Rádio Grilo

06. Felipe Ho: Escalada Indoor e Outdoor, Joker v14, Olimpíadas, Campeonatos Mundiais, e a Evolução da Escalada no Brasil

João Agapito Episode 6

O Felipe Ho é campeão brasileiro de escalada em diversas modalidades, atleta da seleção brasileira há 10 anos e terceiro sargento do exército brasileiro.

Neste bate-papo, vamos entender como funciona o cenário de competições internacionais da escalada, incluindo o Mundial e os Jogos Olímpicos, como ele equilibra a escalada indoor e outdoor, e ouvir sobre como foi o processo na primeira ascensão do Joker V14. Vamos falar também sobre a evolução da escalada no Brasil e os desafios sul-americanos diante do domínio da Europa, Japão e EUA.

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João Agapito (00:00)
Fala galera, sejam muito bem vindos a Rádio Grilo, o seu podcast do mundo Outdoor. E no episódio de hoje eu vou conversar com o Felipe Ro, atleta da seleção brasileira de escalada há mais de 10 anos e terceiro sargento do Exército Brasileiro. Nesse bate-papo a gente vai entender sobre como funciona o cenário de competições internacionais, como por exemplo o Mundial e os Jogos Olímpicos, como ele equilibra a escalada indoor e outdoor,

ouvir sobre como foi o processo da primeira ascensão do Joker V14 e vamos falar também sobre a evolução da escalada no Brasil e os desafios sul-americanos frente ao domínio da Europa, Japão e Estados Unidos. Bora lá!

João Agapito (01:12)
Então, enfim, você queria fazer uma breve introdução sobre quem é o Felipe, como você começou na escalada.

Felipe (01:20)
Bom, gente, meu nome é Felipe Roux. Eu sou terceiro sargento do Exército Brasileiro. Faço parte de programa de atletas que tem no Exército. Sou integrante da Seleção Brasileira, escalada também. E eu escalo a... Esse ano vai completar 20 anos. Eu comecei com 6 anos no colégio da minha... Que eu estudava quando eu era criança. E a história foi muito espontânea, assim. Tipo, tinha muro de escalada, eu passava o dia inteiro no colégio e eu simplesmente tive a vontade de...

e curiosidade de praticar uma vez. E essa primeira vez que eu pratiquei foi suficiente para já me fidelizar no esporte. Eu ia sempre nessas aulas e gostava muito da galera da aula, do professor, até que ele me levou para ginásio onde foi realmente onde eu aprendi a escalar, que foi a 90 graus. E uma série de coincidências que aconteceram acho que me perpetuaram no esporte, na modalidade. A minha mãe namorava cara que era muito amigo do dono, então tipo...

Já ficou relacionamento legal que eu não pagava na 90 graus, a 90 si era muito perto da minha casa, era super favorável pra continuar escalando. Foi ambiente muito família, que me abraçou e fez de mim escalador motivado e acho que foi por isso que eu continuei a escalar. Aí eu descobri nessa modalidade várias coisas que não só a escalada.

13, 14 anos e já estava indo para Pedra passar mês longe dos meus pais com uma galera muito mais velha e tipo me virando, aprendendo a cozinhar sozinho, aprendendo a lavar minha roupa sozinho, enfim, acho que a escalada me trouxe todas essas coisas que eu nunca teria acesso na cidade tão cedo, Então foi muito valioso para o meu desenvolvimento como pessoa, né? Eu acho.

João Agapito (03:09)
Pô, Hirado,

eu estava pensando aqui, o Ho, seu sobrenome, é de origem quê? Japonesa? Chinês? É porque eu estava pensando assim, soava meio que... Na minha cabeça soava meio que japonês, eu estava pensando, a escola japonesa de escalada atualmente está dominando o mundo, então pode ser que tem meio que uma predisposição, mas se bem que os chineses também, no feminino nas Olimpíadas, uma chinesa pegou pode, né?

Felipe (03:15)
É chinês. É.

E

É, os chineses são bem fortes também. Tem menos, uma menor quantidade de atletas destaque, mas os poucos que tem destaque são muito bons, assim. Tem cara no masculino que chama eu, o Feipan, que é brabo, assim. Já fez final de Copa do Mundo. Acho que ele já pegou até o pódio, não tenho certeza.

João Agapito (03:55)
Irado.

Eu estava vendo, bom, você acabou de chegar de Cocal, Cocalzinho de Goiás, o famigerado gueto, e pelo que eu vi, festival de boulders de duas casas. Deu para aproveitar bastante, por mais que... Agora é período de chuva, né?

Felipe (04:02)
Uhu.

Sim, então nesse momento do meu ano eu estou num momento de pré-temporada, Então eu estava com o foco mais na reabilitação de uma lesão que eu estou tendo no meu ombro, que não é uma coisa que me tira do esporte, mas limita pouco o meu processo de preparação. Então tipo, eu estava nesse foco e também estava no foco de, tipo, começar o ano de uma maneira mais leve, sabe? Porque esse ano o calendário de competição vai ser muito cheio e eu não vou ter a possibilidade de fazer essas viagens pra...

pra rocha no meio do ano, o que contrasta muito com o meu ano do ano passado. Ano passado eu, tipo, tomei passo atrás nas competições e priorizei muito essa parte mais pra mim mesmo, tipo, ir pra rocha, me conectar com a essência do esporte, com a simplicidade de estar com o pé sujo na base da via e só escalar e comer sanduíche, sabe? Tipo, negócio muito simplista, assim, que eu tava sentindo falta e essa essência me dá gás muito bom nas competições, entendeu?

me traz uma felicidade muito grande. Então foi o que eu fiz ano passado e esse ano eu fiz isso ano passado justamente pra esse ano eu consegui renunciar tudo isso de novo e tipo ir 100 % nas competições que eu quero atingir coisas que eu nunca atingi antes, né? Então tipo a viagem de Cocao era muito sobre isso assim, era escape de processo de preparação que tava super focado, momento de fuga e ao mesmo tempo era o único momento desse ano inteiro que eu ia poder fazer alguma coisa tão

Acho que tipo, com o tempo assim, sabe? Ficar com os amigos, escalar durante 10 dias e não me preocupar com tipo, hoje eu vou escalar, amanhã eu vou descansar. Hoje eu vou escalar, amanhã eu vou descansar. Tipo, eu tava foda, assim, eu vou fazer o que eu quiser e vou seguir o meu flow aqui, tipo, se eu quiser escalar 4 dias seguidos eu vou, se eu não quiser escalar 4 dias seguidos e ficar só na rede e comer churrasco e beber cerveja eu vou, tá ligado? Então, tipo, foi uma viagem pra eu me conectar comigo ali.

E a chuva foi uma coisa que se eu tivesse no modo, po, quero fazer monte de coisa, quero isso, quero aquilo, ia ser puta empecilho. E não foi o caso, porque a chuva era mais uma coisa que estava acontecendo no meu dia e não era tão importante assim. Quando eu dava, escalava. Quando eu não dava, não escalava e estava tudo bem, tá ligado? A gente estava com a galera lá, não te chovia, fazia churrasco, jogava bit tênis, fazia outras coisas, né? E acho que tipo, é muito sobre isso também, você conseguir aprender...

é tirar a felicidade fora da escalada, porque eu escala 20 anos, então tipo se você só consegue ser feliz escalando, o esporte fica pesado, ligado? E a performance também. Então acho que parte do sucesso dessa viagem, tipo, ela poderia ter terminado uma viagem do tipo, porra que merda, só choveu e eu não escalei nada, tá ligado? Abri minha mão e foi uma bosta. Mas não foi o caso, foi uma viagem que me preencheu pra caramba e eu consegui ter felicidade de outros pontos e quando dava eu escalava e quando eu escalava por estar feliz eu mandava bem, tá ligado?

João Agapito (07:02)
É, e você tocou num ponto interessante, porque, pelo menos até onde eu vi, assim, me corrigi se eu tiver errado, mas você é mais focado escalada indoors, ou seja, competições.

Então, como foi pra você fazer a decisão entre escalada indoors e outdoors? Porque tem muitos escaladores no mundo, por exemplo, o Sean Roboto, cara brabíssimo e tal, mas ele não compete. Então, ele é focado exclusivamente escalada outdoors. Enquanto você, pelo que eu entendi, pegou mais essa linha de competições, ou seja, indoors. Então, como é foi pra você essa decisão?

Felipe (07:41)
Eu acho que tipo... Quando você começa a fazer esporte e você vê que você manda bem, naturalmente tem esse desejo de ir para o outro lado da competição. O tipo, o seu entorno, ele te sentiva a fazer isso, né? Então, acho que aconteceu muito isso comigo, assim. Quando eu era moleque eu nunca fui ator...

Atleta, assim, sabe? Nunca quis competir. Eu sempre gostei muito de fazer esporte e o esporte sempre teve presente na minha vida desde que eu era criança. Ou era futebol, ou era voo, ou era corrida, ou era isso, ou era aquilo. E escalada era só mais desses que eu gostava muito, sabe? Só que todas as competições que eu fui incentivado a participar quando era moleque eu ganhava. Não tinha muito atleta também nessa época, sabe? Então foi meio que berço fácil assim de se desenvolver.

e virar uma figura destaque, sabe? E quando gente ganha destaque muito cedo, gente gosta, Uma coisa que amacia nosso ego, vamos E como eu já estava muito inserido nisso, eu vi nisso uma oportunidade de ganhar dinheiro, vi nisso uma oportunidade de continuar realizando meu sonho, que é escalar.

no meu tempo livre, e não livre, sabe? Tipo assim, eu não me via fazendo outra coisa, então era uma coisa que eu queria conquistar. Eu vi através das competições mecanismo de continuar fazendo isso, sabe? Então tipo, beleza, a competição é uma coisa que eu gosto de fazer? Gosto! Eu também gosto muito de não competir e escalar só na rocha. Se eu pudesse escolher entre e outro, talvez eu não escolheria a competição, ou talvez sim, eu não sei dizer sobre isso.

Mas o que eu sei dizer é que pela competição eu consigo achar caminho de estabilidade, de viver do esporte e consequentemente aproveitar ele nos momentos bons e aprender como aproveitar ele nos momentos ruins, sabe? Então acho que o Champ, por exemplo, ele tem pai e uma mãe escaladora e uma irmã escaladora e se insere numa cultura que a escalada é gigante, né? Então acho que a possibilidade dele de escolher ao outro é muito maior, tá ligado? Então acho que o atleta de escalada no Brasil

Se ele quer ser escalador de pedra, ele tem que aceitar que nesse começo e até provavelmente até o final ele não vai conseguir viver só de escalada, sabe? Porque é muito difícil ganhar o coro de patrocínio das marcas ou então tipo... Como é que você explica assim para patrocinador? Pô, eu sou atleta. Mas você compete? Não, eu só escalo na pedra. Aí tipo... tá, como que... Sabe, como que entra o destaque? Se você não é recordista, o Camargo. O Camargo ele é brasileiro.

é puto expoente na América do Sul e no mundo porque ele faz primeiras ascensões muito difíceis, Faz coisas que ninguém faz. Só que isso, se ele ocupa esse espaço, logo ninguém mais ocupa esse espaço. Então, tipo, é muito difícil de escolher sendo que é caminho meio ingrato, assim, sabe? Eu não estou querendo dizer que eu escolhi a competição por eliminação. Tipo, a competição veio antes de eu poder escolher qualquer coisa, assim, e eu me encontrei nesse caminho. Logo, eu continuei fazendo, sabe?

Mas eu nunca deixo de escalar na rocha porque é uma coisa que eu amo, né? Então, digamos que o ambiente que eu mais amo, que é a rocha, tá preservado. É ambiente que não tem pressão, é ambiente que não me gera grana, é ambiente que tá lá e é meu, ninguém toca, sabe? Agora a competição é lugar onde é a minha profissão, É onde eu me desenvolvo como profissional de escalada, digamos assim.

João Agapito (10:57)
Entendi. Cara, escolha bastante inteligente e consciente. E também me lembra sobre uma entrevista que eu vi sobre o Jacob Schubert. Então ele estava falando que ele vê a escalada indoors e outdoors evoluindo caminhos distintos, enquanto na visão dele deveria meio que ser a mesma coisa, deveriam ser irmãos ao invés de modalidades distintas.

Felipe (11:04)
E

João Agapito (11:22)
Então, já que a gente está falando sobre isso, como que você vê essa distinção e a forma como o modelo de escalada indoors, competitivo, está se desenvolvendo contraste com o que a gente vê na rocha?

Felipe (11:36)
Eu acho assim, o Yakub é ferrenho defensor do old school climbing. Ele gosta muito quando o estilo é parecidíssimo com a rocha, uma coisa que ele viveu e aprendeu a fazer isso. Só que uma criança do Japão que começou com 6 anos, ele nunca escalou na rocha, Sempre ele se acostumou a escalar nesse estilo moderno, entendeu? Então pra ele, ele não sabe escalar esse outro estilo. Então eu acho que sempre...

os escaladores de competição eles não devem ir pra uma competição querendo algo ou sendo teste, tipo, sendo testador de boulders, ele tem que ir lá olhar pro boulder e dar o melhor dele, ta ligado? Tipo, independente do que esteja pela frente, é estilo moderno, se é estilo não moderno, é estilo fácil, se é difícil, se é round complexo, se é feio, se é machuquento, foda-se, ele não pode tipo ficar julgando isso, sabe? Ele tem que ir lá e escalar.

E aí tipo, eu tenho aprendido muito a fazer isso porque eu também sou pouco dessa geração que quando eu comecei a escalar, pô, não tinha isso de coordenação, não tinha border por agarra, não tinha volume, essa pátria dura, tudo isso muda, né? E aí eu fui meio que nessa onda, sabe, de me desenvolver nesse processo de transição do estilo da escalada. Porque no final das contas, é, tem dizer que fala assim, pô, se o Ruth Setter vai lá e coloca

Só boulder físico na parede? Os caras da Copa do Mundo é tão forte, tão forte que não diferencia ninguém. Todo mundo vai fazer as paradas. E eu não sei se eu acredito muito nisso, sabe? Eu partes acredito nisso. E eu tô curioso pra saber se o estilo cambiasse, se mudasse, se completamente dava pro vinho e tivesse só o skull climbing, se gente ia ver tantos tops assim, sabe? Eu acho que isso é muito relevante por conta dessa questão da gente ficar acreditando que...

A escala de competição, ela é refém do estilo moderno justamente porque o old school não resolve a separação dos atletas. Eu não acredito muito nessa ideia, sabe? Então, o que eu quero dizer é que eu acho que o Yaku, por exemplo, ele gostaria de ver mais estilos que ele vai bem, tá ligado? É isso, assim como japonês de 10 anos quer ver mais estilos que ele vai bem. E cada quer o seu melhor, né? Tipo assim, eu acho que o grande segredo e a coisa que mais a gente tá aprendendo nesse training camp aqui da CBR com esse técnico internacional

É justamente sobre isso, tipo, não dá não meus bois, é chegar lá, olhar o boulder e velho. A minha missão não é julgar nada, é chegar lá e escalar, sabe?

João Agapito (14:07)
Pô, irado, cara. É muito massa escutar a sua perspectiva, Porque, bom, eu e meus amigos aqui, amadores, mas entusiastas, a gente tá sempre discutindo essa questão do indoors versus outdoors, mas quando você conversa com uma pessoa que de fato compete, como você, a perspectiva já é outra. E, bom, a gente tá falando então sobre outdoors,

Não tem como conversar com você e não falar sobre o Joker, Você acabou de fazer a primeira ascensão, esse V14, lá Peró. Então, sim, cara, primeiramente meus parabéns. Pô, Boulder, imagino, duríssimo, mas é uma linha muito irada. E para além disso, assim, você conseguiu fazer uma extensão num Boulder que foi originalmente aberto por Daniel Woods, né? Ninguém mais, ninguém menos que Daniel Woods. Então...

Felipe (14:33)
Uhum.

Valeu!

João Agapito (14:57)
De certa forma você conseguiu enxergar talvez uma coisa que ele não conseguiu? Então explica pra gente mais pouco sobre como é foi isso.

Felipe (15:06)
Então, o Joker foi uma realização muito legal, porque para além do Boulder, ele envolveu muitas outras coisas que me fizeram... me trouxeram felicidade, como eu te falei. Tipo, tiveram vários processos ano passado, e quando eu digo processos eu digo, eu me propus a fazer tal ascensão Rollo, então isso é processo, minha opinião, não no meu modo de dizer, vários processos que eu não fiz força para mandar o...

a parada, sabe? Eu não fiz força pra encadenar e realizar aquele processo. Foi uma coisa muito natural, que foi acontecendo a cada sessão, teve progresso pequeno e quando eu vi, tava tipo no top, assim, sabe? Então, o Joker foi pouco isso. E foi justamente por aquela fala que eu te trouxe, do tipo, existem felicidades pra além da escalada, sabe? E nesse processo, foi processo que eu me conectei pra caramba com o que é o dono da Geometric, né?

A gente é amigo faz muitos anos já nesse momento eu tava conciliando as idas pra Sorocaba pra trabalhar no ginásio dele como setter, então eu ia pra lá, a gente tinha uma resenha legal, eu adorava ir pra lá, eu não ia pra lá por causa da grana, tá ligado? Eu amava ir pra lá porque, é momento com meu brother que a gente ia lá, acetava, expressava a nossa... a gente tinha ali nossa liberdade de expressão no setting juntos, ouviu som maneiro, tomava uma cerveja ou não, tá ligado?

E aí quando batia a noite, ou no dia seguinte, gente acabava indo pra Iperó gravar o Joker, tá ligado? Então o Joker era só mais uma vírgula nessa ida pra Sorocaba, barra 7 na Geométrica e barra ida pra Iperó, tá ligado? Então quando eu coloquei isso nessa perspectiva foi muito leve assim, sabe? E quanto ao comentário que você fez do Daniel Woods lá, eu acho muito da hora, porque eu não vejo como se fosse uma coisa que eu via e não viu, porque era óbvio a linha, não precisava tipo...

ter uma visualização bizarra e aposto que ele viu sim. O problema é que tipo, é uma linha que demanda tempo, E numa viagem para o Brasil que você tem dez dias, é como se eu tivesse ido para Cocal durante dez dias e eu quisesse escalar diversos lugares e eu não pudesse tipo ficar investindo toda a minha essência num lugar só, né? Então acho que é muito sobre isso também, a primeira ascensão, você precisa tipo

Quer dizer, não. Muitas pessoas no Brasil tinham a expectativa sobre o que ele ia realizar e deixar de herança pra gente. E ele também sentia isso, eu aposto, né? Então, ele já fez uma contribuição irada que é tipo, pô, a cave é gigante. Tem quatro ou cinco vertentes que chegam no Joker, no Nightcrawler, que é o boulder que ele abriu. Então, tipo, ele deixou ali o início do funil e a gente é responsável

viabilizar o resto do funil, sabe? Então foi muito da hora o que ele deixou pra gente ali nesse sentido, assim. Que foi tipo, abriu a porteira pra todo mundo aí o Joker foi nada mais nada menos que uma continuação desse trabalho, assim, eu acho, né? E, eu tentei muito, muito, muito, assim. Foi muito difícil pra mim a quantidade de vezes que eu tive que ir lá, pô, as vezes que eu fui com...

Porque essa parte leve aconteceu na verdade num segundo momento, agora que eu tô lembrando. Eu malei o Joker durante uma temporada inteira e não rolou, e essa temporada foi uma temporada que eu tava escalando na pedra, barra, competindo bastante.

João Agapito (18:21)
Pô, irado. É o boulder mais duro que você já mandou?

Felipe (18:24)
termos de grau, sim, mas eu já mandei outros Z14 que pra mim foi mais

João Agapito (18:30)
quais.

Felipe (18:30)
Eu acho que Fortaleza foi bem difícil pra mim também. É... Mas eu não sei... É muito difícil essa pergunta, porque... Parece que... Mandar o primeiro V14 é difícil. Ou qualquer coisa que você vai se propor a fazer que você nunca fez, é difícil a primeira vez. Mas é muito mais difícil continuar fazendo, sabe? Tipo... A primeira vez que você V14 é

puta realização, mas mandar o segundo é duro, tá ligado? E quando você manda segundo, depois fica mais normal, digamos assim, entre aspas. Mentalmente é mais fácil assim, Porque eu sinto que o grau, esse grau, exemplo, V14, pra mim, é grau que hoje dia é o mais difícil que eu já fiz, mas não é o meu limite, tá ligado? Então eu sinto que rapidamente eu consigo isolar os moves, tipo duas, três sessões eu consigo isolar tudo, e aí tipo eu já entro naquela bolha...

mental do tipo, beleza, é possível, fudeu, sabe? Tipo, agora eu tenho o que fazer, tá ligado? Alguma coisa nessa linha de raciocínio. E eu acho que o Fortaleza foi a primeira vez que eu forei essa bolha, então significa uma dificuldade e depois disso teve o 880, que foi São Mendes do Sapucaí, que eu acho que esse foi o mais difícil, assim, que foi a segunda vez que eu mandei o V14, sabe? Pela dificuldade mental.

e pela linha si mesmo. É uma linha que tipo... O Beto Ferragutti fez a primeira ascensão, ele deu V15, mas tipo assim, a gente já meio que sabia que ele tinha dado V15 pra provocar todo mundo no Brasil e ir lá e tentar. Ele sempre faz isso, e ele faz porque ele é amigo nosso, ligado? Tipo, ele não faz a maldade. Então ele deu esse grau, falando, mano, duvido você fazer essa porra aqui e decotar, tá ligado? Ficou esse estigma e foi bom porque estimulou todo mundo a ir lá tentar e tal.

e aí eu peguei a segunda ascensão e a gente chegou no consenso que era a V14. sei lá, foi mais por aí, mais por essa questão do tempero mental e da pressão.

João Agapito (20:24)
Entendi. Mas então embora o Joker não tenha sido necessariamente o mais difícil para você, dá para dizer que ele foi o mais especial?

Felipe (20:34)
Foi, porque foi o meu F.A., O primeiro F.A. de V14. E isso, pra mim, é muito da hora, assim. Foi uma coisa que eu acreditei. Eu nunca... Eu não tinha informação de que era possível. Tipo assim, ninguém nunca fez. Então, foi uma aposta pra desvendar a movimentação e, tipo, acreditar que o link era possível. E principalmente, tipo, acreditar mim, tá ligado? Tipo, eu não precisava me comparar com ninguém pra saber que era possível. Quando você vai numa linha que alguém já escalou, você fala, pô...

Alguém já passou a magnésio, já marcou essas agasas e já começou aqui e terminou lá. Então logo é possível.

João Agapito (21:07)
Entendi. É, imagino que quando você faz uma primeira ascensão, especialmente de grau tão alto, você de fato você eleva a barra, né? Quanto escalador. Porque como você disse, você que teve que ver que era possível e enfim, fazer a linha você mesmo, né?

Felipe (21:18)
É.

É, tipo, o grau é interessante porque ele dá uma contribuição para a comunidade, na minha opinião. assim, escaladores que estão escalando o V10 se inspiram pessoas que escalam o V13 e V14, tá ligado? E quando eles ouvem falar que o Felipe Roux fez V14 no Iperó traz uma sensação coletiva de sucesso, tá ligado? sensação coletiva de da hora, mano. Escalar no Brasil tá tendo representatividade.

e tá chegando perto do que é lá fora, tá ligado? Então, tipo, grau, o número V14 traduz isso, mas ao mesmo tempo, tipo, seria V14, 13, 12, 15, tanto faz pra mim, tá ligado? O que importa foi que, tipo, foi uma coisa relevante e muito difícil que eu tive que ir ali várias vezes e me dedicar e tive o retorno no final, que foi puta vídeo que eu fiz e toda vez que eu assisto, eu, mano, me dá arrepio, tá ligado? Então, tipo, é mais do que o grau, é tipo, eu ter colocado...

100 % ali do meu desejo e feito acontecer, ligado? Isso que foi o mais da hora pra mim, assim, sabe? Por isso é mais especial do que os outros v14 também.

João Agapito (22:29)
Porra, irado! E você tá falando do vídeo, vídeo também ficou muito irado, lembra que bom, eu sou inscrito no Melo, né? E aí, de repente, aparece lá, Felipe Roux. Porra, cara, irado! Inclusive a soundtrack, né? Que foi feita pelo Zé também. Porra, o vídeo, o contexto, assim, ficou muito irado. Parabéns!

Felipe (22:41)
Aham.

É, então, e eu achei legal porque, que nem quando a gente fala do vídeo, já me remete a Sorocara, me remete ao Will, me remete ao Zé, tá ligado? Que é como se fosse uma vertente da minha vida que tá lá, no canto, e é especial, tá ligado? Não é o meu dia a dia, então, tipo, tem certo, uma certa identidade diferente, assim.

João Agapito (23:02)
Entendi. Massa. eu queria mudar pouco a conversa aqui, falar sobre passado você acabou o sul-americano como segundo lugar via e décimo boulder. Então assim, antes de mais nada, tá feliz com o resultado?

Felipe (23:15)
Muito, muito feliz, foi do caralho.

João Agapito (23:18)
Daora, e você vem competindo há muitos anos, então conta pra gente como é tem sido a sua evolução ao longo desse processo, de todo esse tempo.

Felipe (23:28)
Mano, é muito legal porque foi processo de aprender a pertencer lá fora, tá ligado? Então, tipo, o meu foco tá sendo único e exclusivamente no meu sonho, que é ir pra uma semifinal de uma Copa do Mundo. E é isso que tem sido, tipo, muito importante na hora de eu dosar resultado, tá ligado? Será que esse resultado foi bom ou não, sabe? Tipo, nesse sentido... aceitar isso é muito da hora. E aí, por que que eu digo isso? Porque, tipo...

Beleza, fiquei décimo Boulder. Não foi o meu melhor resultado na Copa Sul-Americana. Como é que eu fico feliz com isso? Eu fico feliz com isso porque, no mês de setembro eu quase fui para semifinal Copa. E foi justamente porque eu coloquei tanta energia e tanta prioridade naquele evento que a Copa Sul-Americana não era importante no meu calendário, tá ligado? A partir do momento que eu me inscrevo numa competição, eu quero ir para dar o meu melhor. E nesse Sul-Americana, o décimo foi o meu melhor, tá ligado? E eu não tinha como ficar insatisfeito com isso, sabe?

Não tinha como eu ficar puto ou falar caralho, eu evoluí. Porque foi tanta evolução ano passado que não tem nada a ver com o resultado que tipo... Pra mim, eu lavo minhas mãos quanto a isso, sabe? Tipo do resultado, digamos assim. E no final das contas, naquele dia, naquele setting, eu não fui competente o suficiente pra avançar pra próxima fase, que era a final, tá ligado? E olhando os bolsos da final, não era uma coisa que eu olhei e falei, eu não pertenço a esse universo.

era só tipo, conseguia avançar pra próxima fase mas se eu tivesse avançado acho que eu teria bom resultado, sabe? uma coisa também, você ficar décimo, aí olhar pra final, os bores da final e falar, putz, é, realmente não dá pra eu estar lá e ter bom resultado, tá ligado? E não foi o caso, então tipo, eu também entendo que eu não sou super homem de capa vermelha que vou ficar primeiro de todos os eventos que eu me inscrever, tá ligado? E esse foi dos maiores aprendizados, porque quando eu aprendo isso eu consigo...

realmente botar 100 % daquilo que eu quero realizar numa data, tá ligado?

João Agapito (25:24)
E você estava falando sua preparação estava focada no mundial, no caso o sul-americano não era o foco, mas como é que distingue a preparação para e para

Felipe (25:36)
É assim, cada ano é ano, Então, o ano passado, como eu falei, tinha essa identidade de step back das competições pra eu focar nessa parte mais introspectiva de escalar na rocha e tal. tiveram algumas consequências dessa escolha, Então, normalmente, quando eu escolho o meu calendário de competição e elejo os eventos internacionais que eu vou participar, eu viso o meu objetivo final, que é...

pra mim, a coisa que eu mais desejo, passar pra uma semifinal. E, por consequência, eu tenho que me expor a vários eventos internacionais pra isso acontecer, porque a gente vai pra Europa e, tipo, tem o primeiro evento que é Brujela, a gente também continua treinando, então o nosso nível sobe na Europa, tá ligado? Por treinar nas facilidades de lá e tal. E aí, como a gente vai participando de vários eventos, a chance da gente pontuar é alta, tá ligado?

Quando você ganha o campeonato brasileiro, você ganha x pontos. Então, a partir dos resultados do ranking nacional, é formada a seleção brasileira no final do ano. E aí, na Copa do Mundo, existe ranking de equivalência para a pontuação do brasileiro. Então, se de 100 atletas você ficou 49º, você ficou na primeira metade do escalão ali de competidores, logo você tem a pontuação igual de campeão brasileiro. Porque pensa que na Copa do Mundo...

tem todos os campeões nacionais de todas as nações, tá ligado? Então é muito mais difícil você ficar 50 % de uma Copa do Mundo do que ganhar o Nacional do Brasil, tá ligado? Então, mais ou menos, é por aí que funciona. E aí, que aconteceu? Como eu escolhi menos eventos para participar no passado, eu necessariamente tinha que ir bem naqueles que eu escolhi para ter a pontuação para, no final do ano, eu não precisar me desdobrar para me classificar para a Seleção Brasileira do Anjo 2025.

E foi exatamente o que não me lesionei mês antes da primeira competição que eu ia competir fora, o dedo, e aí eu fiquei muito mal classificado nessa competição, South Lake City, maio. Aí depois, Copper, eu fui super bem. Então, final das contas, Copper, eu consegui uma pontuação equivalente a terceiro lugar de brasileiro.

Aí eu cheguei no final do ano olhando para os campeonatos brasileiros e falando assim, bom, beleza, se eu for no campeonato brasileiro a chance de eu ganhar é boa e se eu ganhar tá tudo certo. Aí acontece isso, acontece aquilo, eu vou mal no brasileiro de bolo e fico quarto e no brasileiro de via fico terceiro. Então, tipo, eu olho para o meu ranking e não tá legal de se olhar, tá ligado? Tá ranking que me tira da seleção brasileira se eu, tipo, depender de outros resultados de outras pessoas.

Outubro diante, que no meu planejamento era off-season, passou a ser tipo, velho, vou ter que competir vários eventos para pontuar e garantir minha classificação para o ano que vem, para eu poder competir mais ano que vem, que era o meu plano. ano off e ano focado na competição. Então, eu tive que arcar com essa consequência e o resultado disso foi me inscrever uns eventos no final do ano. Foi por isso que eu competi na Copa...

Copa Brasil de Via, foi por isso que eu competi no Sul Americanos, foi por isso que eu competi no PAN. Então a minha ideia era competir South Lake City, Copa e o PAN. E aí por causa de essa questão do ranking eu tive que preencher todos esses eventos no meu final de ano e foi ano bem pesado emocionalmente falando, o que contrastou pouco com o meu planejamento, que não era a

por conta disso eu tive que me desdobrar para me classificar e garantir minha vaga na seleção, o que me permitiria 2025 eleger os eventos. E aí esse ano tem uma tacada de eventos de junho a julho que eu acredito numa crescente de performance. Porque eu já me vi indo para a Europa julho, competindo três eventos sequenciais e o terceiro evento foi o melhor,

minha preparação vai focar para que nesse período eu esteja na minha melhor condição no ano inteiro e os outros extremos, foda-se. Tipo, primeiro o SMS, foda-se. Segundo o SMS, foda-se. Se eu me classifiquei... Se eu tive o resultado que eu espero nesses eventos, eu nem preciso pensar competir no campeonato brasileiro, entendeu?

João Agapito (29:37)
explicar como é toda essa dinâmica, eu não tinha ideia de toda essa complexidade e esse trade-off que você tem que fazer entre competições e o planejamento. É

Felipe (29:36)
tipo...

Exatamente. Uma das coisas que a mudou do ano passado para esse ano é que a gente cobrou da confederação brasileira de escalada uma postura mais de ser player. Tipo de ser jogador, que os atletas são as cartas. Então beleza, a seleção brasileira foi formada, temos três atletas no top 3 que é financiado, ganha salário, tem suporte da ABE. Mas a gente gostaria de ser testado ao longo do ano através de training camps internacionais ou nacionais.

para que a gente seja escalado para determinados eventos, tá ligado? Então, para que a ABE usasse mais a comissão técnica deles para jogar a gente como se fosse uma escalação, convocação, sabe? E não como era no passado, tipo, primeiro lugar tem prioridade de escolher evento e aí vai elegeando os eventos e aí, o resto vai se encaixando e assim todo mundo compete, tá ligado? É, ainda é assim. Tem uma prioridade de verba e tal, então o ranking hoje é o Rodrigo Ranada, o David Pérez e eu terceiro.

João Agapito (30:37)
Entendi.

Felipe (30:45)
por conta dos resultados do ano passado. E eles têm uma certa prioridade relação a tipo, recurso e escolha de eventos, mas ao mesmo tempo existe ainda assim dedinho ali subjetivo da Comissão Técnica para a Escalação e para eventos, ligado? E é uma coisa que todo mundo quis. Então, tipo, a gente cobrou isso desde o ano passado e para esse ano eles vão trabalhar pouco mais subjetivamente para a escolha de

João Agapito (31:09)
irado. E você estava falando que seu sonho é fazer uma semifinal de mundial, mas essa semifinal de mundial, o motivo pelo qual esse é o seu sonho é porque isso te levaria potencialmente aos Jogos Olímpicos ou não ter nenhuma conexão?

Felipe (31:24)
Não, não.

Não tem nenhuma conexão. É mais uma coisa assim que... Pô, me traz muito desejo. Acho que essas coisas não se explicam, não se justificam. É como você, tipo... Você vai num restaurante, olha o cardápio e fala, pô, eu quero carne. Por que você quer carne? Você deseja isso, né? Tipo assim, é uma coisa que você quer porque quer, tá ligado? E eu quero muito fazer essa porra dessa cena final aí, tá ligado? E é uma coisa que vem muito de dentro, assim, sei lá.

João Agapito (31:51)
Como você disse, você pega os campeões de todos os países, então você conseguir fazer uma semifinal. São os campeões dos campeões. Duríssimo.

Felipe (31:54)
E

É, exatamente.

E pegar uma semifinal parece uma coisa muito difícil. Ano passado, o Benra, é amigo nosso do Chile, foi o primeiro semifinalista da América do Sul toda a história na modalidade boulder. Ninguém nunca tinha conseguido fazer isso, ele foi lá e foi o primeiro, depois de tantos anos que sul-americanos

vias, já teve representatividade brasileira, o Sazinha, o Felipe Camargo, o Belê, a Janine Cardoso, todos eles passaram para semifinais. E eles são inspiração para todos nós e tipo, alguns deles hoje ajudam a gente a chegar nesse mesmo patamar, tá ligado? Então, tipo, a gente tá correndo atrás também com a ajuda dessa geração que se reciclou, tá ligado? E isso é muito da hora, porque...

Nos outros países a gente está falando de quatro, cinco gerações que já pararam de escalar e hoje ajudam quem está correndo atrás disso, para o esporte crescer. Então é muito importante isso, a gente entender que também nós, eu, Rodrigo, o Davi, o Samuel, a gente é uma geração que não é a pioneira. Eu sou a pioneira porque 2014 quando a CBS formou, eu estava lá.

15 anos eu tava na primeira seleção brasileira de escalada e eu nunca saí da seleção até hoje. Quase saí ano passado, mas consegui garantir meu lugar. Então, de uma certa forma eu peguei desde aquela geração que hoje dia nem escala mais e hoje dia ajuda a gente. E foi a primeira geração que fez isso, se reciclou e ajuda quem tá vindo até a geração que chegou e tipo, querendo ou não, corre atrás do que eu faço e chegou no meu nível e a gente fica batendo cabeça.

E ajuda o outro a evoluir, tá ligado? Então, tipo, é muito da hora também ser essa figura que acompanhou o começo e que tá acompanhando o futuro, tá ligado? Que, no meu caso, é o presente agora.

João Agapito (33:56)
E assim, você mencionou sobre a questão da... Talvez a palavra certa não seja subrepresentatividade, mas no sentido de que a América do Sul ainda não é relevante no cenário de competição escalada no mundo, porque é basicamente dominado ali por Europa, Japão e Estados Unidos. E aí você comentou também que, certa forma, enquanto os caras...

que na Europa, por exemplo, tem cinco gerações de delegado e trabalho, etc., no Brasil ainda é relativamente recente. Então, para além dessa questão ter essa história não tão longa quanto os Estados Unidos e Europa, quais os fatores que você atribuiria essa subrepresentatividade sul-americana na cena internacional?

Felipe (34:41)
Olha, se eu entendi bem o raciocínio, eu acho que uma das coisas que eu apontaria é a cultura. A cultura da escalada no país. O mercado de produtos outdoor no Brasil não vende tanto quanto o mercado internacional de produtos. Logo, as marcas que estão nesse nicho não suportam as demandas dos atletas. Logo, não tem patrocínio atleta marca.

E aí, tipo, como não tem atleta, o nível de escalada nos ginásios é muito baixo. E aí, como não tem nível, os atletas que existem, eles são reféns de buscar outros lugares pra treinar que não os ginásios comerciais da cidade onde eles moram. E aí vai essa cadeia toda aí que pode ir ao infinito e além, tá ligado? Tipo, sei lá, o campeonato juvenil brasileiro tem dez crianças. Hoje dia tem 90, tá ligado? Na época que eu competia, eu competia contra mim.

e contra eu mesmo só, ligado? Às vezes nem tinha outro participante para competir na minha categoria. Hoje dia tem muita criança competindo no Brasil. Só que se comparado ainda assim com o que a Europa tem, é nem terço, tá ligado? Às vezes tem campeonato arco com 300 crianças, tá ligado? Campeonato brasileiro tem, tipo chega a 40, 36...

Às vezes não tem participantes suficientes para ter três fases, a clasificatória semifinal e final, tá ligado? Então isso reflete muito ainda o momento que a gente está na linha do tempo ali de performance, tá ligado? É natural, todo o esporte desenvolvimento passa por essa fase, eu acho.

João Agapito (36:15)
E disse que de quando você era criança e estava competindo para agora, que não faz tanto tempo assim, já mudou bastante, né? Então você é otimista no sentido da escalada expandindo e se tornando mais popular no Brasil?

Felipe (36:24)
Muito.

Eu não tenho dúvida. Zero dúvida, com certeza.

João Agapito (36:35)
E cara, outra coisa que eu queria te perguntar é, acha Olimpíadas LA 2028, você acha que é possível?

Felipe (36:43)
Difícil de falar, Eu não consigo te dizer sim ou não, porque o processo seletivo é muito duro, tem muita gente muito competente e tem essa briga temporal de cultura gigantesca, né? Do tipo, que o Brasil tá vivendo agora, foi o que a Europa viveu há 20 anos atrás, assim, relação ao tempo. E aí eu já me peguei sonhando com a Olimpíada e dois ciclos olímpicos, tá ligado? Eu fiz pra Tóquio e fiz pra Paris.

E eu percebo que não é pra mim, assim, pensar Olimpíadas. Eu ainda tô numa expectativa de, ir pra uma semifinal de Copa do Mundo, que a gente fala dos 20 melhores do mundo, entre aspas. E as Olimpíadas, pra você se classificar, ou você tem que ficar pódium campeonato mundial, que são os três primeiros, ou você tem que ganhar o campeonato continental, que significa ganhar o campeonato pan-americano, que aí você compete diretamente com os Estados Unidos, Canadá e toda a América do Sul, ou...

Você está entre os 40 melhores do mundo no ranking mundial do ano passado, a seletiva. E aí isso te classifica para evento que chama OQS, que foi o que foi ano passado. E esse OQS sai os melhores 16, 12 primeiros, se eu não me engano. Então, falar Olimpíadas significa você primeiro ser semifinalista como identidade. E não conseguir uma semifinal e aí...

Sabe, tipo, é que eu te falei, primeiro V14 é muito fácil. É, quer dizer, é muito fácil. É difícil, mas não é tão difícil quanto mandar o segundo e continuar fazendo. Então, tipo, pra pensar Olimpíadas, tem que ser semifinalista. Não pode ser, eu fiz uma semifinal, tá ligado? Então, tipo, primeira coisa é entender essa questão aí de furar essa bolha e pertencer a esse próximo patamar que é os semifinalistas. E aí depois pensar Olimpíadas, minha opinião, sabe?

João Agapito (38:31)
E cara, você explicando assim, dá para entender o quão o nível é alto, Tipo assim, a barra é muito alta, velho. Tá doido, porra.

Felipe (38:39)
É muito alta,

é muito alta. é isso, no meu dia dia eu escalo submáximo 90 % dos meus treinos. Porque eu treino ginásio onde serve a mim, que é atleta, mas também serve a quem paga. Porque eu não pago no ginásio, sabe? Eu escalo lá de graça porque o dono faz isso por mim, ele me dá essa vibe. Ele quer ver eu evoluir e não me cobra e ele faz questão de me ajudar no que ele pode, ao mesmo tempo...

ele tem que servir também a galera que vai lá e paga, sabe? Que é uma galera que não tá lá pra performar. Então, tipo, eu escalo boulders que são, sob máximo, 100 % da minha rotina, assim. E aí, graças à CBE, a gente tem centro de treinamento olímpico aqui Curitiba, onde temos root setters capacitados pra setar pra gente, e contratam root setters internacionais, e aí o jogo vai virar muito, assim, pra gente, sabe? Vai ser muito importante ter o CT. E aí, é uma das ações da CBE, tipo...

não mandar a gente pra fora tanto esse ano pra preparação, mas focar preparação interna, porque isso também deixa legado, ligado? Deixa legado pros Venil, deixa legado pros Setters e no Brasil formação que tem a experiência de setar mais difícil. Então tipo, todo mundo tem que melhorar, tá ligado? Não é só o atleta de alto end-wind, é a confederação, é os Setters, é os ginásios comerciais, é o nível basal da galera que escala for fun, tá ligado? Que vai no ginásio, compra sapatilha e gira o mercado e compra isso e compra aquilo e aí a marca que...

Vende, tem grana e suporta o atleta, enfim, todo esse giro que precisa acontecer pra chegar lá, tá ligado? E todo mundo tá dando o melhor que pode, Sei lá.

João Agapito (40:11)
Sim, então você estava falando aí sobre os pré-requisitos para entrar numa olimpíada. Então, esses campeonatos pelos quais você potencialmente se classifica para os Jogos Olímpicos, neles você também encontra essa mesma combinação de modalidades que você encontra nas olimpíadas ou é diferente?

Felipe (40:30)
Então, as Olimpíadas de Tóquio foi a primeira Olimpíada da escalada, então a modalidade que aconteceu lá foi acombinada. Isso porque, tipo, quando esporte entra nos Jogos Olímpicos, ele precisa passar por processo de ganhar espaço, Então ele vai ganhando a confiança do Comitê Olímpico Internacional de que é esporte vendável, que a galera cite, que é fácil de entender e é comercialmente legal, tá ligado?

Então, primeiro eles dão uma chance lá e dá uma medalha pra quem ganhar masculino e uma medalha pra quem ganhar feminina. Só que como que a tem uma medalha com quatro modalidades? Com três modalidades. Então combina tudo numa só e virou combinado. O combinado é boulder, via e velocidade. E aí, Los Angeles, não, Paris a gente já ganhou pouco mais de credibilidade. Então foi separado, velocidade, boulder e via. Combinado. Entendeu? E aí, a tendência que é pra...

para Los Angeles que tem as modalidades individuais, que é exatamente o que acontece no circuito das Copas do Mundo e Campeonato Mundial da escalada fora das Olimpíadas. Então, isso teve uma coisa também que é importante destacar, que tipo, por exemplo, na minha época, 2014, eu comecei a competir no Juvenil, comecei a me apaixonar pela escalada de competição, e aí 2016...

a gente teve as primeiras viagens internacionais como time só que a gente só teve isso porque a escala entrou para as olimpíadas e a gente começou a receber suporte financeiro do governo logo nós como atletas tínhamos a obrigatoriedade de competir no formato e treinar no formato olímpico combinado entendeu? então tipo eu nunca consegui na minha trajetória inteira de 20 anos que eu escalo falar eu sou focado numa modalidade se já é difícil fazer isso e passar para a semifinal

Imagina treinando as três, tá ligado? E tipo, você não pode escolher que você é melhor, você tem que ir bem nas três pra performar. E num planejamento macro, isso significa que, por exemplo, se eu sou atleta que tem afinidade por via, eu preciso abrir mão dos meus treinos de via pra treinar velocidade bôder, tá ligado? Então tipo, beleza, eu nunca passei por uma semifinal de Copa do Mundo desde que eu começo a competir, faz quase dez anos que eu tento isso.

Mas também, eu nunca tive a oportunidade de me especializar numa disciplina, que é o que eu estou fazendo ultimamente. Eu tenho tentado me especializar na disciplina dificuldade. E só de ter separado velocidade de bolervia, já é muito melhor pra gente performar, o que foi o último 5 o limpo. Se isso acontecer ainda melhor no de Los Angeles, a gente vai ter mais tempo pra focar no que a gente mais quer, que é se especializar.

João Agapito (42:55)
Sim, e vão ter mais spots também, vão ter mais vagas eu imagino, né?

Felipe (42:58)
De uma certa maneira, sim. Porque é 20 para cada modalidade, né?

João Agapito (43:03)
Sim, mas eu achei muito bizarra forma como... Primeiro, é loucura pensar que é foda, sem querer diminuir outros esportes, já diminuindo. Os esportes na nave, estão nas Olimpíadas há anos e tal, e aí pega a escalada. esporte incrível introduzido dessa forma. Tipo, você botar cara...

para fazer dificuldade e speed. Disputar só quadro de medalhas para masculino e feminino. achei isso, no meu ponto de vista de espectador, muito bizarro.

Felipe (43:35)
É, tanto é que, tipo, acho que por conta disso que a gente tem se mostrado válido pra ganhar mais medalhas, tá ligado?

João Agapito (43:42)
Sim. E bom, a estava falando do Jacob Schubert. O cara é muito máquina, Puta que pariu, mano. O cara conseguiu encaixar duas Olimpíadas pode nas duas, sendo cara que também é old school, que vem mais do outdoors. E aí eu queria te perguntar, cara, quem são hoje suas referências, seus ídolos dentro da escalada?

Felipe (44:05)
Eu Schuber número 1, só de carteirinha, velho. Toda vez que eu vou no Mundial e eu assisto, eu torço para ele ganhar.

João Agapito (44:14)
Fiquei.

Felipe (44:14)
Porque eu acho ele uma pessoa muito humilde, muito acessível, uma pessoa que tipo... dedica pra caralho nas fraquezas dele, que todo mundo sabe quais são e não deixa com que isso tipo... Entre na cabeça dele. Todo mundo sabe que se tem slab difícil o Chubber não vai fazer. E as vezes ele faz e ninguém faz, tá ligado? Então É muito da Torcer por ele e tipo... Porra, ano passado... Não sei se foi ano passado, o retrasado dele foi ano cabuloso, assim. Acho foi retrasado, ele...

Se classificou para as Olimpíadas, ganhou campeonato fez fez 9C, que é a big, fez o Deepwater Solo mais difícil do planeta. Tipo, o ano dele foi ano que nunca ninguém, nunca nem pensou fazer, assim, fez muito lá, pra mim ele é next level, assim.

João Agapito (45:02)
E você tocou nesse ponto. Para muitos caras famosos e respeitados na cena da escalada no mundo, o Adam Ondra é o maior escalador. E o próprio Adam Ondra já admitiu que se ele fosse eleger o maior competidor, o maior algóis dele ao longo da carreira, é o Jacob Schubert. E o Ondra agora nas Olimpíadas...

passou muito longe do pódio, Mas você acha que... Eu queria te perguntar no sentido de, beleza, o Adam Ondra é considerado o maior, mas será que o Jacob Schubert é melhor no sentido de que mais completo e conseguiu também ir para as Olimpíadas e pegar medalha nas duas?

Felipe (45:43)
É que isso é uma questão de opinião, né? Quando você fala o Yaku... o Ondra é o maior, pra quem? Tá ligado? Pra mim não é. Pra mim não é o maior, tá ligado? Ele tem i8-90, talvez ele seja o maior.

João Agapito (45:53)
Hahaha!

Felipe (45:53)
1,88 sei lá. É isso, tipo, é uma questão de opinião. que não sei dizer quem que é melhor e acho que também tem a questão do dia, né? Quem que é melhor qual dia, tá ligado? Se for uma competição é sobre isso, tipo, quem que é melhor naquele dia. É muito mais fácil você mandar quer dizer, é muito mais fácil. É tão difícil quanto você mandar V10 slab com cinco minutos que naquele dia que escolheram pra você, não foi nem você que escolheu, escolheram o dia pra você...

A ordem de entrada, a hora que você vai ter que acordar, escovar o dente e lanchar e depois de prisãoamento esperar tanto tempo pra performar, tá ligado? Não foi nem você que escolheu o tempo. E aí você tem cinco minutos pra resolver uma parada sem nenhuma informação. Se for V10, tem gente que faz, que manda V15, tá ligado? Então, é melhor naquele dia, tá ligado? O Schuber, às vezes, tipo quando gente fala de V17, ele tem a vida inteira pra mandar V17, né? O que não é fácil.

Mas também não me surpreende ele não mandar V10 slab mesmo mandando V17 por causa de todas essas outras variáveis, entende?

João Agapito (46:54)
Sim, sim. E a escalada também tem muito Tipo, pode ser que numa competição você dá o seu melhor, mas tipo, você meio Embora seja esporte individual, você meio que também depende das outras pessoas não terem o melhor dia delas, né? Dos seus outros competidores.

Felipe (47:12)
É por isso que não faz sentido você se comparar com uma pessoa na competição, porque a gente não sabe o que ela entregou, tá ligado? A não sabe se foi o melhor ou o pior dia dela, sabe? Então o que importa é você chegar lá e dar o seu melhor, velho. Porque é só isso que vai te fazer satisfeito. Se você der o seu melhor e não ficar primeiro lugar, você não tem como ficar puto, tá ligado?

João Agapito (47:30)
E como é o seu trabalho mental? Como você faz essa preparação mental para competição?

Felipe (47:36)
Então, eu hoje dia faço acompanhamento com psicanalista, se chama Lucas. A gente tem trabalhado já faz ano. E eu acho que a preparação mental não tem nada a ver com a competição, no meu caso, sabe? tem mais a ver com a minha vida, com as minhas escolhas, como me trazer felicidade, como conseguir olhar pra uma ótica que eu me sinto mais e não menos, tá ligado? Tudo isso de tipo...

largar o chicote e pegar uma almofada, tá ligado? Ao invés de ficar se punindo e, enfim, é exemplo pequeno, assim, de várias coisas que a gente trabalha, assim, mas é mais esse olhar pro subconsciente e como a reage de uma maneira que às vezes a gente não controla, assim, sabe? E o porquê dessa parada não é tão importante investigar o porquê. Às vezes, sabe?

Mas é importante ter a noção e a realização de que é assim, sabe?

João Agapito (48:30)
Sim, irado. cara, só a última pergunta que eu queria te fazer aqui. Imagino que você seja espelho pra mulecada que tá começando no esporte, Enfim, que pense dia competir. Então, que mensagem você deixaria pra essa galera que tá começando na escalada agora?

Felipe (48:48)
Então, acho que uma das coisas que é mais importante é você amar as coisas certas, amar a escalada. Não amar vencer, não amar competir, não amar coisas que tipo se tirarem da sua mão ou tirarem de você, já não é você mesmo, tá ligado? E isso é muito forte porque independente do que aconteça, você vai estar feliz fazendo o que você se propõe a fazer, tá ligado? Se tiver escalada no meio, tá certo, tá ligado?

Então acho que isso é bem legal assim, conseguir conquistar e ter clareza, sabe?

João Agapito (49:19)
Porra, virado velho. É bom, teria alguma outra coisa, alguma outra mensagem que você gostaria de deixar?

Felipe (49:25)
Acho que é importante cada ter uma escovinha e escovar as agarras. importante. De resto é

tiro o prado a menos quando se treinar de comer, então escava que porra da garra quando você acabar de escalar, véi.

João Agapito (49:37)
analogia é muito boa, nunca tinha Mas, cara, é isso. Valeu demais. A conversa foi muito massa. Muito obrigado por ter dividido pouco mais sobre você, seus planos, sobre a

Felipe (49:47)
Tamo junto! Valeu aí pelo espaço de fala!

João Agapito (49:51)
E se você ficou aqui até o final, eu imagino que você tenha gostado, a melhor forma de apoiar o podcast é deixar a sua avaliação, se inscrever, seguir e compartilhar com quem você fazer uma contribuição financeira impactando diretamente o nosso trabalho, eu vou deixar link aqui na descrição e é isso.

Muito obrigado e até semana que vem.