? 2013 pra 2014, eu resolvi dar tempo. Algumas outras empresas concorrentes começaram a me chamar pra voltar pro mercado, mas caramba, não tô mais afim disso aí. E eu resolvi tirar uns dois meses na Patagônia.

João Agapito (14:55)
e

Amauri (15:15)
Uma que eu já conhecia, uma que eu queria conhecer, botei mochilão nas costas, barraca, fogarela, isso, eu tava com 53 anos já. Eu tô com 64 agora, cabra? Você tem ideia? E aí eu resolvi... Com parênteses, Durante esse tempo corporativo, eu resolvi fazer alta montanha.

Então escalei a Concagua, escalei Elbrus, escalei o Diágua IV na América do Sul aqui. Mas aí com 53 anos eu acho que alta montanha daqui pra frente vai ser complicado.

fisicamente a gente começa a perder pouco de coordenação de força e coragem também, E ele começa a meio preguiçoso, Ele falou, eu vou fazer trekking. Aí resolvi sentar a linha no trekking, fui pra Patagonia, fiquei dois meses lá e tem uma amiga minha que chama Denise, é uma ciruginerada.

respeitada aqui São Paulo, ela estudou inglês comigo no Ceulep. Aí, ela vivia falando comigo, dia ela me liga, eu falei, a Borese, tá aonde? Você sumiu? Eu falei, eu tô no Patagônia, vou tirar pegaduzinho sabático aí pra ver o que eu vou fazer da vida. Patagônia? O que você tá fazendo aí? Falei, eu tô andando aí, meio sem direção, tomando cerveja, pensando na vida.

Olha, eu tô com cinco médicos aqui de férias, a gente não tem pra onde ir, por isso que eu tô te ligando. Eu sei que ela já tinha feito trequens comigo São Paulo, mas assim, lazer, Nada profissional. E, puxa, cara, Patagonia... Puxa, eu posso ir pra ir com os médicos, meus amigos? Pode. Olha, a gente queria passar aí uma semana no Parque Nacional Torres de Opanha. Ok, eu faço as exérvias pra você saber como é que funciona, Cara, ela quanto é? Eu, hein? Quanto?

Não, vem aí. É, vem aí. A gente toma vinho, vocês pagam o vinho pra mim, aí tá tudo certo. Aí funcionou, foi uma maravilha. Porque aí eu entendi que eu não sei se é porque cada época de militar, eu comandava, pilotão, companhia, eu tinha essa habilidade de conduzir pessoas e administrar o comportamento delas. Porque na montanha não é só você mostrar o caminho.

João Agapito (16:54)
Não estava nem planejando cobrar, né?

Amauri (17:16)
Você tem que saber que a pessoa está com uma dificuldade física ou psicológica ou nutricional ou sei lá, frio calor. Você tem que pondo isso no eixo. E é grupo, Então nem sempre todo mundo pensa da mesma forma. Tem o cara hiperativo, tem aquele cara que é mais lá dele. Mas ele vê isso na boa e o pessoal voltou maravilhado da viagem.

Aí quando eles estavam voltando, uns amigos médicos de São Paulo, eles já me ligaram. Você vai continuar indo para Patagônia? Você não quer levar a gente com mesma viagem? Não deve. Aí eu falei, quanto é? Eu não, peraí. Vamos conversar direito agora, Isso aqui está virando business, né? Aí eu, aqui na época, na época não existe uma empresa muito reconhecida aqui de trekking aqui São Paulo. Eu peguei o preço dos caras e botei 50%.

Pode vir, cara, os caras nem... pá, vem aquele monte de meca... Isso foi 2013, eu passei o verão 2013 trazendo médicos pra Patagônia, assim, grupo atrás do outro.

E aí foi, eu comecei a trabalhar lá no Parque Nacional de São José do Rio Pânico, até os guias começaram a ficar com ciúmes de mim, era tanta turma.

E aí a coisa deu certo, eu fui para Argentina, para o Pajão de Chautém também, comecei a guiar lá. E aí eu fazia o seguinte, o verão de dezembro a março eu ficava na Patagônia. O restante do ano eu ficava guiando aqui no Parque Nacional de Tatiaia. O pessoal que queria escalar a Rua das Negras, Pazinhas. Mas aí eu percebi que flipou, eu preciso abrir frente nova.

porque esse pessoal que foi pra Patagonia gostou da experiência e vai querer fazer outra coisa. Como eu já conhecia alguma coisa na Europa, falei, por que não os parques nacionais da Espanha, da Itália, da França? Cara, me mandei pra lá, fiquei uns três meses, que é período que a podia ficar, 90 dias, e eu aluguei motorhomezinho e saí fuçando, Eu conheci pouco dos parques, né?

João Agapito (19:11)
sim, sim, sim, 90 dias de turista.

Amauri (19:17)
Aí comecei a montar os tracks na Europa. aí esses clientes que faziam o track no verão, no hemisfério sul comigo, eu ó, você não quer fazer o track no verão, no hemisfério norte? Eu tenho monte de track ali na Itália, na França, na Suíça, na Eslovânia, Zovar, que eu conheci pouco do leste europeu também. Cara, e começou a turma daqui.

no verão pra lá. Aí eu comecei por isso aqui, aí a turma começou a saturar. Falei, meu irmão, barco que eu fazer? pro Canadá. Aí fui pras rochosas, no Canadá, fui pra Nova Zelândia. Fui inventando. E o negócio foi, Só que quando a empresa começou, e o Fê que me ajudou com isso, o Fernando, ele é Marina, a empresa não tinha nome.

cara, não tinha registro de lembrado, eu tinha nada, era negócio totalmente armador, mas funcionava, sabe, com muita responsabilidade. aí o Fê que me sacaneava com isso, foi meu pai, é o tio Amorite, leva pra Patagônia, que porra é essa? Não tinha aquela, tinha uma empresa que São Paulo que levava, tinha não sei o que, ela te leva pra Disney, tinha uma empresa que São Paulo que ela tinha, sei lá, tinha Augusta, se leva pra Disney. Falei, porra, tio Amorite leva pra Patagônia? Aí eu, lá

João Agapito (20:12)
e

Amauri (20:25)
estou na cidade de Puerto Natales, é a porta de entrada do Parque Nacional Porto do Paine. Tem uma placa assim, você está na latitude 51 graus 43 minutos 39 segundos. E o Fê falando com ele no telefone. Falei, pai, você pôr o nome nisso aí, eu crio o site para você, crio a marca, eu faço tudo para você.

Aí eu falei, o que você acha de latitude 51? Ele falou, pai, não sei da onde você tirou isso aí, eu não sei que porra significa. Pá, criou o latitude 51.

João Agapito (20:56)
Mas é

Amauri (20:56)
É, pegou.

João Agapito (20:58)
Mas é

Amauri (20:59)
É, pegou. Foi

meio... Porque pra mim tem muito significado. E aí pegou. O marketing que eu fiz, até hoje, é mais fácil, é o boca boca. Prestar bom serviço.

Realmente oferecer uma experiência. A gente não vai lá só pelo trek. É uma experiência, cara vai lá, não é só caminhada. A gente procura ensinar muita coisa. Mostrar, né? Não ensinar, mostrar... Geografia, culinária, outro idioma, a cultura local.

João Agapito (21:21)
Sim.

Então, a gente está falando de final de 2013, quando você começou a fato encarar a empresa que até então nem tinha nome como de fato business e aí levar pessoas, abrir novas rotas. Mas assim, cara, eu fiquei curioso. Você disse que, por exemplo, na Europa, você já tinha ido para a Europa antes, mas aí você veio para cá sozinha, lugou motorhome e começou a desenvolver as trilhas. Conta mais sobre

Amauri (21:33)
Isso.

E aí

É, o que acontece, como eu já tinha

João Agapito (21:58)
a desenvolver as trilhas. Conta mais sobre isso.

Amauri (21:58)
É, o que acontece, como eu já tinha

vários parques, uma vez eu atravessei, a trabalho, estava saindo da França, vim para Espanha, cruzei parque nacional,

ali tem parque nacional chamado Daigestortes e Stani de São Maurício. Eu cruzei o parque de Cassimbeira, e falei, nossa, que lugar lindo. Parei e consegui, num dia, fazer uma trilha e falei, nossa, que pessoal tem que conhecer. Ninguém sabe nem que existe esse lugar, fica bem na fronteira da França com a Espanha.

Eu já tinha conhecido pouquinho da região de Chamonix na França, tinha conhecido pedacinho das Dolomitas, mas só...

batido o olho, mas aí você começa a ler e falar, quando é de trilhas catalogadas nesses lugares? Porque a estrutura vem de séculos, É diferente aqui, nossa, do Brasil, os parques ainda estão engatinhando, E nem funcionam direito. Lá existe a cultura, porque o europeu começa a andar desde criança, visita todos esses parques, caminho pra tudo lado, é uma coisa natural. não, cara tem que desenvolver isso aí.

testemunhar, fazer isso pessoalmente, entender como funciona a logística, toda a lógica do lugar, como é é o mapeamento, a navegação, e eu meti a cara. Porque eu comecei a olhar na internet, já estava indo bem, Então eu começava a sites de empresas de turismo europeia, cara, trazendo gente do mundo todo para fazer tracking lá, uma coisa mais linda que a outra. não. Com uma estrutura diferente da Patagônia. Patagônia é muito legal, mas a estrutura ainda é precária.

é muito isolado do mundo. Agora melhorou. Parque Nacional de se deu banho entre os 10 mais visitados do mundo, mas os outros parques, cara, a estrutura é muito, muito

João Agapito (23:33)
Sim.

Bom, acho primeiro que você teve uma puta visão de abrir negócio nichado nesse sentido, mas também muito arriscado, eu acho que o trabalho de guia... Acho não, né? O trabalho de guia é trabalho bem... É trabalho muito difícil, porque você está ali, responsável por outras pessoas, você tem que entender.

Amauri (23:46)
Sim,

É complexo né cara?

João Agapito (24:03)
Não só técnicas de escalada, primeiros socos, etc. Mas você tem que entender também da geografia do local, línguas. Então, você já se aventurar no continente novo, desbravar sozinho, meus parabéns.

Amauri (24:13)
Sim. Não, mas sabe, uma coisa aqui,

primeiro obrigado. Mas o que eu penso é o seguinte, cara, você tem que fazer o que os outros não fazem.

Porque eu vejo o seguinte, cara, todo mundo faz a mesma coisa. pacotes para Disney, pacotes para conhecer Roma,

João Agapito (24:29)
É o famoso né? Que você compra...

Amauri (24:30)
tudo bem, mas cara,

cada uma sua, Não tem problema nenhum, não sou contra isso não. Mas eu até admiro, né? Porque tem que coragem de você abrir uma empresa que vai fazer o que todo mundo faz, né? É que nem abrir supermercado lá no Carrefour, porra. Tem que ser bem tudo, Então eu sempre procurei locais remotos, difícil acesso, que precisa de uma...

especificidade técnica, você tem que entender como você falou de navegação, primeiro, só com a sua você área remota, como é que você vai resgatar alguém se tiver problema, você tem que dominar o idioma local, se não souber pelo menos o inglês muito bem, você tem que saber pouco do... não precisa saber o idioma local, mas o básico, Você tem que estudar, porque assim, eu vou muito pro leste europeu.

Porque é local que pessoal não imagina o quanto é bonito. Línguas Balcas, na Eslovenia, que país que eu mais vou ali, cara, por aqui pra mim é fantástico.

João Agapito (25:25)
Mas, Mauri, falando sobre o processo, a questão do trabalho de guia, conta pra gente pouco mais sobre a seleção, porque imagino que assim, vamos supor...

é você ter processo ali, filtro para os clientes, né? Porque se chega cara, fala assim, o Mauri, me leva para escalar o Mont Blanc, te pago aqui X mil reais. Não é bem assim, você não vai levar qualquer pessoa, né?

Amauri (25:40)
Sim, sim.

Bom,

viu, João, uma coisa bem clara. A escalada eu já não coloco mais como no nosso portfólio. A escalada quem quiser vai comigo de hobby. Eu guio trilhas hoje, a gente faz trackings.

Então faz travessia, circuitos, bate-volta, mas a escalar si, quando alguém quer escalar, eu pego parceiro europeu, esse que tem gente aqui comigo fazendo trek, quando acabar ele quer escalar o lombança, eu levo a ele. pego, porque é trabalho individual personalizado, pego a pessoa com toda a segurança do mundo.

João Agapito (26:20)
Sim.

Então, mas por que você acha que é muito, muito risco?

Amauri (26:23)
muito risco de escalada

complexa. Escalada, bicho pega. É muita variável que você não consegue controlar. E tem o lado físico e o lado psicológico que a resistência ao desconforto é uma coisa que pega para algumas pessoas. Ela já escalou algumas montanhas mais simples, mas quando você pega Mont Blanc, como você estava citando, que eu fiz 2007, fiz com 57 anos.

Então é uma pedrada aquilo ali, você vai estar exposto a temperatura muito baixa, muito negativa, você vai estar no gelo o tempo todo e dividindo a trilha com escaladores europeus que a sensibilidade dos caras é abaixo de zero. Então é complicado, cara, você tem que ser raçudo e muita gente não está preparada para isso.

João Agapito (26:50)
E o que

É, mas... Bom, você falou sobre... sobre Mont Blanc. Eu estava vendo dado assim que me surpreendeu. Mont Blanc é uma... se não há uma das montanhas onde mais pessoas morrem, né, por ano. Assim, eu, obviamente, sou leigo, né, mas se você me perguntasse assim, de pronto, de dia, lá, talvez K2, mas Mont Blanc...

Amauri (27:20)
É aqui mais mata.

É, o que acontece é seguinte,

são estatísticas diferentes, você citou o K2, o K2 tem uma mortalidade muito alta de cada 10 pessoas que vão 3 ou 4 morrem, então se 30 ou 40%, babau, vai dançar. Só que o seguinte, quantas pessoas ficam no K2 por ano? 50? 100? 200! E olha lá!

Agora você pega o Mowgwam, Mowgwam está no coração da Europa. Mantanha famosíssima, acesso fácil. Então cara, vão centenas de pessoas por dia. Então assim, percentual proporcional de mortos é realmente o K2, cara, é 30 % de quem escala. Mowgwam é 1%, só que são milhares de pessoas. Então assim, numa temporada morre muita gente Mowgwam, cara.

João Agapito (27:54)
O look.

Amauri (28:19)
E outra, o Mont Blanc tem... vai muita gente leiga. Como o acesso é fácil, é só pagar os refúgios. E outra, pela legislação francesa você não é obrigado a escalar contra a atagia. Eu quero ir, eu vou. Você paga os refúgios, compra o equipamento e se manda, cara. E nem, como eu te falei, nem todo mundo tem habilidade pra isso.

João Agapito (28:42)
têm habilidade pra isso,

Amauri (28:43)
também está acontecendo

fator climático, que como o clima está mudando demais e está tendo muita avalanche, o gelo está se desprendendo muito antes do período normal. E quando o gelo desprende, vem a avalanche de pedra. E vários trechos do bombão, várias rotas, principalmente uma mais conhecida, chama Viaguter.

onde fica o caminho dos refúgios, existe uma passagem que se chama Gran Coloá, é onde tem mais avalanche na região e você é obrigado a passar por ali. Então assim, cara, eu presenciei umas duas, três avalanches assim na minha cara ali, quando eu passei. Então é muito fácil uma pessoa estar passando ali tomar uma...

tem umas pedrinhas do tamanho do microondas descendo a dois metros de altitude cara, é tiro e é atrás da outra então cara, é complicado e esse ano morreu gente nos pirineus morreu gente nas polomitas morreu gente no Montblanc, nem se fala todo ano morreu gente na Suíça, morreu gente... cara, é caos porque muita gente indo

locais que eu acesso. E outra, né? Hoje com YouTube, com Instagram, montanha, vamos lá, vamos Cara, não é bem assim. buraco é mais embaixo. Muita gente desavisada e despreparada. Aí acontece o seguinte. Quem vai pro K2 sabe onde tá indo, né? Ele sabe que o cara tá... Primeiro é uma montanha carésima, né? Tanto o VNST como o K2, vai desembolsar ali entre 50, 60 mil dólares.

João Agapito (30:06)
Sim, sim.

Amauri (30:18)
fazer montanha. Então cara está hiper preparado porque ninguém vai pegar 50 mil dólares. Só qualquer uma dessas montanhas precisa de mais de mês e meio para escalar. Os meia-feira são 60 dias. O K2 é por aí também, os dois estão muito próximos na altitude. A diferença é que lá no Nepal você vai usar o Sherpa, no Paquistão você vai usar os guias nepaleses, os paquistaneses que são complicadérgicos, são bicho ruim de trabalhar.

João Agapito (30:23)
Fora o tempo também,

bom falando sobre montanha então assim no seu currículo tem a concagua, montanha, elbros qual montanha que você escalou foi a mais técnica vamos começar pelo quesito técnico

Amauri (30:51)
É.

Olha, a mais técnica eu vou falar que foi o

Montblanc. O Montblanc tem uns trechos de rocha e gelo, misto de rocha e gelo e verticais. Então você tem que ter bastante habilidade no gelo, escalar no gelo, as técnicas de gelo, usar o equipamento e outra. A gente não foi com guia, a gente montou e fomos nós mesmos. Então você tem que ter curso, escalar no gelo.

você tem que curso de atravessar glaciares, você tem que entender muito bem disso. Outras montanhas, vou te falar o Aconcagua. O Aconcagua, assim, pra mim foi a montanha que mais representou pra mim, porque ela tem quase 7 mil metros, Foi minha primeira alta montanha. tem fator.

muito importante que é a altitude, baixa pressão e ninguém sabe direito você só vai saber direito como que o teu metabolismo vai reagir à altitude estando nele, não tem outro jeito de saber então é diferente quando você está sem oxigênio a partir de 5 mil metros fazer uma escalada até 7 mil sem oxigênio é sofrimento

teu metabolismo não funciona, você não dorme, você não come, você tem jogo, diarreia, é sofrimento assim que não dá pra explicar. a pessoa tem que ter aptidão pra isso, ela tem que ter, como eu te falei anteriormente, uma resistência ao desconforto.

Mas é desconforto de verdade, não é desconforto que tá quentinho, tá frio. Não, cara. Temperatura de 30,0 com vento de 100 por hora, você com diarreia, vômito, sabendo que você tem que subir por mais mil metros.

João Agapito (32:31)
Cê!

Amauri (32:38)
Pô, você nem come, cara. Você não consegue

João Agapito (32:38)
Comendo mal, dormindo pouco...

Amauri (32:40)
Pô, você nem come, cara. Você não consegue ver comida. Então assim, negócio... Cara, alta montanha é negócio que assim... Eu não sei o que a gente faz. O que eu fiz também? Que é porra.

João Agapito (32:40)
Comendo mal, dormindo pouco...

Amauri (32:52)
cheguei no Cume, tá lindo, maravilhoso, é 10 minutos, quando você chegar lá você acha que alguém vai estar batendo palma, porra nenhuma. Você vai lá tirar foto e ó, vulpes, você quer sair daquele inferno, cara, mais rápido possível.

João Agapito (33:02)
Até porque chegou lá cima é só metade do

né, Mauri?

Amauri (33:04)
problema é a

volta, os acidentes são na volta, não ainda? Tem outro mundo na mão relaxada, conquistei o objetivo. Conquistou não, cara. Conquistar é chegar vivo lá embaixo, porra.

João Agapito (33:14)
E você estava falando do desconforto físico, qual foi a situação onde você passou mais perrengue no sentido de desconforto físico mesmo, que você falou assim, não bicho, acho que hoje vai ser meu dia, não vai ter como não.

Amauri (33:26)
No Aconcagua

João Agapito (33:27)
ser meu dia, não vai ter como não.

Amauri (33:27)
No Aconcagua teve

algumas passagens bem complicadas, todas tiveram. Onde eu acho que eu cheguei mais perto da morte, minha morte, porque eu via dos outros também, e vi gente morrendo. Mas no Aconcagua teve, quando a gente já estava a 6 mil metros, 6 mil poucos metros, o cume é 6,9,62. Faltava uns 700 metros por cume.

João Agapito (33:52)
e

Amauri (33:53)
inglês do nosso grupo começou a passar muito mal. E tanto que ele teve que baixar, Sai, voltar para o acampamento básico, porque ele estava com edema com monar já. E a gente teve que uma parada longa. E eu não percebi que foi longa a parada, que a gente parou e eu apaguei. É exaustão, Estava exausto, eu dormi. Eu apaguei de cansaço, né?

e na minha cabeça tinha passado 10 minutos, tinha passado 3 horas

assim, estava numa temperatura

João Agapito (34:25)
isso cara?

Amauri (34:26)
e assim, estava numa temperatura muito baixa, estava mais ou menos uns 15 abaixo de zero, ventando muito e eu acordei

João Agapito (34:27)
Que isso cara?

Você estava

Amauri (34:35)
não, não, horário

João Agapito (34:35)
oxigênio

Amauri (34:36)
não, não, horário a escala 100 você vai fazendo aclimatação é processo complicado e aí eu estava totalmente fora de sintonia

João Agapito (34:37)
oxigênio suplementar?

Que isso, velho?

Amauri (34:50)
Eu não lembro de como que eu cheguei no CUME. Até hoje eu não sei. Eu cheguei... legal, cheguei. Então assim, cara, alta montanha, negócio complicado.

João Agapito (34:59)
Então você não lembra de

Amauri (35:01)
Não, quando eu cheguei no CUME,

João Agapito (35:01)
conquistando o Kumi?

Amauri (35:03)
Não, quando eu cheguei no CUME, meu companheiro... Porque nós estávamos 10, cara, só 2 chegaram no CUME. 3, no inglês, 1 brasileiro e eu. E eu... e quando eu cheguei no CUME...

João Agapito (35:03)
conquistando o Kumi?

look!

Amauri (35:17)
Não sei, se baixou santo, eu, cara, tô aqui no cú, me dá com calma. Mas é sofrimento, cara. O corpo estava desligado, eu não senti o corpo. Parece que você tava dentro de aquário, sabe? E nós descemos, A descida foi muito sofrida também, chegamos no acampamento base alto, né? A 6100 metros,

João Agapito (35:24)
e

Amauri (35:37)
Bom, cheguei no acampamento alto e cheguei muito exaurido. Eu entrei na barraca e apaguei. A gente começou a escalar 3 da manhã. Nós chegamos no comem 2 da tarde. E eu voltei para o acampamento 8 da noite. Então assim, foram muitas horas de sofrimento. A temperatura chegou perto dos 25 ou mais de zero. Muito vento.

Quando eu voltei pra barraca eu apaguei de exaustão, tava sem comer todos os períodos, não conseguia ingerir nada, tudo que eu pus na boca eu vomitava. Eu entrei na barraca e meu pé direito ficou pra fora da barraca. Eu tava com botador, com todo o equipamento, mas o pé direito sentiu, e eu acordei com esse pé congelado. E aí eu tive que descer com uma puta dor no pé e passei ano fazendo o tratamento de São Paulo aqui pra voltar a toda...

toda circulação sanguínea, e eu perdi, aí eu perdi a sensibilidade dos dedos do pé direito. Não voltou mais. É até bom pra jogar bola, tá? Você entra na dividida, não sente nada. Mas, cara, você vê o quanto perigoso é, Tô brincando aqui, mas poderia ter dado uma puta numa merda, poderia ter perdido os dedos do pé, ficou tudo preto, cara, foi tratamento doloroso.

João Agapito (36:46)
Sim.

perdido os dedos, né?

Amauri (36:51)
Foi. Não perdi.

João Agapito (36:51)
Então foi Frostbitten, você

não perdeu.

Amauri (36:53)
e

Foi. Não perdi.

João Agapito (36:53)
Então foi Frostbitten, você

Amauri (36:55)
o meu dedão direito é o que eu mais sinto. Eu não aconselho ninguém, pra começar eu não aconselho ninguém fazer algum cargo de primeira. É muito alto. Faz umas 5 mil na América do Sul, 5,5 mil. Começa a entender como que o teu metabolismo funciona na rarefeira.

Tem muito atleta, triatleta, maratonista, ciclista, escambal que chega lá, chega no 4500 e já pediu arrego. E eu já vi muito gordinho, sem vergonha, que sobe lá, o avião que tava rindo. Cara, é de cada E não tem explicação lógica disso.

João Agapito (37:19)
Sim.

mas a altitude é muito bizarra,

trazendo por exemplo, que acho que mais pessoas vão entender, futebol, libertadores, pega time muito bom aí do Brasil, com os melhores jogadores, volta para jogar com time da segunda divisão do Equador, Quito, que deve ser o quê? Sei lá, 3 mil metros,

Amauri (37:40)
da bolívia lá é 4000 pouco tem

João Agapito (37:44)
Enfim, os caras vão lá e me perdem de 4 a 0, reage de outra forma, né? Isso é...

Amauri (37:47)
É complicado e é de

cada cara. Então não dá, João, pra trabalhar. Não é que não dá. Tem empresas especializadas nos vários que só fazem esse tipo de... É focada escalada. Eu acho que o risco é muito grande. Aqui no Brasil são poucas pessoas dispostas a fazer isso. Então eu não. O tracking já tá bacana. Se você fazer tracking local legal...

João Agapito (38:10)
Sim.

Amauri (38:11)
O risco ainda não muito, existe risco.

mas é muito mais baixo. Então assim, hoje a latitude não faz nenhuma atividade que tenha corda, que tenha ar rarefeito e que tenha acampamento. Acampamos, até a gente acampa determinadas situações, mas não é o foco. Então a gente ordina refúgios, faz treco locais muito bacanas, mas a gente baixou a régua.

Eu estou falando comercialmente falando. Você vai trabalhar com público muito escasso, nichozinho. No Brasil não tem essa cultura.

João Agapito (38:37)
Tchau!

E eu acho que você fez uma decisão muito inteligente porque você pega o melhor dos dois mundos. Quando você quer fazer uma montanha, desafio, faz. Ou no máximo com alguns amigos. E aí, como negócio, você vai para lugares que também são incríveis. Cara, você vai para Nova Zelândia, Europa, Patagônia, enfim.

Amauri (38:54)
Sim.

Me satisfaz

o meu espírito. Eu fico bem. Eu faço negócio legal, sustentável para a minha empresa. Cara, e estou vivendo bem. Eu estou feliz. Claro, porque que coisa mais legal que isso? Você está ganhando grana com uma coisa que te deixa feliz, com você, com a tua rádio.

João Agapito (39:05)
Sim.

Não tem.

dia eu vou ganhar dinheiro, né? Por enquanto não estou ganhando não, mas...

Amauri (39:18)
você está fazendo daí,

João Agapito (39:20)
enquanto não estou ganhando não, mas...

Amauri (39:20)
você está fazendo daí, tudo

começa assim, não existe nenhum negócio que começa sem luta,

João Agapito (39:25)
Sim.

Amauri (39:28)
Se eu contar tudo que eu passei esses dez anos aí, meu Deus do céu.

João Agapito (39:28)
Shinei?

Amauri (39:31)
felizmente, infelizmente eu não sei, a empresa está crescendo, começa os aventureiros. Então a gente tem que passar por ponto no questionamento, quase

quase interrogatório né porque as pessoas mentem né cara, pô o que você já fez? Só pelo papo você já começa a ver

Campo na Praia

João Agapito (39:51)
Vai ver, no máximo, fez camping, né, na

Amauri (39:54)
Campo na Praia Obatuba quando tinha 18 anos, então cara...

João Agapito (39:53)
máximo, fez camping, né, na vida.

E

E qual foi o cliente mais velho que você já guiou?

Amauri (40:03)
Cara, teve

João Agapito (40:05)
velho que você já guiou?

Amauri (40:05)
Cara, teve caso

muito engraçado aqui.

foi minha primeira expedição para o Nova Zelândia. Eu tinha ido para lá, rodado o Nova Zelândia também de motorhome. Peguei o motorhome para o Nova Zelândia e fiquei lá 20 dias, não, fiquei 30 dias rodando os principais locais. Aí eu fui, montei uma expedição e vieram 8 japas aqui de São Paulo, tudo com 60 porrada. Mas assim, elas fizeram muito treco, elas já tinham feito alguma coisa, algumas delas. Aí apareceu uma das que falou, olha, eu queria levar minha irmã.

E Claro que tem lugar. Aí, olha, ela tem pouco de idade, mas ele é muito forte. Tá bom, pô, 78 anos. Eu fui conversar com ela. Cara, a mulher fez tudo.

João Agapito (40:47)
O look.

Amauri (40:48)
sempre andando pra cacete, minha mulher fez tudo, tudo, tudo, Então cara, eu entendi o seguinte, Dad, realmente você tem que pensar quando eu te falo, pra quem tá acostumado a não é o que pega. Eu já peguei muita gente de 30 e pouco, cara, que não tem metade do condicionamento do que essa senhora de 78.

João Agapito (41:09)
Se brincar esses aí de 30 e poucos vão pra academia, tomam whey protein, né? E não aguenta veinha de 78 anos no trek.

Amauri (41:14)
Não, não é, não é, Não, e já aconteceu muito comigo,

né, que vem umas pessoas mais jovens, vão procurar pra fazer Patagonia, ou seja, ou o que for. Eles entram aqui no meu escritório aqui, eu percebo que eles vão... Esse coroa... Aí eu fico sonhando, né? Aí, vamos passar final de semana lá e dar chá, é comigo? Bora, vamos lá. Aí eles querem me pôr a prova, aí eu arranco o couro deles, né, cara? Não, não de sacanagem, mas pro cara entender que...

eu faço várias palestras sobre isso, eu falo, gente, negócio é seguinte...

condicionamento físico, você tem que se cuidar, você tem que encaminhar, cuidar do teu aeróbico, do caro muscular muscular, comer direito, dormir direito, toma seu vinho, não tem problema não, mas com moderação, não come porcaria, tira o açúcar, tira o refrigerante, não é nem pro treque, é pra tua vida, porra! Eu tenho certeza que você vai durar muito mais, igual essa senhora de 78 porque ela faz isso.

Eu fico vendo esse monte de elucubração na internet. Cara, é muito simples. Caminha todo dia, faz pouquinho de musculação e come direito, dorme direito, cara. Só isso.

é simples, não precisa ser com a latitude, faz isso pra tua vida

João Agapito (42:24)
Sim.

A gente está falando bastante sobre destinos incríveis, mas a está falando de Europa, gente está falando de Nova Zelândia. São destinos que, querendo ou não, não são acessíveis para a maioria das pessoas. Ainda mais agora a gente está falando do dólar acima de 6 reais, então realmente fica muito difícil. Dentro do Brasil ainda dá para se fazer muita coisa massa, quem curte destino de montanha e tudo mais.

Amauri (42:35)
Sim,

Doi.

Sim, olha aqui,

eu sou suspeito pra falar, mas aqui quem está São Paulo, Minas Rio, você tem a mantequeira. A mantequeira tem a opção cara de AZ. Aí depois você começa a falar das chapadas aqui no Brasil, chapada de veadeiros, chapada de amantina, lençóis maranhenses, os Parques Nacionais aqui na divisa Santa Catarina, Rio Grande do Sul, tem muito lugar bacana.

O problema que eu vejo no Brasil é segurança. Se você vai num local que não é parque nacional, começa a ter problemas.

Mas você tá no coração de parque, como Diamantina, Viadeiros, não tem problema nenhum.

É... Brasil é país com lugares lindos, povo maravilhoso que tá no mês locais.

João Agapito (43:29)
tem que rir pra não chorar né Mauri?

É, o que infelizmente também não uma novidade pra gente, tem gente que é brasileira, a gente sabe dos cuidados que tem que

Ô Mauri, assim, então só pra finalizar aqui, conta pra gente pouco mais sobre os projetos futuros, na latitude 51.

Amauri (43:49)
É.

legal que como a gente

já conquistou certo nome, respeitado no turismo de aventura, muitas pessoas procuram a gente e eles chegam, eles vêm todo nosso porte fora, eu gostaria de conhecer esse lugar, se eu não quisesse montar, ela já confia na gente, se não quisesse montar. E esses dias apareceu negócio sensacional com uma cliente muito antiga, minha, ela...

disse que queria muito finalizar a minha vida de trequeira, com uma expedição com a latitude, mas eu queria num local diferente. mas onde? Cria pra mim, eu quero num local diferente. Quando? Primeiro tem que período, porque a gente depende muito da época do ano, clima, olha, eu dezembro. Eu olha, dezembro só sobra Patagônia e Oceania.

Mas ele falou já foi comigo. Eu eu posso sugerir para você a Tasmania. Baixando pouquinho da Austrália. Tasmania? Eu quero. Aí eu falei com ela, olha, vou montar, vou convidar algumas pessoas que nunca foram para lá. E também vai ser minha primeira expedição para a Tasmania. Queria muito conhecer, tem muito trekking bacana lá. Cara, foi falar e já tem muitas pessoas. Fechamos já para dezembro desse ano.

João Agapito (45:05)
Nossa,

que incrível cara, pra Tasmania!

Amauri (45:06)
É, tá assim, mãe.

E aí, eu também tô pensando Bruelândia. O que eu te falei, João? Eu vou sempre fugir do convencional. Porque, são duas... Primeira coisa, eu quero o desafio da diferença mesmo, da complicação. E fica muito mais difícil da concorrência me seguir.

Porque o cara vai falar, porra, Tasmanha, Groenândia, porra, porra, tá aí pariu. Então assim, são vários fatores. Primeiro, acho que chama a atenção as pessoas.

João Agapito (45:26)
É uma baita diferenciação, né?

Amauri (45:33)
porque quem tem poder aquisitivo para fazer esse tipo de viagem, cara normalmente já conhece o mundo inteiro. Ele já foi pra tudo quando foi ao Buraco, conhece a Europa inteira, conhece a América do Norte inteira, já foi pra Nova Zelândia, pra Austrália, já passou tudo. Aí você vem com o negócio, olha, trek no norte da Suécia, Patagonia extrema, ilha sul da Nova Zelândia indo pro Monte Cook, rochosa do Canadá, é diferente.

legal, ver se eu quero ir. O pessoal tá cansado de cidade, verdade dessa, João.

João Agapito (46:02)
Que massa!

Eu concordo, cara. Turismo massa pra mim é o que você provém.

Amauri (46:07)
É, na natureza.

João Agapito (46:08)
o que você provém.

Amauri (46:08)
É, na natureza.

Eu acho que as pessoas... Tenho certeza, a pessoa volta diferente. O passeio convencional é bom ir. Você fala que não é caindo. Vai para a Dinner, para a Navarroga. Ok. Mas eu acho que não agrega muita coisa. É muito do mesmo. Se você vai para as Dolomitas, tem uma lição histórica, porque ali foi berço da Primeira Guerra Mundial.

Você vai entender o que aconteceu com o império austro-hungar ali. Você vai entender o que aconteceu com os otomanos. Você vai ver a junção Itália-áustria. O que aconteceu? Por que ali é diferente? Porque tem o lado bacana do italiano, o lado organizando do austríaco. Você vai ter aula de gastronomia.

Você vai escutar dois idiomas, alemão e italiano, e mais os dialetos que eles falam. O teu horizonte dá uma opa, e fora local que é lindo, é lindo pra cacete. vai ver paisagens assim que você... Meu Deus, como isso é lindo.

Aí você vai para os Pirineus, que a gente comentou no começo. França de lado, Espanha de outro, com a cultura cataman.

Eu acho que é diferente de você ir pra Paris, ir pra Roma, não é ruim.

É bom, mas eu acho que a gente... Não quero falar que minha viagem é melhor que a outra, mas eu acho que agrega, tem mais fatores que somam para a tua vida.

João Agapito (47:22)
E... sim!

Eu concordo gênero, número e grau, mas que bom que não é todo mundo que gosta, Mauri, porque senão ia precisar de 150 Mauris para dar conta da demanda.

Amauri (47:30)
É isso aí!

É estragar o

João Agapito (47:37)
não é todo mundo que gosta, Mauri, porque

Amauri (47:37)
É isso

João Agapito (47:40)
Ô Mauri, Foi muito bacana o bate-papo. eu desejo tudo, muitos anos de vida para o A altitude 51, que você ainda possa descobrir e levar pessoas para descobrirem lugares...

Amauri (47:44)
obrigado.

João Agapito (47:50)
ainda mais incríveis. assim, pelo amor de Deus, se precisar de uma cobaia aí, quiser fazer uma experimentação, países nortes, me chamar que eu estou disponível, viu?

Amauri (47:53)
A pancada

Não,

João, prazer ter falado contigo também, você também melhorou meu sábado,

João Agapito (48:03)
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