Rádio Grilo

17. Jean Ouriques: Escalador com Mais de 40 Pódios, Coach e Route Setter

João Agapito Episode 17

O Jean Ouriques é escalador, coach e route setter. Durante sua carreira profissional, ele foi campeão brasileiro 4 vezes e acumulou mais de 40 pódios. Hoje ele está morando na Jordânia, onde lidera um trabalho de estruturação da escalada competitiva no país. 

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Joao (00:00)
Fala galera, sejam muito bem vindos a Rádio Grilo, seu podcast do Mundo Outdoor e no episódio de hoje a gente vai bater papo com o Aurichs, escalador, coach e root setter. Ele que já escala há quase 30 anos e durante sua carreira profissional foi campeão brasileiro quatro vezes e acumulou mais de 40 pods. Então hoje Jean está morando na Jordânia.

país que muitos não conhecem, mas fica ali do lado de Israel, no Oriente Médio, e ele está liderando ⁓ trabalho de estruturação da escalada competitiva no país. Então, a gente vai falar pouco mais sobre essa mudança, como que esse convite aconteceu. Vamos escutar sobre a forma como a escalada competitiva vem evoluindo no Brasil ao longo dos anos, escutar também sobre as nossas possibilidades de levar ⁓ atleta às Olimpíadas.

e muito mais. Eu gostei muito desse episódio e espero que vocês gostem também. Bora lá?

Boa! Então, Vigenia, você quer começar contando pra gente como é que você foi parar aí na Jordânia?

Jean (01:37)
Cara, essa história pra mim, ela... Podemos dizer, assim, ela ainda tá acontecendo, é negócio muito recente. Isso pra mim resume a escalada na minha vida. É o quê, velho? Escalada é conexão, são pessoas e é a coisa que mais importa na minha vida, é escalada, cara? É bizarro, é bizarro. Cara, eu fui ⁓ dezembro, novembro, a minha esposa, a Patti, ela tem ⁓ irmão, ela tem irmão que mora Abu Dhabi.

e nos Emirados Árabes. Ele é professor de Jiu-Jitsu nos Emirados Árabes. E a gente tem uma filha de ano e oito pra ano e nove meses. E ele teve uma filha também que nasceu, tipo, quatro meses depois da nossa. E aí, novembro, a Patti viajou com a nossa filha e com a minha sogra pra visitar. Ele lá ⁓ Imbiabudap. Cara, e a Patti, velho, escaladora, fanática, cara, academia, academia, caçou academia, onde é que eu vou escalar, não sei o quê, não sei o que é lá, conseguiu...

⁓ contato para escalar na academia da Sorbonne, que é a academia da faculdade francesa lá Abu Dhabi, que só escala galera que é da faculdade ou associado, convidado. Mas aquele sistema da estalada, cara, você vai falando, falando, falando sobre a brasileira, não sei o quê, conseguiu dia para escalar. ⁓ dia que ela foi escalar lá, ela simplesmente na hora que ela desceu do boulder tinha dois atletas, uma menina de 12 para 13 anos e cara de 17, 18 anos.

E a menina veio falar com ela, foi elogiar a escalada dela. Nossa, você escala muito pente, não sei o quê, começou a bater papo. Nisso, descobriu que os dois são da seleção da Jordânia, escalada. Ela falou, seleção brasileira, não sei o quê, começaram a conversar. E aí, depois, a menina perguntou pra ela, cara, no dia seguinte, no Instagram. Ou você não tem contato, a mãe da menina, você não tem contato nenhum treinador? Porque a seleção está procurando treinador. Aí a Patrícia falou, é, tem meu marido.

que me ensinou a escalar e treino uma galera. Aí me colocou ⁓ contato com a galera da Federação. ⁓ dezembro, cara, perto do Natal, eu fiz uma reunião com o presidente da Federação. E aí, aqui agora, fazendo o escopo pra uma possível mudança mesmo pra Jordânia, pra ser o head coach da seleção da Jordânia de escalada.

Joao (03:39)
Cara, que isso, assim, sem palavras, que loucura, e que loucura é essa coisa chamada vida? Cara, e assim, Jordânia, né, não é? Tipo, país, aposto que se você perguntar, sei lá, metade dos brasileiros vão saber apontar no mapa. 5 % dos americanos com certeza, então...

Jean (03:56)
Eu

chutaria que o americano talvez alguém conhece porque é do lado de Israel, né? E, velho, o brasileiro te falar que muita galera não sabia não, viu, Vana? Não é país que a gente fala muito, cara, mas é país assim... Eu confesso que eu sabia mais ou menos onde é que era, Oriente Médio, o país, cara, mas é país meio agro-histórico, assim, né, pra humanidade.

Joao (04:15)
Pois

é, tem Petra, é uma das maravilhas do mundo.

Jean (04:19)
É uma das sete maravilhas. Indiana Jones tem... Para a o escalador tem Vagyroom. Que eu não fui ainda, que eu vou daqui a uns dias. Cara, sabe aquele filme do Matt Damon que ele fica perdido Marte? Não. ⁓ é filme que é de livro, que é astronauta americano que vai fazer tipo uma colônia Marte. Que ele fica lá plantando batata, não sei o quê. E acontece tudo nesse deserto, na verdade, que aqui no Jordânia. E o Mar Vermelho, ele tem o nome de Mar Vermelho por causa do tom das pedras.

que são vermelhas e, cara, tem uma época do ano que bate a luz que reflete no mar e ele fica vermelhado por causa das pedras do deserto. Então, tipo assim, essas pedras, cara, tem muita via, tipo infinito, é 730 km² de deserto lotado de montanha, de pedra. Cara, e tipo assim, por exemplo, eu fiquei sabendo, o Alex Honnest esteve aqui umas três semanas atrás, tolou uma via de 14 cordadas. Então, tipo assim...

Tem vídeo do Magnus Mitbohr com a Sasha de Julian escalando uma via aqui, Invader Room e tal. Então tem uma cena de escalada, sabe? E aqui tem a primeira academia do Oriente Médio, que abriu há 14 anos atrás, entendeu? Então é uma galera que está envolvida, sabe?

Joao (05:31)
O que é isso cara? Eu tô muito surpreso com todas essas informações. assim, eu sabia que você tava na Jordânia porque a gente tava comunicando, que vocês, né, tipo, tá se preparando pra ser head coach da seleção. Que tem toda essa cena de escalada na Jordânia, cara, isso é muito novo pra mim. Cara, que da hora. Não, e desculpa minha ignorância, tipo, eu já vi, enfim, Petra, já vi essas construções e me parece essa tonalidade ser meio que barro, assim, nem passava pela minha cabeça que era de fato pedra, rocha, sólido.

Jean (05:58)
É, arenita. Cara, mas eles têm calcário aqui também no norte. Não conheço ainda, eu não estive na pedra. Eu estou aqui há uma semana e dois, três dias. Hoje foi meu primeiro dia de turismo. Foi o primeiro dia que eu consegui dar uma volta na cidade, dei uma caminhada, caminhei umas três horas e meio pela cidade hoje, no centro da cidade histórico, que tem uma parte romana, que aqui era colonizado por Roma, teve construções romanas aqui e tal.

Então, conheço pouco ainda, mas os caras têm calcário no norte, tem via esportiva, tem cara que eu já conheci, muito gente boa, que ele está fazendo logo depois... Vou ter campeonato dia 18 agora, de abril, que é ⁓ Open de guiado internacional aqui para região, e eu vou estar com o Mutsete. E logo depois do campeonato vai ter festival de boulder, que cara está fazendo o primeiro dia de boulder da Jordânia. Ele está abrindo ⁓ pico que é do lado do Mar Morto, que é uma hora daqui da capital.

Aí a gente vai passar dia lá, vai voltar e depois a vai passar três dias Vadirum. Que é esse deserto lindo e maravilhoso aí que é lotado de bodes, de vias e de tudo. Aí eu vou conhecer pouquinho mais da cena outdoor da Jordânia. Cara, assim, a oferta de trabalho foi muito legal. Não financeiramente, mas pela oportunidade, é muito legal de, cara, ser o head coach de uma seleção, é muito focada nos jovens, todo mundo treina no mesmo lugar, então assim, é bem legal a proposta. Mas velho, o que me fez aceitar...

Foi até uma cena de escalada, eu te adoro, né, cara? Se não me engano, foi minha terceira pergunta pra federação. Eu falei, como é que arrocha aí,

Joao (07:29)
É, porque a impressão que fala de Oriente Médio que vem à mente é deserto, Não passava pela minha cabeça que ia ter uma cena, oportunidade de fazer vias e boulders. Mas, Jean, então me explica porque tem a questão também que a Jordânia faz fronteira com Israel, E essa questão da segurança aí, como é que tá?

Jean (07:48)
Posso falar pela minha sensação uma semana e posso falar por tudo que eu precisei antes de vim pra cá, porque eu sou cara curioso. Eu devo ter assistido mais de quatro horas de vídeo sobre Jordânia, sobre a situação política e tal, antes de vim e li bastante. A Jordânia é país muito pacífico, é país neutro na região, é aquela galera ⁓ pouco parecida com a nossa política externa brasileira, que é o esquema neutro, não assume nenhum lado 100%, mas aqui na região, qual que é o grande problema com Israel?

O grande problema é a galera que não reconhece Israel como estado, entendeu? Só tem dois países aqui da região que reconhecem Israel como estado, que é a Jordânia e o Egito reconhece Israel como estado, mas o resto da galera não reconhece, entendeu? Essa aqui é a treta. Mas velho, da estrada que leva para o Genaso, que o Genaso ele é pouquinho no sul aqui da capital, de Amã, eu vejo a Palestina, que é conhecida como Cisjordânia. Cara, dá para ver. Tem vale, uma montanha, quando o dia está limpo...

Galera fala, olha, ali é a Palestina. Então, tem a Palestina, tem Israel, tudo aqui do lado. Mas, velho, aqui no dia dia não tem nada. A única coisa que você vê é campanhas de doação de alimentos, de água, sabe? Você vê algumas coisas nos lugares, assim, sabe? Mas, cara, não vi nenhum protesto, nada assim ainda. Como se não tivesse nada acontecendo. No meu dia a dia é como se não tivesse nada acontecendo.

Joao (09:11)
porque nos noticiários a nunca vê falando sequer a palavra, né Jordan? Então, imagino que, enfim, as coisas estão acontecendo, tipo, meio que tá ali do lado, mas também não tá, né?

Jean (09:23)
É, cara, foi uma boa explicação que eu dei até pra minha família e pros meus amigos. A galera perguntou, pô, e a segurança e tal? Aí eu fiz a referência, pô, no Brasil mora Belo Horizonte. Cara, eu tô a seis horas de carro do Rio de Janeiro, de São Paulo. Quando a gente vai ver, tipo, os números de violência velho de mão armada Rio de Janeiro, são números absurdos, né, velho? É porque a gente que acostuma. Aí eu vou pro Rio de Janeiro todo ano. Eu acho que é o famoso esquema aonde mora, né? Aonde você vai, saber o que faz...

Joao (09:52)
E tem aquela questão também, acho que gente como brasileiro a gente é treinado, a gente é safo. Eu morava num bairro aqui Berlim que é considerado como uma quebrada para os alemães, né? Eu falava para os caras, não, eu moro no Goelitz, todo mundo nosso aqui, isso quebrado. Bicho, aquilo ali para mim era ⁓ bairro comum Goiânia, entendeu? Então assim, a gente também está treinado e gente sabe como administrar isso, velho, a gente tem essa habilidade.

Jean (10:14)
É, cara, tipo assim, pô, eu andava com celular no bolso e carteira, e carteira no bolso, centro de Rio Janeiro, mais de uma vez eu já fiz isso. Aí eu lembro quando eu fui para Paris a primeira vez, cara falou, não, porque Paris não sei o quê, e aí a galera recomenda aquelas pochetes de dinheiro, né, os money belts. Nossa, eu acho aquilo extremamente incômodo, sabe? Aí eu falei assim, cara, eu duvido que é mais perigoso andar aqui com a minha carteira do que no centro de Belo Horizonte, no centro de Rio Janeiro, São Paulo, duvido. Mas assim, pô, velho...

Só ser safo,

Joao (10:46)
Sim, concordo. queria falar pouco de escalada com você. Temos que falar sobre escalada. Você começou 1996. Como é que a escalada começou para você?

Jean (10:57)
Isso, cara, comecei lá 96 com minha família, meu irmão mais velho com 16 anos na época. amigo dele, que jogava RPG com ele, dava curso de escalada. Aí ele achou legal, perguntou pro meu pai, pô, posso fazer? Comecei o meu pai e meu pai falou assim, não, você pode fazer, mas eu vou fazer junto. Aí ele foi ⁓ dia, no final de semana, cara, no outro final de semana jogaram a família toda. Pronto, e aí daí foi. E aí foi muito simples assim, foi com a família. Só que assim, a gente já era montanhista.

A gente já era de ir pra montanha, caminhar, de acampar. Meus pais já tinham essa cultura de ir pro mato, de viajar o Brasil com a gente e ficar nos cantos clubes. Então a gente já tinha essa cultura outdoor na família, de antes. E disso foi. ⁓ dois anos, minha mãe e meu irmão abriram uma loja de equipamento Belo Horizonte. Aí, velho, depois virou centro de treinamento. Eu comecei a dar aula de escalada com uns 15 anos, ajudando meu irmão.

Meu irmão conseguiu ⁓ sócio, aí abriu a Rokas, aí eu trabalhava na Rokas, até que, velho, tem a Rokas 2 hoje ⁓ dia, e aí foi, e aí competindo, participando das coisas, e aí é loucura.

Joao (12:06)
E a rocas, é princípio das academias de escalada que eu já fui no Brasil, é uma das mais daora. É bem completa, espaçosa,

Jean (12:15)
É, cara, valeu. Eu acho que parte do preço posto que é lugar que a gente gosta de estar também, né? E a gente sempre correu atrás de melhorar, sabe, Fendo? Com todas as dificuldades que tem, né? No mercado é difícil e tal. Mas, cara, sempre foi importante pra gente ser lugar massa de estar. A gente está e as pessoas estarem lá, sabe? O mais importante sempre foi as pessoas que estão na roca do que propriamente as coisas, sabe?

Tanto que durante a pandemia, isso me lembra muito durante a pandemia, muita gente falou, não, Jan, não sei o mas você está escalando, você tem a academia para escalar aí, tal, você não vai ficar sem escalar, não sei o quê. Eu ia na academia, cara, não conseguia escalar, porque não tinha vida, sabe? Na verdade, academia de escalada não são as paredes, cara, a academia de escalada são as pessoas que estão lá. No fundo mesmo, uma das coisas que são melhores escaladas são as pessoas que você encontra, que você conhece e que, velho, são essas experiências assim, para mim, que é muito legal, sabe?

Joao (13:11)
Sem sombra de dúvidas, é o que também te mantém motivado. Muitas vezes você não quer ir, pô, que isso. Meus amigos da escalada, Tem toda essa parte social envolvida.

Jean (13:21)
E

é engraçado porque parece que eu sou cara que fica só trocando ideia com a galera na academia e escalando, né? Normalmente quando eu estou escalando eu não troco muita ideia, sabe? Só que eu vivo academia, cara? Tipo assim, trabalho basicamente na academia escalada desde os 15 anos. Então quando eu treino eu estou treinando. Estou escalando ali, às vezes troco ideia com a galera durante o treino e tal, mas normalmente eu não fico interagindo muito. Mas o ambiente da academia é minha casa. Então a galera me pergunta, e aí, Jean, como é que está a academia aí na Jordânia? Porque basicamente eu estou trabalhando a seleção da treina dentro de uma academia.

E aí, como é que tá a vibe? E a academia e não sei o quê. eu tipo assim, cara, é normal, cara. É uma academia descalada. É tudo meio parecido. É tudo meio igual. Tem o Ruto Setter, tem o HL da recepção, tem o cara da recepção que é empolgado, tem o cara da recepção que não escala, entendeu? Tem ⁓ moleque mais novo, fissurado, aloprado, que fica perguntando de treino o tempo inteiro. aí, aí, aí, aí, entendeu? É tudo meio parecido. Muda os nomes, a cultura ⁓ pouquinho, cara, mas o ambiente é muito parecido no mundo inteiro. Isso é muito legal.

Joao (14:19)
e você tocou num ponto que eu já queria entrar que é o aspecto do treino né competições então enfim você acumulou mais de 40 pódios na sua carreira até onde eu pude pesquisar aqui então de todos esses pódios aí qual que foi o mais especial pra você aí porque

Jean (14:35)
Nossa, isso aí deve ser igual para pai que tem cinco filhos, você responder qual que o filho para de ler. Eu não vou conseguir falar o mais especial, porque tem alguns muito legais, por questões diferentes, Uns que eu lembro muito, assim. Foi o vice-campeão do Open da North Face no Chile 2013, atrás do Pico Ira, do Felipe Camargo, que foi muito épico, uma final, lá, velho, tinha, tipo, três mil pessoas na plateia.

É, velho, a gente deixou o Daniel Woods de fora da final. gente tinha uma galera forte.

Joao (15:08)
Que

isso cara, você deixou o Daniel Woods pra trás?

Jean (15:11)
Eu e o Luiz, eu o Camargo. O Camargo ganhou e eu fiquei ⁓ segundo, cara, colado nele, assim. Tipo, a gente fechou uma dupla brasileira no pódio 2013, tipo, velho. E tinha uma galera brasileira, sabe? Eu tinha levado vários atletas da rocas, a gente tinha, tipo, ido ⁓ quase 10 pessoas, e aí tinha uns outros brasileiros, então, assim, foi muito épico, assim, sabe? E a final foi muito legal, cara, muita gente competindo naquele negócio gigantesco, aquilo foi muito incrível.

Ganhar o brasileiro de via 2016, o meu primeiro brasileiro de boulder também, mas cara, o meu brasileiro de via 2016 foi muito legal, foi negócio muito marcante pra mim. E ganhar a etapa do brasileiro de 2018 ⁓ casa foi muito legal lá na rocas de boulder, foi muito legal, foi uma final com uma vibe incrível que isso eu posso falar, velho, isso aí não tem medo de falar, é melhor torcida do Brasil, é pelo horizonte. Todos os campeonatos lá, a torcida é animal, assim, galera grita muito, sabe? A galera grita muito.

São Paulo também é torcida muito boa, mas BH é muito mansa a torcida. Quem já competiu lá sabe que é muito legal. Mas tem vários outros pódios que são muito legais. Nossa, é difícil. Na hora que eu vou pensando, vou lembrando de vários. Foi tanto tempo, eu comecei a competir com 12 anos e parei com 35. Então, mais de 20 anos, foi 23 anos competindo.

Joao (16:32)
muito intensos né? Então assim, como é foi essa transição de atleta para treinador? No sentido de, o que que você sente como diferenças entre treinar si mesmo e treinar as outras pessoas?

Jean (16:44)
Nunca teve essa diferença pra mim, porque como eu comecei a dar aula com 15 anos, o maker sempre estava dando treino pra alguém, então eu sempre tive esse lado treinador junto comigo. E durante muitos anos eu tive nos brasileiros, por exemplo, atletas que eu treinava junto comigo competindo. Então foi uma transição de atleta pra só treinador, só root setter, muito tranquila pra mim. Ela foi muito fácil no sentido que... Eu gosto de falar, eu aposentei, eu não fui aposentar.

Eu decidi quando eu ia parar. Eu falei assim, esse aqui vai ser meu último campeonato. Eu vou parar agora, este ano. Então, eu já estava pronto para isso. Não só profissionalmente, até porque a maior parte da minha vida escalada nunca deu dinheiro. Fico muito feliz que hoje a galera tem bolsa atleta, tem bolsa da seleção, consegue ter mais apoio. Mas, durante a maior parte da minha vida, não tinha dinheiro proveniente do que eu escalava.

Tinha provenientes do que, cara, eu trabalhava como multisséteto, que eu trabalhava como treinador. Profissionalmente, a minha vida já estava ali. Só precisava voltar para esse lado. Mas uma diferença foi que durante muitos anos, eu, cara, simplesmente dava aula no ginásio, dava aula para a galera, ia treinando a galera, ia pegar atleta ou outro que a galera queria treinar. E nos meus últimos anos, como eu comecei a dedicar mais, pude dedicar mais para competir mesmo, eu comecei a selecionar quem eu ia treinar mais, a galera de competição e tal, e eu me virei...

é quase que 100 % pra esse público entendeu? A galera que quer mais desempenho, a galera que... Eu gosto de falar assim, não necessariamente a pessoa que escala muito, mas a pessoa que quer treinar, a pessoa que quer realmente assim, se dedicar a escalar melhor, sabe? Não necessariamente competir ou mandar velho, 11º grau, 10º grau, mas a pessoa que quer melhorar mesmo.

Joao (18:30)
E aí

você comentou que foram 20 anos aí na cena de escalada de competição, agora você como treinador, então você viu e viveu muita coisa. Conta pra gente pouco mais sobre como que a escalada brasileira evoluiu ao longo desse tempo. Você contou que hoje os atletas também têm bolsa, têm o incentivo financeiro, mas assim, para além do aspecto financeiro.

Jean (18:51)
Nossa, mudou muito, velho. A gente teve, cara, vamos dizer... Eu não posso falar que eu participei da primeira cena de competição brasileira, foi, cara, final dos anos 80, começo dos anos 90, mas, eu peguei o final dos anos 90, começo dos anos 2000, que foi ⁓ boom da escalada, teve muito grande termos de competição, sabe? Por vários aspectos. Aí é difícil porque teria que ser uma pesquisa científica e tal, mas, assim, na minha opinião, teoria, baijã, orix, os campeonatos, eles eram muito legais.

porque era uma coisa nova, então tinha muita novidade envolvida. Não se era tão complexo fazer os campeonatos como é hoje dia. Não era uma exigência você ter certo nível de agarras, de estrutura, de capacidade dos juízes, dos guttseters. Era esquema que uma estrutura amadora conseguia atrair muita gente forte do Brasil inteiro. E aí, a outra coisa que também acho que os campeonatos bombavam muito, porque tinha muita gente competindo nessa época. Mas não era que o nível era muito alto.

Se você comparar com hoje, então nível era baixo, bem mais bar. Mas, cara, tinha o esquema da reunião. Era o momento de encontrar com todo mundo. Eram os eventos que existiam na escalada nessa época. Final dos anos 90, começo dos anos 2000, eram os campeonatos. Não existia festival na rocha, não existia, velho, site, não existia Instagram, não existia nada. Então, pra você saber o que estava acontecendo, pra você conhecer as pessoas, pra você ver ali...

fazer amigos para você saber o que é que a galera está abrindo, aonde, que vias que estão sendo encadenadas, você tinha que ir nos campeonatos, porque aí você ia encontrar as pessoas. Então era uma grande celebração, sabe? A escalada era uma grande celebração isso. Pensando assim, tem ⁓ pouco a vibe que os festivais de boulder têm hoje na pedra, entendeu? Que a maior parte da galera estava indo muito mais lá pela confraternização, competir e tal, mas estava falando na festa depois.

Tu ir para a pedra três, quatro dias depois, aproveitar que o campeonato é no Paraná e eu vou para São Luís, tu por Unã, aproveitar que o campeonato é Belo Horizonte, eu vou para Serra do Cipó, aproveitar que o campeonato é no Rio, eu vou ficar lá escalando, entendeu? Tinha muito mais isso, então parecia mais esse tipo de evento. E aí a gente teve a queda, cara, que foi ali a partir de 2004, 2005, 2006, que começou a ter menos gente competindo, os campeonatos começaram a tentar ficar mais profissionais, a galera começou a ir para as Copas do Mundo.

Aí, pra mim, aí vem a minha segunda teoria, né? A outra teoria que é, primeiro, uma galera começou a se dedicar mais, então a gente teve os primeiros atletas, que a galera começou a comer, dormir, tem essa ação escalada, sabe? Dedicando a vida pra escalar, então eles começaram a subir o nível, então não era mais fácil, tipo, você tá treinando muito bem e competir bem, cara, você tinha que estar num nível de dedicação muito mais alto, que aí a gente, velho, pode falar que era época do Belê, do Sezinha.

Eles começaram a explodir, de jogo Ratacheski, velho jogo até antes pouco, assim, Camargo, Felipe Camargo, pouquinho depois, nível começou a muito diferente. E aí eu acho que isso desmotivava a galera que estava indo nos campeonatos só para fazer número e também perdeu o quesito novidade, Vento?

Perdeu o quesito novidade, já não era tanta novidade mais. E os campeonatos com a abertura da Caixa de Pedra e tal, os campeonatos começaram a ser mais São Paulo. Não era tão atraente, assim, às vezes, porque não ia ter escalada depois. Mas isso é uma teoria da minha cabeça. Posso estar 100 % errado e eu acho que perguntar para o Belê, para o Sésinha, para outras pessoas, a galera vai ter uma opinião. Para a Giannini, vai ter uma... Eles vão saber de mais detalhes e até vão ter outras opiniões. E aí, cara, começou uma época a tentar se reerguer aos campeonatos.

passou tempo aí patinando, brasileiro, tal. A gente chegou até três etapas, quatro etapas de brasileiro por ano. E aí, porra, foi patinando, patinando, patinando, patinando, patinando, patinando, patinando, entre melhoras ano, pior o outro, até, cara, que a gente chegou no que eu considero fundo do pouso, que foi 2012, 2012 a gente teve três etapas de boulder, praça pública, feitas pela CBME, e aí a gente teve uma etapa de via na rocas.

E eu escutei de vários atletas falando que não precisava ter o campeonato de via porque já tinha tido três brasileiros de boulder no ano. E você fala, pô, a galera tá pensando assim, cara, mas são duas coisas diferentes. Então a galera tava satisfeita de não ter muito campeonato. E aí 2013, isso causou muitas coisas, 2013 não teve campeonato. Não teve campeonato brasileiro. E aí 2014 se fundou a AB. E aí o intuito inicial da VE...

Eu não participei da fundação, cara, mas eu participei das reuniões, assim que abriram. Se a veio não competir 2014, porque 2014 eu tava out, assim, eu tinha falado pra mim que eu precisava fazer outras coisas na minha vida, assim, dar ⁓ out, dar respiro. Aí 2014 a ABS firmou do tipo, cara, vou fazer campeonato de boda e campeonato de via todo ano. Aí isso aconteceu 2014, 2015, eu não participei desse campeonato, eu participei só de campeonato 2015, São Paulo, na Paulista, no prédio da Gazeta ou da Red Bull.

E aí, continuava estalando rocha e mais envolvido. Treinava a galera que ia pro campeonato, tava ali envolvido. E aí, janeiro de 2016, aí eu posso falar quando que eu pulei, assim, uma mudança grande. Janeiro de 2016, a CBME tentou fazer campeonato brasileiro no Rio de Janeiro, na Beira-Má, evento gigante e tal. E eu fui. Porque final de 2015, eu falei, não, vou voltar a competir, porque 2016 eu ia fazer 30 anos. E eu tenho uma regra na minha vida que é tipo, cara, se imagine daqui a 10 anos...

olhando pra onde você tá hoje. Tem alguma coisa que você só pode fazer hoje que você vai se arrepender de não ter feito dez anos? E esse é dos motivos, por exemplo, que eu animei de vir pra Jordânia. Porque eu vou fazer 40 anos ano que vem, cara, e com 50 anos eu não animaria de mudar de país. Então eu quero tentar. Velho, eu não sei se vai dar certo, daqui a ano, dois anos eu vou virar e falar assim, velho, voltar pra Brasil, Brasil é minha casa, ou não, ou se vai dar certo, onde isso vai me levar. Mas independente do resultado, eu quero daqui a dez anos olhar pra trás.

e falar assim, eu tentei. Pode não ter dado certo, mas eu tentei, não me arrependo. E aí eu fiz isso com competição.

Joao (24:50)
Entendi.

E que baita filosofia de vida. Você aponta dos aspectos aí também que era questão do número de competidores, não tinham muitos competidores, função do esporte não ser muito popular, mas para além disso, eu também sou curioso com relação ao Setin, assim, você que é cara que tem uma experiência internacional, então como você vê a diferença do Setin hoje no Brasil para o que você vê na Europa, Japão?

Jean (25:12)
Depende. Qual setting você fala? Das academias que estão com Routes Setters? Das academias que tem só quem está instalando de graça cetano? Ou das competições?

Joao (25:24)
É, eu pergunto de uma maneira geral assim mesmo, tipo, a academia, a rocasla do Japão, quão diferente, e a rocasla de arco, quão diferentes essas três rocas são?

Jean (25:34)
Velho, não, seria bem diferente, né? Porque até eu acredito quando eu tive meus... Eu teve dois anos que eu viajei para a Europa como escalador profissional e fiquei treinando muitas academias aí, Dei rolé, e tal. Cara, tipo assim, se você escalar na França, do Setien é Se você escalar na Alemanha, tipo, do Setien é outro. Na Áustria vai ser outro, na Itália é outro, na Suíça é outro. Tem escolas muito... Estados Unidos é o... Assim, mas eu diria que dá pra separar... Eu não... Eu nunca fui no Japão. Acredito que lá dá pra ser uma também.

Mas eu acredito que, no mínimo, gente tem três escolas grandes de setting, de estilos muito definidos pelo menos há uns anos já. Alemanha, França e Estados Unidos. Estados Unidos sempre foi mais marcado pelo físico dos bolders mais velhos. Físico, menso, intenso de físico, bolders compridos e tal. Obviamente que isso tudo hoje dia é mais misturado. Você encontra tudo todos os lugares. Globalização, internet, tem mais intercâmbio, mas assim...

O tipo assim, tradicional, esse bode no lugar, cara, eu diria, Estados Unidos, saía o físico. Alemanha, mais dinâmico. Eu senti muito isso quando eu escalei na Alemanha. Cara, são mais dinâmicos. O set era diferente, cara. Eu sentia assim, eu não sentia assim. minha ⁓ França é técnico demais, velho. É muito perruem, muito perruem. Eles não têm problema com agarras ruins de mão, não anatômicas, posições estranhas.

Principalmente, então assim, puxa muito pro lado, cara, que lembra muito mais até ⁓ alguns momentos você escalar na pedra. Não é confortável, é meio estranho algumas coisas, entendeu? É.

Joao (27:12)
E

a já visto Fontainebleau, nunca fui mas dizem que os pés, a garra de pé não existe né?

Jean (27:17)
Exatamente.

Então, eu acho que vem dessa escola aí. A escola de Boulder deles é essa. A escola de Boulder da Alemanha é outra. A escola de Boulder dos Estados Unidos é outra. E isso, eu acho, influencia vias também tudo, entendeu? Agora, comparando com o Brasil, cara, eu acho que é diferente, assim. Eu acho que cada lugar tem pouquinho sua essência ali, porque como a gente ainda é muito novo no esquema, foi muito cada sozinho no seu canto, evoluindo, entendeu? E chegando a algum lugar.

Mas, cara, termos de competição hoje, o Brasil, velho, a gente está muito bem. A gente está indo super no caminho certo. Não falo isso por mim, mas pelo feedback que eu participei, que eu estava junto, e pelo feedback que meus amigos o Rutsetter recebem de quando a gente recebe o Rutsetter gringo lá no CT da CBE, que tem nível. A galera tem nível. A gente tem nível de capacidade criativa. A gente não está no nível ainda.

Eu acredito de capacidade 7 Copa do Mundo, que tem nível de escalada muito alto. Mas, cara, de capacidade criativa a gente tem. Material lá no CP já tem. Então, tá lá. galera tá... Material humano a gente tem, velho. A tem 200 milhões de pessoas. Material humano a gente tem. A precisa de infraestrutura. Mas a gente via, as infraestruturas hoje dia já existem. Então, eu acredito que há uns cinco anos, começou pré-pandemia, cara, mas durante a pandemia, eu acho que a gente deu saltos...

quânticos de qualidade set no Brasil. Eu acho que a gente melhorou muito rápido. Até a Sexta, a Agarras, e tal. Mas da maneira de pensar o set, acho que hoje a tem várias pessoas que têm nível de compreensão do que é colocar uma escalada na parede muito maior do que se era cinco anos atrás. Isso é muito bom. Isso é até porque eu comecei a dar aula de escalada antes de virar root setter. Eu virei root setter antes de root setter existir.

todo tipo assim, belezinha dessa época e tal, tipo assim, porque não se existia o Rutsetter, era só o cara que pôs a garra na parede. Depois que virou, mas eu comecei a montar coisa na rocas antes de abrir, então tem tipo quase 18 anos que eu coloco pedrinha na parede. Mas velho, eu tenho motivo muito claro por que eu sou Rutsetter, por que eu gosto de ser Rutsetter e por que eu virei Rutsetter, que é o motivo de ser treinador, o motivo de dar aula. Eu dava aula no centro de treinamento que era no máximo quatro pessoas por hora.

Então, era basicamente aula. Eu conversava com todo mundo, e ajudava todo mundo a evoluir. Todo mundo que ia lá, eu conseguia ajudar a escalar melhor. Só que quando eu fui trabalhar na rocas, ⁓ espaço de 70 vias inicialmente, tinha 60, 70 vias inicialmente, mas hoje dia tem capacidade para 90, para 90 ter poucas vias. Boulder. Não sei o quê, abre de 7h da manhã, 10h da noite. Eu falei, Bela, não tem como ensinar todo mundo a escalar. Não é uma escola. E mesmo se a gente for ensinar todo mundo a escalar, eu não vou conseguir ajudar todo mundo.

Então, o que eu refleti e falei, velho, o que é que eu posso fazer para, obviamente, ter alguém para colocar via, eu já ia colocar, mas foi tipo a primeira coisa que eu senti do seting, para mim foi isso, Cara, o que que eu posso fazer que eu posso ajudar a galera a escalar melhor? É montar vias mais técnicas, é montar bodas mais técnicas, é oferecer coisas diferentes, pensar e ter intenção naquilo ali que eu monto, né? Do tipo assim, cara, é colocar para é pequeno.

Sabe? É colocar a movimentação mesmo coisas mais fáceis. E aí você tá ensinando a pessoa a escalar. Então eu tenho muito isso na minha cabeça que a coisa que eu acho mais legal do setting é a sua capacidade de tocar a escalada de alguém, de fazer parte da escalada de alguém, da história dela, sem essa pessoa nem precisar te conhecer pessoalmente. E sem nem ela saber se é o nono. Mas você tá participando como outro setting. Eu acho isso muito legal.

Joao (31:01)
Eu acho muito da hora ver o quão você genuinamente ama o que você faz. Dá pra ver pela forma como você fala. coisa que você comentou, Que quando você começou como rootsetter nem era uma profissão ainda no Brasil, mas eu não tenho dúvidas, que é uma questão também de tempo. hoje, por exemplo, aqui na Alemanha, os rootsetter, os caras são popstars. Na academia tem os caras que tiram as agarres e tem os rootsetter, entendeu?

Os Roots Setters geralmente são os caras que só chegam lá pra colocar e tipo, a maioria nem dá bola pra galera. É uma profissão meio que bem prestigiada, assim. Você consegue fazer uma grana boa. Então assim, pra mim é só uma questão de tempo pra ser no Brasil.

Jean (31:42)
Não, mas Brasil nas academias grandes que pagam os root setters, porque tem isso, tem academia que não paga root setters no Brasil ainda. Mas cara, a academia que paga root setters no Brasil, por exemplo, na Rocas. Na Rocas tem equipes root setters lá que eu deixei. A tem seis ou sete pessoas. Tipo assim, a galera ajuda a desmontar e tal, cara, mas a tem a galera que lava. A gente tem a galera que só desmonta. A galera chega assim, velho. Pô, chega pra montar...

E é isso, galera, velho, já é meio assim, sabe? Obviamente eu deixei uma cultura mais do cara, pé no chão pra todo mundo e tal. Cara, mas isso eu já vi demais, assim, já vi demais. E cara, aí já vi tanto que a galera trata muito bem os roots setters, mas quanto também os roots setters se acham muito superiores a galera, sabe? Tipo, eu sou roots setter, eu sou mega blaster ultra fodástico, ser, pronto, nem aí pra você, cliente da academia, do dia dia, e a galera esquece que na verdade...

Só tem o Rute 7 porque tem o escalador, né?

Joao (32:36)
É, e hoje é então assim só para a não perder o fio da meada a gente tá falando sobre competições sobre Brasil então assim quais são as suas expectativas se você acha que dá para gente emplacar algum atleta Los Angeles 2028

Jean (32:50)
Cara, eu acredito que sim. Agora, principalmente que agora é oficial a separação, já era esperado a separação. Desde que separou para Paris, quando eles anunciaram dois anos antes Paris, ia separar, ou três anos que ia separar já o Speed, já se falava que Los Angeles eles iam conseguir as três. Porque os números de stream eram bons, a gente deu sorte de que Tóquio falou que queria escalada, Tóquio aceitou.

E aí, cara, a gente deu a sorte de ser Paris, na sequência, que é país muito forte. E, cara, assim, gente quer escalar e a gente quer espetáculo melhor, então a gente quer separado, cara, e Los Angeles, porque os Estados Unidos pegou duas medalhas, né, cara? Então, assim, a gente deu uma sorte na sequência de países, porque, velho, depois, Austrália, 2032, né? Se eu não me engano.

Joao (33:37)
e se ele pegou? Não sei. Não sei.

Jean (33:39)
Mas vezes, velho, de repente se não acontecesse agora, de repente não iria acontecer para a próxima, entendeu? A gente deu sorte, a gente pegou três comissões olímpicas, três comiteis olímpicos muito favoráveis para a escalada. Cara, eu acredito que sim. Eu acredito que a gente já tem atleta de nível para ter estado ⁓ Paris, de nível de treino, de nível de capacidade técnica, capacidade física. A gente ainda não teve atleta com capacidade de execução, de entrega. Atleta que chega e entrega.

Isso a gente ainda não conseguiu produzir como país. Mas, cara, é processo, né? Virou Olímpico no mundo inteiro, não virou Olímpico só no Brasil, né? Da mesma forma que o Brasil conseguiu mais erva, conseguiu fazer centro de treinamento agora, que vai começar a muito usado. Dessa mesma forma que a gente está conseguindo evoluir muito, cara, todos os países viraram Olímpicos. Todos. Os Estados Unidos não tinha nenhum centavo do governo americano. Hoje dia já tem. Antes dos Estados Unidos, cara, antes de ser Olímpico...

Todos os atletas americanos que competiam Copa do Mundo, Campeonato Mundial, eles iam com recursos próprios. Depois que virou o Olimpo, a galera começou a a seleção, começou a mandar a galera. Então assim, cara, França já tinha dinheiro e tal. Então assim, todo mundo começou a ter dinheiro, todo mundo começou a treinar mais. Então o nível subiu mais. Você começou a ter mais dinheiro para a comissão técnica, você começou a ter mais dinheiro para a velha comissão médica. Você foi dando melhores condições para os atletas.

E a galera já tava velho, não sei quantos passos, gente... Puf, chegou agora no negócio. Então, demora tempinho. E a nossa classificação ainda não saiu como que vai ser 2028, né? Porque o nosso caminho até Tóquio, o nosso caminho até Paris, cara, ele foi muito duro. Porque a gente tem ⁓ continental muito forte. O nosso continental é muito forte, o nosso continental é a América toda, entendeu? Assim, o meu sonho como treinador, como ex-atleta, é que a gente tivesse uma federação...

América do Sul e uma federação América do Norte. América Central e do Norte ou América Central e América do Sul e América do Norte. Mas separar a gente dos Estados Unidos, esse é ótimo pra gente. Se a gente conseguisse uma vaga ali. Porque aí a gente ia conseguir ter representatividade. Mas isso não acontece hoje, então o nosso caminho é muito difícil. Eu participei da seletiva olímpica de 2020 no Panamericano, Los Angeles. O homem que ganhou, sabe quem que foi? Colin Duff.

cara foi finalista Tóquio e foi finalista Paris. Entendeu? Tipo assim. O cara que copiou pelo Pano Americano, velho. Pô, mano. Entendeu? Então o nosso caminho é muito difícil, Agora compara com... Compara com a Oceania. É campeonato nacional da Austrália, velho. Entendeu? Tem ali a Nova Zelândia, mas que também não tem ninguém... Não apareceu ninguém ainda. Aí, África. África é a África do Sul, velho. Não tem mais nada. Não tem uma cena de escalada forte.

Então, é basicamente a África do Sul, é basicamente campeonato da África do Sul. Só assim, cara, a gente tem, velho, Pan-Americano, Euro-Tel, Africano, Asiático e Oceânia. Cara, tem dois que são extremamente mais fáceis que os nossos. Cara, a gente tem... O nosso não é tão difícil quanto a Europa, contra o Ásia. Contra o Ásia, então, nem se fala, que você tem o Japão, com a Área do Sul. Cara, mas assim, eu diria que é tipo meio Ásia, porque, né, Europa...

é mais dividido, as potências. Você tem França, Espanha, Alemanha, Áustria, Esovênia, Inglaterra, que é uma galera ali que, velho, dependendo da geração, não está ganhando o outro. Cara, Ásia, mano, é o Japão, e a Coreia do Sul, tenta ali, e Indonésia e tal, cara, no Speed. Mas assim, basicamente você está lutando contra o Japão. Parece o nosso caso aqui, nas Américas, que cara, aqui é todo mundo contra os Estados Unidos.

Aí você bateu ⁓ americano, velho, tem canadense ali, opa, peraí, deixa eu chegar aqui. Pô, velho, é foda, mano. Você tem que dar sorte de todo mundo classificar pelo Mundial, pela Clasificatória Olímpica, de que na hora que chegar no Panamericano, Estados Unidos e Canadá tem preenchido de todas as vagas. Ou do Canadá tá numa geração ruim. Aí, por exemplo, no último Panamericano de Clasificatória, para Paris, sabe quem que é a menina que classificou? Nathalia Grossmann.

Joao (37:50)
apenas já foi campeã mundial.

Jean (37:53)
é, segundo lugar, o Bruggera Butu, a medalhista de prata. Pô, mano, aí você imagina, Argentina, Brasil, Chile, Equador, que são as maiores potências, lutando contra essa galera. Não dá, mano, não dá, entendeu? Então, torço é pra gente, com isso, ter mais vaga, sacou? Não só a divisão, a divisão é ótima. Tem que ver se vai continuar com o mesmo número de 20 atletas por categoria. E, velho, e quando que a gente vai passar a ter 30 vagas vez de 20, sabe? Isso vai ser muito legal.

Joao (38:22)
Mas eu espero que seja só uma questão de tempo e de uma maneira geral também me deixe esperançoso a forma como você disse aí de toda essa construção, a forma como evolui a escalada brasileira. cara, torço muito para que pelo menos atleta brasileiro se classifique para 2028 e tomara que você consiga levar alguém na Jordânia também, né, ia ser o melhor dos mundos.

Jean (38:41)
Não,

mas se o Brasil é caminho tortuoso, cara, para a Jordânia é bem mais difícil. Eles estão assim, tirando com o esporte olímpico, eu diria que eles são o Brasil uns 10 anos atrás. A estrutura ainda tem muita coisa para mudar aqui. Isso é negócio também que me deixou empolgado. Eu posso contribuir a lugar que eu cheguei e que eu estou sentindo que eu posso contribuir muito. Se a galera está parecendo animada de querer fazer acontecer, sabe, cara, mas só para você ter uma curiosidade.

Faz cinco anos só que tem campeonato de escalada no Jordânia e nunca teve nenhum campeonato nacional. É sempre ⁓ aberto, open internacional para convidar todo mundo para ter mais gente. assim, não existe, nunca existiu ⁓ campeão e campeã da Jordânia de escalada. Os caras já têm uma seleção de jovens, que é basicamente uma seleção juvenil, que é que eu estou treinando. Os caras já têm trabalho de base, eles já têm essa visão de fazer trabalho de base para levar a galera daqui para lá.

Mas, velho, ainda não tem campeonato nacional, tem umas lacunas, entendeu? Então, remando muito. Mas eu tenho uma atleta, que é a Laura Timo. Não sei se conhece que a Laurinha, campeã brasileira, tal, tá na seleção. Ela tá indo fazer intercâmbio nos Estados Unidos agora agosto. A gente já conseguiu, ela já começou a treinar com treinador novo, que eu que treinei ela, velho, durante seis, sete anos, né? Foi bem difícil a separação, assim. Tipo assim, velho, tô indo pra Jordan e receber uma proposta que eu tenho que ir.

Mas a gente já estava no esquema dela ir para os Estados Unidos agosto fazer o intercâmbio. E a gente já estava na procura de treinador para ela treinar ⁓ Loco lá. E ela está indo fazer intercâmbio South Lake City. Já começou a treinar com uma pessoa lá. Mas eu tenho uma concordância com ela, que é tipo, se for rolar 2028, se ela conseguir, velho, eu vou fazer uma tattoo da Olimpíada para ela. Eu tenho uma tattoo da minha filha que eu fiz, cara, uma semana antes de vir para a jornada. Mas, cara, se eu conseguir ter treinado seis anos uma pessoa,

que velhinha, focou muito, a gente focou muito, do tipo, nosso foco do treino era o 2028, a gente tava no caminho certo 2028. Cara, se ela conseguir, cara, vai ser épico, assim, pra mim. Como treinadores, ter ajudado ela vai ser muito épico.

Joao (40:46)
Que é isso, cara? Que incrível. vamos lá. Você está trabalhando com a seleção da Jordânia. Trabalhou na preparação da Laura, que pode, quem sabe, entrar nos próximos Jogos Olímpicos. Tem a sua filhinha, que imagino que também ainda seja neném. Muita coisa boa para futuro para esperar. conta para a gente pouco mais sobre os seus planos futuros. O que você está esperando. Enfim, gostaria de compartilhar com a gente.

Jean (41:13)
É, velho, eu tô nesse passo da minha vida aí que eu tô querendo experimentar o fato de morar fora do país e ir trabalhando com escalada por vários motivos, assim, durante a minha época de Copa do Mundo eu recebi propostas de trabalho na Europa, como o UTSETE, e não aceitei pelo fato de ser atleta, que eu tinha que estar no Brasil, velho, de não ter... O fato de ser atleta, cara, eu acho que no momento eu não tava num momento de dar esse passo, eu não consegui dar o passo, assim. E agora chegou nesse momento que eu falei, velho, agora ou não...

Apareceu a oportunidade, vou abraçar, vou adjampar nela. Mas eu já tava muitos meses conversando com minha esposa do velho. Pô, eu gosto muito de onde eu trabalho, eu amo muito a rocas, eu gosto muito da galera aqui. Mas eu tô precisando, português, claro, de sentir a água batendo na bunda, entendeu? E de desse movimento grande, desse esquema, cara, que você mora fora, cara, de tentar sentir essas coisas.

essa solidão, esse ânimo, esse movimento e fazer isso. E minha filha nasceu e... Cara, se eu fizer isso daqui há cinco anos, vai ser seis anos, sete anos, vai ser muito mais difícil. Quanto mais velho ela tiver, mais difícil é fazer o movimento. Velho, tem várias coisinhas no meio que eu quero cumprir, mas elas são muito dependentes de outras pessoas, então eu nem penso muito nelas. O que eu mais quero, na verdade, é quando minha filha tiver 10, 11 anos, eu esteja morando num lugar...

Se eu não voltar para o Brasil, se eu realmente gostar de morar fora, eu quero estar morando num lugar onde minha filha consegue ir para o colégio sozinha. É isso.

Joao (42:43)
Nossa, primeiro parabéns pela coragem, cara, você fazer esse movimento de sair do Brasil onde você tem uma vida, uma carreira consolidada, com esposa, filhinha pequena, né, para país no Oriente Médio, para baixa desafio como esse, não é para qualquer então parabéns pela coragem e cara, desejo toda a sorte do mundo para vocês aí nessa empreitada.

Jean (43:03)
Valeu, cara, valeu!

Joao (43:05)
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