
Rádio Grilo
Na Rádio Grilo, somos todos apaixonados pelo mundo outdoor. Aqui trazemos histórias autênticas de atletas, viajantes, fotógrafos e filmmakers que compartilham diferentes perspectivas sobre essa paixão. Apresentado por João Agapito.
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13. Michael Noal: Highline, Slackline e o Recorde Brasileiro (1.400m em Itatim)
O Michael Noal é atleta de highline e um dos pioneiros do esporte em Porto Alegre. Ele já andou sobre linhas a mais de 1.000m de altura e participou de diversos projetos no esporte, incluindo o do atual recorde brasileiro, realizado em Itatim (Bahia), com mais 1.400 metros de extensão. Além disso, ele também é geólogo e velejador.
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Fala galera, sejam muito bem vindos a Rádio Grilo, seu podcast do Mundo Outdoor. E no episódio de hoje, a vai bater papo com o Mikael Noal, é atleta de Highline e dos pioneiros do esporte Porto Alegre. O Mika já andou sobre linhas a mais de 1000 metros de altura e participou de diversos projetos no esporte, incluindo o atual recorde brasileiro que foi realizado Itatinha, na Bahia, com mais de 1400 metros de extensão.
Além disso, é geólogo e não só pelo amor ao slackline, mas também função de acidente que ele sofreu há alguns anos. E nesse bate-papo a gente vai falar sobre tudo isso e muito mais. Bora lá?
Para começar, imagine que nós estamos cima de Highline. Então, como você explicaria, uma frase, o que é essa modalidade para uma pessoa que nunca viu?
Michael Noal (01:22)
Eu acredito que cima de Highline assim né, imaginando a cena, eu acho que é uma imersão para dentro de si mesmo assim. Tu conseguir de fato ter contato com si mesmo, pode se dizer meditação, pode se dizer mente atenta, estábio elevável de concentração, eu acho que esse é o... É que eu resumiria assim.
Joao Agapito (01:44)
Fui
irado e escutei dizer que você foi dos pioneiros na cena do Highline Porto Alegre, então como que era essa cena mais ou menos quando você começou?
Michael Noal (01:55)
Então, quando eu comecei a fazer Stackline ali, 2010, eu conheci o Stackline. E aí eu tive ano de... conheci numa praça e tal, e depois eu fiquei ano sem praticar, porque eu praticava outros esportes. E aí depois, ano depois, eu fui conhecer Porto Alegre, era outro local que eu tinha conhecido de fato. Aí eu fui ver Porto Alegre, na pista de skate do Marinha do Brasil, que eu andava de skate, enfim, e vi...
naquela fita e já tinha andado há ano atrás, pensei, ó, era legal, gostei muito, mas não tinha ido atrás, né? E aí fiquei amigo de rapaz que já praticava. E aí fui praticando, praticando, praticando, praticando, só que na época não tinha muita gente, assim, escasso, assim, o Brasil inteiro estava começando também, assim, né? No Rio de Janeiro já tinha pouco mais evoluído, mas mesmo assim, era muito poucas pessoas, era grupo seleto de pessoas que praticavam.
Então era muito difícil, o acesso era difícil, os equipamentos eram tudo comunitários, Era que tinha fita e várias pessoas andavam. Eu até brinco, antes eu andava de skate bastante e descia e fazia pouco de slackline. E aí eu fui cada vez mais andando menos de skate e andando mais de slackline, até certo ponto que eu já nem andava mais de skate, só fazia slackline. Porque o slackline, ele...
leva controle da tua mente, de concentrar, foco, que eu gostei muito. Porque eu sempre fui uma pessoa muito elétrica, muito energia, e isso me ajudou a canalizar, a ficar no momento presente. E aí, eu conheci os escaladores, comecei a escalar, isso já com os dois anos de prática, e fui para Minas Gerais, e Minas Gerais eu tive contato com o pessoal que já fazia Highline mesmo, que era o escalador.
e era muito escasso no Brasil, assim a comunidade do Rio, como eu te comentei, e Minas tinha os escaladores mesmo, assim, que faziam. Aí eu tive a minha primeira experiência Minas, voltei para o Rio Grande do Sul já com aquele objetivo, ó, eu preciso escalar, preciso conhecer o universo da escalada para ter esse contato mais íntimo com o Highline no meu estado, né, no Rio Grande do Sul.
E aí conheci grande mestre, é o Cristiano Bacchus, que foi cara que já fez Highline na montanha, ele é escalador antigo, e ele é uma pessoa que foi minha referência durante todo o meu início, processo inicial de escalar mesmo. Me deu muita técnica, me incentivou a fazer, abrir novos Highlines no Rio Grande do Sul. E aí foi indo, Esse processo foi indo, foi evoluindo cada vez mais, assim, fui tendo mais contato com os escaladores.
e consequentemente, tendo contato com muitos locais onde é possível praticar o Highline, mas até então eu só escalava via, potencial e Highline mesmo, a gente abriu alguns. Até então, nesse, vamos dizer assim, no pico da minha habilidade e resistência, eu fiz curso de acesso por corda também para ampliar o conhecimento técnico na área de nozes, amarrações, ancoragem, enfim.
E tava me sentindo muito bem, tava me sentindo assim, agora eu posso abrir vias de Highline por tudo que é lugar e tava tudo certo. E aí Torres eu tive acidente de Highline que quase custou minha vida, foi acidente bem sério, eu caí uns 25 metros, a fita soltou, cedeu, dos blocos cedeu, eu amarrei bloco e lá é lugar onde cai muito bloco, foi completamente inconsequente, Fiz
uma ancoragem que eu nunca mais, nunca faria hoje dia, E isso me custou, assim, eu ter foco não no esporte, e sim no lado mais intelectual, Que é o lado de entender o por trás dos equipamentos e o por trás do meio onde a gente insere o slackline, né? O highline ou escala, enfim. Que são as rochas, né? Que são, enfim, a terra, vamos dizer, no modo geral, né? Porque às vezes é rocha, às vezes é o solo, né? Enfim, tem ancoragens de diferentes tipos, né?
E isso foi quando eu comecei a me interessar pela Geologia. Então eu vim fazer o curso de Geologia, me formei geólogo. Junto com esse curso, que foram seis anos de curso, eu me aprofundei cada vez mais no Highline. Isso fez com que eu tivesse confiança de novo para voltar para o esporte, porque o acidente me deixou muito traumatizado no primeiro ano. Eu fiquei muito traumatizado. E através do estudo mesmo eu consegui...
tendo forças para poder voltar de uma maneira mais consciente e com mais segurança, prestando atenção desses aspectos, assim. Então, mais ou menos é isso, assim, minha história com Slash.
Joao Agapito (06:42)
Não, que puto história, a gente ainda vai esmiuçar isso pouco mais adiante, mas só voltando pouco mais aqui para o básico. Você estava comentando sobre a espessura da fita, então fala para a gente a principal diferença entre o slackline e o highline para além da altura que eles são ancorados.
Michael Noal (07:01)
Na verdade o slackline é termo amplo, highline faz parte do slackline, colocar assim né, porque é slack, A única diferença de fato que tem pro slackline das manobras, que é o trickline que a gente chama, pro highline que seria no alto, na altura, seria a espessura da fita, a espessura da fita vai mudar.
A espessura do trickline é uma espessura de 50mm, 5cm a fita tem. Enquanto que no long line, seriam as distâncias longas, mas não na altura, ou no high line, que seria na altura mesmo, as fitas vaiam de 25mm, metade dessa, e podendo chegar até 17mm.
que são as fitas mais modernas, de alta tecnologia, mais leves, para poder fazer travessias ainda maiores. E aí o material também acaba mudando, que é o material da fita mais grossa, é poliester, 100 % poliester, que ela é flexível, ela tem uma elasticidade específica e tal.
enquanto que essas fitas mais finas de highline, para essas distâncias maiores, da Inema. Mas existe também no highline fitas de coliester, existem fitas de nylon também, que são bem elásticas. Então cada fita tem a sua doença. Quer fazer highline longo, muita distância. Por exemplo, agora que batemos o recorde brasileiro, todas as fitas eram de da Inema. Material mais fino, resistente tanto quanto, mas mais fino e mais leve.
ou
Joao Agapito (08:36)
que
isso é toda uma ciência sobre o meu ponto de vista na pessoa que entende zero de dislike line tipo uma linha mais espessa deve ser mais fácil de andar né assim independentemente da altura isso é correto?
Michael Noal (08:50)
Eu
costumo dizer que o mais difícil e o mais fácil é sempre pela prática, se tu praticou só numa fita fina, tu vai chegar numa fita mais grossa e vai achar a fita mais grossa mais difícil e vice-versa. o que tem de que a realidade mesmo é que quando tu começa a aumentar as distâncias, as fitas mais grossas são mais instáveis. Elas tendem a ser mais difíceis de caminhar.
Então aí também já vai ponto positivo para as fitas mais finas serem usadas no Highlight.
Joao Agapito (09:21)
Entendi. Cara, então voltando pouco mais aqui para a questão das origens. Bom, você foi dos precursores do StackLine lá Porto Alegre por volta de 2010. eu imagino que, tipo, para esporte que hoje dia, sendo mais popular, já meio que assusta o público ver uma pessoa andando cima de uma linha, tipo, atravessando dois prédios na cidade. Então...
Tipo, teve algum desafio no sentido de montar linhas na cidade e a sociedade aceitar, assim, prefeitura? Não sei. Teve algum desafio nesse sentido?
Michael Noal (09:57)
Cara, teve muitos desafios de... O início sempre é muito difícil, né? Porque as pessoas não acreditam, acham perigoso, acham que é uma coisa de louco e que tem tudo para o não estar implícito. Não, isso aí é coisa de louco, ou enfim, rotulam muito. Então a gente...
recebi muitas portas fechadas assim, de projetos que a gente tava afim de fazer e não, né. Mas também aí quando com o tempo e com a evolução do esporte, cada eu costumo dizer assim, cada no seu estado, porque também nesse processo inicial eu viajei pelo Brasil e tive acesso a campeonatos, né. Porque no primeiro momento eu ainda fiz trick line, que a crise de manobra, eu tive, conheci pessoas do...
dos estados, e esses núcleos cada estado começaram a evoluir também, assim como o Rio Grande do Sul. E aí isso fez com que o esporte começasse a ser esporte espetacular uma vez, foi para novela, as empresas começaram a ser... As pessoas, do modo geral, começaram a conhecer e começaram a ver que não, é esporte, está sendo construído, enfim. E isso fez com que a gente tivesse pouco mais de abertura.
Mas eu recebi muitos nãos, E fui muito tachado, né? Mas isso devagarinho foi começando a quebrar as barreiras, uma barreira forte que teve, foi quando eu fiz o Highline no Beira Rio, né? No estágio do Inter, que foi também superprojeto, que isso aí já deu boom, assim. Daí, todos os estádios, cada começou a querer fazer nos estádios...
Joao Agapito (11:32)
É,
então, se você fez no Beira Rio, tinha que fazer no Olímpico também, né?
Michael Noal (11:37)
É o No Olimpico, inclusive eu recebi não da Arena lá, eu tentei né, eu fui atrás também. Embora o meu vô é colorado, a família é colorado, então foi mais fácil entrar. Mas no Grêmio eu tentei também e recebi não, porque a Arena é muito bonita também, nem tanto o time, mas pela ação mesmo, que foi muito bonito.
Joao Agapito (12:01)
Sim,
então assim, a população de uma maneira geral começou a ver que era tipo de fato esporte, era tipo só bando de gente louca atravessando cima de uma fita, então a percepção de perigo, assim vamos dizer, ela tipo diminuiu. Mas eu queria entender assim, do seu ponto de vista, você acha o Highline uma modalidade, esporte perigoso?
Michael Noal (12:25)
É uma boa pergunta essa. Eu acho que depende, depende muito de vários fatores. Eu acho que pode ser, muito perigoso, mas se bem executado, com todas as linhas de segurança bem claras, a gente minimiza muito os riscos, muito mesmo. Os equipamentos...
não são, eles são feitos para aguentar uma carga muito superior ao que a gente usa, de fato. E acredito que assim que são os perigos mesmo do esporte, sejam as condições climáticas, né? E principalmente as ancoragens, foi o que eu acabei me acidentando lá e eu vejo que isso também faz muita diferença. Mas assim, se tu...
Se você fizer uma comparação entre esportes de onde o slackline surgiu, que o slackline surgiu, para quem não sabe, slackline surgiu da escalada, ou seja, ele é o... Eu sempre falo que o slackline, o highline é uma atividade no meio do montanhismo, né? É mais uma atividade no meio do montanhismo. E o montanhismo si, que é a atividade, vamos dizer assim, que engloba tudo, ela é muito mais arriscada, né? Você tem risco muito maior, né? Enquanto que você vai escalar lá, você está te pondo risco...
muito mais assim. Então o Highline tem como mitigar esses riscos. E eu acredito que seja esporte considerado bem seguro até, porque 30 anos a gente teve pouquíssimos acidentes e os acidentes que teve é quase que maioria erro humano, ou então uma negligência de tempo, enfim, uma negligência da ancoragem de olhar o que que nem eu aconteceu, enfim.
que já aconteceu com outras pessoas também e fatalidades ocorreram mas são poucas e são realmente por erro humano, né? É até triste falar isso, assim, o erro humano e tal, mas se tu analisar profundamente, friamente, é, né?
Joao Agapito (14:20)
Não dá para omitir, Mas, bom, você teve esse acidente no Highline que também foi dos motivos que levou você a estudar a geologia. Então explica para a gente pouco mais sobre como a geologia te ajuda hoje no processo de ancoragem. E ancoragem, no português, claro, nada mais é do que você colocar a linha de ponto A até ponto B, certo?
Michael Noal (14:46)
A ancoragem, quando a fala no Highline, a fixação, é os pontos fixos para a gente tensionar o nosso sistema, que é a fita no caso. E, então, a ancoragem é isso. Quando a fala ancoragem, pode também ter solo, que aí vai os vergalhões de ferro no solo mesmo, que aí criam-se ponto de ancoragem no solo. Mas basicamente a ancoragem é isso. E como a geologia pode ter influenciado nessa melhora da percepção,
Eu acredito que é conhecendo pouco mais as rochas mesmas, os pontos de fraqueza, saber identificar se uma rocha está muito fraturada, saber identificar onde está percolando água, para de repente evitar. Mas esse, eu vou te dizer que é conhecimento que é muito mais prático de visual do que de fato científico. Até pode ter controle se voar com drone e ver pontos onde tem maior...
instabilidade e evitar esses pontos, enfim. Mas o que a gente costuma fazer mesmo é olhar o lugar onde tem onde isso que eu te falei não tem tanta fratura, a rocha é mais sólida. Isso dá com a rocha que é, né? Porque, por exemplo, rochas sedimentares tem uma tendência a ser mais friáveis e mais frágeis, então a gente vai ter que utilizar uma ancoragem mais robusta, no caso ancoragens químicas, né? Só depois eu vi que a geologia é universo, assim, muito grande, que envolve clima, envolve
também o local e também me incentivou mais ainda a conhecer o planeta Terra como todo, porque é muito grande.
Joao Agapito (16:19)
Que da hora, cara. Obrigado pela explicação. Acabei de me sentir numa aula de geografia na sétima série, que eu adorava, cara, a proposta. então, aí, por exemplo, beleza, você passa por esse processo da escolha da rocha, mas aí também tem processo no sentido de, tipo, nivelar o ponto A com o ponto B. Conta pouco mais sobre esse processo, por gentileza.
Michael Noal (16:44)
Esse processo na verdade ele pode ser feito com uma bússola ou enfim de olho mesmo assim, mais ou menos e tal. Hoje dia pode ser feito com drone né, tu voa o drone de ponto vai até outro ponto sabe mais ou menos qual é o desnível que tem entre ponto e outro. E existe também laser que eu também tenho porque eu sempre tive essa visão de conquistar novos highlines que a gente chama de abrir novas novas vias e então eu também comprei esse laser que faz uma medição de uma
uma trigonometria ali que consegue saber a distância, consegue saber a altura que está relação ao ponto onde está mirando. Isso aí são formas, Mas agora quando começa a pegar linhas muito distantes, já começa a ficar o drone já começa a ficar imprescindível para saber a distância real e a altura e tal. É mais ou menos isso que a gente consegue nivelar, sim.
Joao Agapito (17:36)
da hora. E por falar linhas longues, então eu vi que você encadenou uma linha de 644 metros a 1000 metros de altura lá na Serra Catarinense. Então essa altura, pelo que eu pesquisei aqui, é equivalente a três Torres Eiffel empelhadas. Esse foi o seu Highest Highline, ou seja, seu Highline mais alto?
Michael Noal (17:56)
Eu acredito que sim, se comparando também aos highlines que eu fiz lá na Serra do Rio... na... São José dos Ausentes, lá na Serra do Rio Grande do Sul, também tem mais ou menos essa altura. É os cânions, né? São maravilhosos e tem essa altura toda, vasto. E sim, foi o highline mais alto, acho que eu já fiz até agora.
Joao Agapito (18:16)
Pô cara, que incrível. E conta pra gente como é que é a sensação de estar lá nas alturas, Tá tipo, nas nuvens, literalmente.
Michael Noal (18:22)
Cara, é bem emocionante. verdade, esse Highline foi sonho. Na verdade, todos os Highlines são sonhos, assim, que a gente vai primeiro sonhando e, de repente, acaba se concretizando, que algo que não tá lá, né? A gente cria aquele ambiente, né? E esse foi mais daqueles que, desde a faculdade, eu já tinha esse sonho. Inclusive, até engraçado que o professor meu falou, ó, aí, Nica, dia, tá, atravessar aí. Eu falei, não, é muito longe, uma distância muito longa. Na época...
Era muito longo, ninguém andava aquilo, sabe? E aí, grande amigo que é o Ícoro Martins, que é rapaz muito dedicado ao esporte, ele é guia de turismo, ele se mudou para a serra catarinense e começou a se envolver com a prefeitura, enfim, conseguiu autorização, porque é lugar que é super restrito, não é tão simples assim, chegar lá e montar, tem que toda a autorização de tudo, enfim, fez
Ele fez evento, de fato, para isso acontecer. E a partir daí, sim, teve a conquista da linha, que já foi algo surreal, foi super bem programado. O tempo permitiu, também o tempo estava horrível antes, e daí de repente abriu uma janela de tempo perfeita para a gente conseguir desfrutar. E a sensação de estar lá cima, então, foi toda essa gratidão por...
todo esse tempo de preparação até chegar no momento, gratidão dos amigos também por poder. Highline a não faz sozinho, gente sempre tem que ter uma equipe por trás. Então aí quando é hora de andar, eu costumo dizer que é a parte boa, é a parte fácil. Todo mundo acha, andar é difícil. Não, andar é fácil. Difícil é montar, fazer toda essa logística, conseguir todas essas autorizações quando o Pico precisa, exige. E aí depois andar assim foi uma... É como eu disse lá no início, é uma meditação.
É mix de sentimentos que a gente vai controlando isso a partir da respiração. A respiração vai comandando e aí tu absorve toda aquela natureza que tá por fora e a concentração é muito presente. É o carro chefe pra te manter ali de pé e seguir andando.
Joao Agapito (20:27)
Porra, cara, que tá hora de você só conseguir imaginar, porque eu nunca passei nem próximo de alguma coisa nesse sentido. Mas eu queria entender como que é a gestão do medo para você. Bom, você está ali cima, naquela concentração máxima, você entra modo automático, você pensa sobre a altura.
Michael Noal (20:47)
é quase impossível de não sentir medo. O medo, ainda mais quando é Highline que tu nunca andou, tu não conhece. Então o medo está presente, ele é o que te move ali, e tu vai entrar, no momento que tu entra na linha, tu entra com certo medo, o coração sempre dá uma pulsada mais forte, tu fica com aquela sensação de adrenalina mesmo.
Mas aí entra o processo de se lembrar que tu tá ali porque tu praticou no chão muito. Porque tu teve real, tu tem real condições de estar ali. E aí tu tem que conversar contigo mesmo, botar pra ti mesmo que não, que eu sei fazer esse esporte, esse esporte. Se sentir casa, naquele ambiente. Conseguir trazer pra si que aquela fita é o teu chão.
E não existe mais outro chão, aquilo ali. E isso aí, você só consegue fazer a partir do controle da respiração. gente vai respirando, se acalmando, entrando pra dentro, entrando pra dentro, até o ponto que tu... Agora eu tô bem. E aí tu te levanta e nos primeiros passos vai... Não vai ser tão... É... Raramente acontece nos primeiros passos de sair deslanchando, não. Tu vai bem devagar e vai sentindo, né? Até o ponto que tu começa a acostumar, começa a ver que não, tá tudo bem. E aí, atravessia si.
Normalmente quando ela é completa, quando é uma cadena, é uma travessia sem quedas, ela é muito suave, tem uma... Tu vai realmente conseguindo relaxar, assim. Tu vai conseguindo descansar, manter os braços tranquilos e a respiração vai conduzindo. Tua mente pensante acaba diminuindo, o fluxo de pensamentos acaba cada vez mais diminuindo, diminuindo, diminuindo, até o ponto que tu só fica na tua respiração, que é a meditação, e tu vai indo.
que vai caminhando plena meditação, meditação ativa.
Joao Agapito (22:43)
Que loucura, então assim, uma linha dessa de com 640 metros de distância, você demora mais ou menos quanto tempo para atravessar se você não cair?
Michael Noal (22:54)
Nessa específico eu demorei quase 40 minutos, 38 minutos. Embora pode atravessar mais rápido. Eu não sou dos atletas mais rápidos. Tem atletas que atravessariam essa fita 15 minutos, 20 minutos.
Joao Agapito (23:09)
Então,
mas assim, é muito doido eu pensar, bom, você a mil metros de altura, caminhando numa linha, assim, entre montanhas, a mil metros de altura, caminhando sobre uma linha com três centímetros de espessura, durante 30 minutos, cara, acho que é estado de mental, assim, como você disse, de meditação, muito profundo, cara, deve ser negócio muito louco.
Michael Noal (23:34)
É, sem dúvida é Cada vez mais assim, agora também com o recorde que foi... Eu demorei... Na primeira travessia eu demorei 1h16 e na segunda foi pouco mais rápido, foi 1h06, eu caí menos. Infelizmente nas duas travessias eu tive quedas, mas foi bom também para eu aprender assim a... Com as quedas, a aprende muito com as quedas, né? A aprende muito com o... Não é fracasso, mas o erro, assim, né?
Joao Agapito (24:03)
da hora cara. Então você tem comentado aí sobre essa conquista lá Itatim, então só pra dar panorama aqui pra quem não acompanhou, então recentemente você participou da montagem desse que foi o maior Highline do Brasil até onde eu pude pesquisar né, Itatim na Bahia com 1400 metros de extensão cara isso é loucura. Conta pra gente pouco mais sobre como foi o planejamento.
Michael Noal (24:24)
Foi surreal esse projeto, foi sem dúvida o projeto mais lindo que eu já participei da vida até então. estou até com saudades querendo reviver os momentos que foram muito intensos. O projeto, foi planejamento bem anterior a ele, Vamos colocar uns oito meses, seis meses de reuniões, gente discutindo vários processos, o resgate, como é que ia ser a linha, onde que ia ser, como que ia ser, quantas pessoas iam participar, todo...
a logística inteira de equipamentos, essas fitas que eu estou aqui atrás também são todas as fitas desse Highline. Então a gente fez mix de fitas também porque diferente lá da gringa, da either Belinha ou enfim, a Europa, estão montando muitos Highlines que eles usam a mesma fita. Eles pegam uma fita lá padrão, boa, fina e fita inteira da mesma fita. Aqui no Brasil como a gente não tem, cada tem pedaço e tal, gente uniu várias fitas para poder usar.
A apelidão até do Frankenstein, né? Porque são várias fitas diferentes conectadas. aí, enfim, toda essa logística aí, até que no final a gente foi pra Itatinha antes, né? pessoal foi antes pra Itatinha pra reunir com a prefeitura, porque tinha projeto. E a prefeitura, assim, super alinhada, a prefeitura de Itatinha é uma prefeitura muito legal. Eles incentivam muito o esporte, a educação, a saúde, eles são muito ligados, assim.
E eles nos deram total apoio, a conseguiu uma casa muito próxima do pico onde a gente montou. A conseguiu a alimentação que foi para o transporte, a hospedagem, que no caso é essa casa, e a alimentação a gente teve assim super perfeita. Então isso foi também fundamental para a nossa performance, como todos os atletas eram 20... Me desculpa se eu erra, mas acho que eram uns 24 atletas e mais uma equipe de filmagem profissional.
Então vai sair filme, já dando spoiler, vai sair filme para o julho, agosto, vai sair filme dessa conquista. Incrível, o pessoal da filmagem muito bom, eles são do cinema mesmo, então vai sair material muito legal para a gente poder também fazer próximos e esse é piloto muito bom para os próximos. E junto a isso, é aquela expectativa de quebra de recorde, que gente tem aquela coisa de será que vai dar certo, como é que vai ser.
mesmo que a equipe boa, ser que o clima, a estava com medo do vento também, que o vento na região não é tão fraco, mas a gente pegou uma linha bem alinhada com o vento, então isso aí também facilitou com que a fita não entrasse numa tensão tão grande. Ela tinha dois dinamômetros cada lado, então a gente conseguiu manipular bem as tensões cada lado. E foi legal também porque quando gente acabou de montar, a gente estava num pico do vento dos dias, que era sempre à tarde, sempre à tarde dava vento mais forte.
e a fita estava bem solta e chegou a pico ali de 300, 350 quilos, que é muito tranquilo. E então teve todo, assim, aporte de segurança, até porque os equipamentos evoluíram e também nós atletas compramos equipamentos, Já temos acesso a esse equipamento que antes era muito caro e mesmo só na Europa, assim, as pessoas tinham esse equipamento de meditação, que é equipamento super caro, a gente acabou de comprar agora seis pessoas.
É equipamento que custa 5.700 reais pegando barato. A gente pegou de dentro da fonte. E é equipamento só de meditação. Ele não faz nada, vamos dizer outras palavras. Ele é só para segurança. E a gente tinha dois. A gente tinha até três, mas usamos os dois. Então o pessoal está tendo esse equipamento. O pessoal que veio também, são os atletas que vieram, trouxeram fitas de fora do Brasil, com alta tecnologia também.
Então isso aí fez com que o projeto fosse mais tranquilo de ser executado. Embora tenha sido uma missão mesmo, né? Passar a linha não foi fácil, o próprio puxar a linha também não é tão fácil, né? Foram quatro horas puxando a linha e mais ou menos umas três horas depois soltando a linha quando foi desmontar. Então é processo, assim. Quanto maior a linha, maior é tempo de montagem, A logística fica muito grande.
Joao Agapito (28:36)
faz sentido e assim de todos esses dados técnicos que você acabou de contar eu acho que o que mais me chamou atenção foi de vocês fazerem o frank stein né tipo unirem porque cara mas é porque se é muito bizarro né você pensar tipo mais de quilômetro linhas mas enfim você pegar tipo diferentes linhas eu imagino que de
diferentes talvez materiais, diferentes espessuras, não sei, assim, como é foi esse processo, assim, e foi de fato o aspecto técnico mais difícil de todo o projeto?
Michael Noal (29:08)
Eu acho que foi dos aspectos interessantes da logística. Inclusive no grupo que a gente criou lá, a criou grupo que é o grupo do setup. E nesse grupo foram pessoas que foram, vamos dizer assim, as cabeças pensantes para montar o setup. Como é que ia ser designado cada pedaço de linha e organizado nesse Frankenstein. Como seria organizado isso? E aí foi, enfim, foi...
pensado sim colocar as fitas mais grossas, de 25mm nas pontas e seguindo para as fitas mais finas no meio, porque as fitas mais finas são mais estáveis. E aí foi seguindo uma ordem, essa é a fita mais fina, estava no meio, 17mm, e daí seguia as de 19mm, 20mm e até chegar nas de 25mm e tramas, que a gente chama tramos de fita, de diferentes tamanhos, o material é o mesmo, quem falou do material ali...
todas elas eram de dinema, é esse material mais fino, resistente e mais fino. Os tramos eram diferentes, exemplo, tinha 300 metros de uma fita lá X, depois tinha mais 200 metros da Y, depois tinha mais 100 metros de uma outra, enfim, tramas diferentes. Então por isso que dá esse aspecto de Frankenstein mesmo, porque são fitas diferentes, espessuras diferentes e ordens diferentes de tamanhos também.
Joao Agapito (30:28)
Não, muito da hora e essa é prova mais crua do quão nós brasileiros somos criativos. Você mencionou que na gringa a galera tem uma fita de mais de mil metros de distância, mas a gente é brasileiro, a gente dá jeito, a gente é criativo e vocês fizeram acontecer. Enfim, 100 % seguro, o projeto aconteceu, então parabéns para todos os envolvidos.
Michael Noal (30:55)
Sim, com certeza, uma... Não, só te corrigindo, eles fazem Highlines quilométricos também com vários tramos de 100 metros, mas da mesma fita. Tudo casadinho, tudo bonitinho. É porque, na verdade, só pra te dar uma informação técnica também, que é legal de inserir, que o ZEIC Line evoluiu para com isso. E no começo, como as pessoas não atravessavam fitas gigantes, era uma fita única. Era ali uma fita de 30, 50 metros que a gente montava ali, sei lá, Highline de 30 metros de distância.
E aí essa fita era uma fita de 50 metros e uma outra fita de 50 metros embaixo e era isso. E aí com o avanço das distâncias foi inventado esse método de montar segmentos de fitas separados que se conectam por olhais. Isso foi uma evolução do esporte porque se você pensar entre duas fitas de 100 metros vamos colocar aí 300 metros de fita única simples e três tramos de 100 metros.
Se caso vier a romper a fita principal, se tu tiver num tramo de 300 metros único, tu vai ter uma queda muito grande. Enquanto que se tu tiver trechos divididos, tu vai ter a queda só de 100 metros e não de mais dos 300 metros. Então isso foi uma revolução para a segurança mesmo.
Joao Agapito (32:13)
Entende? É importante você explicar isso também, mas acho que no final das contas também corro a Blora com a minha tese que a gente é criativo e gente dá nosso jeito. Isso é muito da hora.
Michael Noal (32:23)
Outra
coisa também que é bem pontual e que tem que se falar também, que teve uma moça que é a Erika, que eu gosto muito dela, ela é recordista brasileira, ela atravessou a fita sem cair, ela é muito especial assim no esporte, inspira novas mulheres aí. E ela comentou também, ela comentou assim que ela foi nos Estados Unidos, num Highline de Kilométrico também, e o pessoal lá montou com a fita perfeita, com a fita única e também num lugar super fácil acesso.
onde tu chega de carro na borda, nas duas bordas, tu sabe, tu atravessa o vão ali caminhando fácil. Enquanto que nós, nós a gente tava no calor da Bahia, nos espinhos, que tinha muito espinho, pra acessar lado a gente tinha que escalar. Enfim, a trilha do outro lado também não era tão simples assim, embora seja tranquila, mas não era uma trilha de graça, né? Tinha ali momentos que tinha que usar corda, enfim. Comparando assim, o brasileiro é...
tem essa raça também, de colocou pra jogo num ambiente não tão fácil.
Joao Agapito (33:25)
E assim, histórias como essas que eu me sinto muito orgulhoso de ser brasileiro, que eu acho que a gente é diferente mesmo, não tem como. E aí, Mica, ainda sobre esse projeto, então, apesar de todas as dificuldades, qual você acha que é a mensagem final? O que isso significa para o Highline no Brasil?
Michael Noal (33:41)
Cara,
acho que esse Highline é uma grande oportunidade de dizer que é possível, sabe? Que a gente pode quebrar esses paradigmas de igualar os gringos, vamos dizer assim, nos projetos, de elevar o nível do esporte a lado mais profissional, que a gente consiga, de fato, fazer o esporte, mas com todo o apoio por trás, sendo representado como esporte mesmo.
que o esporte muda a vida das pessoas e ele auxilia também num processo de cidadão mesmo, porque, exemplo, só para te dar exemplo disso, gente teve dia que a gente foi lá numa praça na Intatim mostrar o snack line para as crianças e para quem quisesse Isso foi planejado com a prefeitura também. Isso é uma forma também de gente estar emancipando o esporte, o se equilibrar na linha e não também...
colocando num pedestal, de fazemos o Highline lá e só, não, não, todo mundo pode praticar e todo mundo pode chegar lá dia a fazer o Highline, né? Então acho que o que eu vejo assim de positivo desse projeto, assim, é podemos, sabe? Somos capazes, temos uma equipe boa, atletas muito bons.
E falta de fato esse incentivo aos esportes. E isso acho que mais do que nunca, a nossa organização, como equipe do Brasil, como atletas do Brasil, para se organizar para conseguir recursos e cada vez mais esses projetos serem maiores, com mais subsídio. Que isso aí também faz com que fique mais seguro. E também novas pessoas tenham essa visão de, não, estão fazendo, eu também posso ir atrás e estar...
sempre nessa busca de evolução mesmo.
Joao Agapito (35:31)
É
efeito cadeia e muito inspirador você contar sobre tudo que envolve não só o projeto, mas o futuro do Sleight of no Brasil. Então, falar futuro, conta pra gente pouco mais sobre quais são os seus próximos projetos, alguma coisa talvez envolvendo geologia ou até mesmo ouvir que você também mexe com vela, com navegação.
Michael Noal (35:55)
Cara, eu tenho alguns projetos engatilhados aí para esse ano que tô trabalhando para que eles ocorram da maneira mais fluida possível. deles é a volta a Céia do Vio do Rastro, que vai ser agora o evento do... Vai ser a segunda etapa desse evento que ocorreu ano passado junho e agora dia 19 vai ocorrer de novo, então esse aí vai demandar tempo, todo processo de montagem diferente, a gente quer montar linhas diferentes. Então tem todo processo e trabalho...
específico nisso. Mais pra frente também tem, Júlio, outro projeto de escalada também que eu quero fazer com grande amigo que é também do Highline, mas que escala, porque eu vou ajudar ele numa montanha, no rio. E assim os projetos também da vela que tu comentou, tem irmão que veleja, é capitão. E eu gosto muito da vela, eu me identifico muito com esse universo mesmo que é da vela, de poder morar num veleiro, poder estar contato mais ainda com a natureza.
poder ter o potencial de exploração mesmo, de explorar novos locais que nunca foram explorados, que está ainda fazendo highlines lugares que ninguém nunca acessou. Esse é o meu projeto de vida futura que breve a gente vai estar com certeza executando, sem dúvida.
Joao Agapito (37:12)
Pô cara, que irado, só projetões assim, então pra quem quer te acompanhar, quem quer estar ligado nas suas próximas aventuras, onde que essas pessoas podem te seguir, como é são seus canais.
Michael Noal (37:25)
Cara,
eu e meu irmão, a gente tem canal do YouTube que pode seguir lá, que gente posta tanto o lifestyle mesmo, assim, como os sports que a gente pratica, como o nosso lifestyle, como vídeos de vela, vídeos também de a videoaulas também, De alguns pontos específicos. E também tem meu Instagram, que é o meu nome mesmo, MikaelNoal, que também eu posto coisas lá. Tem o Instagram nosso, o e do meu irmão também, que é associado a esse canal.
E basicamente é isso, velho. Basicamente é assim que a gente trabalha, no YouTube e no Instagram. A gente também tem uma página no Apoia-se, pra quando gente estiver velejando o mundo, a gente tá mais focado nesse direcionamento também.
Joao Agapito (38:05)
Pô, cara, que da hora. Muito obrigado por ter compartilhado mais sobre a sua história, sobre esportes, mais sobre projetos futuros. E é isso, velho. Muito obrigado e muito sucesso na sua jornada.
Michael Noal (38:17)
também, por dar essa oportunidade de poder estar contando pouquinho a história, a minha história com o slackline, mas não só também, Mas também de alguma forma inspirando novas pessoas a praticar esse esporte que mudou a minha vida totalmente, mudou a vida de tantos amigos, de tu ver, assim, pessoas que saíram de obesidade para pessoas super saudáveis ou de pessoas que tinham problemas com o alcoolismo.
hoje está dando aula para criança e, enfim, com as suas vidas assim, super iluminadas. Então é uma honra, assim, poder estar fazendo parte também dessa equipe do Record Brasileiro e é uma honra poder estar passando pouco mais desse, de toda essa bagagem que eu tive, assim, ao longo desses anos com esse esporte que é a minha vida. Eu acredito que é ele que me mantém no eixo aí para poder seguir.
evoluindo e emanando o amor para as pessoas e de uma forma através do esporte. Obrigado.
Joao Agapito (39:21)
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